Puxado pela agropecuária,
consumo de água deve crescer 24% em 11 anos.
Projeção da Agência Nacional
de Águas (ANA) é de que o consumo total no país ultrapasse 2,5 milhões de
litros por segundo até 2030.
Somente a agricultura
irrigada utilizou mais de 1 milhão de litros por segundo em 2017, ou seja, 52%
do total retirado.
O consumo consuntivo de recursos hídricos (que
inclui o consumo de água para irrigação, uso na indústria e o abastecimento
humano) no Brasil deve aumentar 24% até 2030, e a maior contribuição
proporcional é da agropecuária. A projeção consta do Manual de Usos Consuntivos
da Água no Brasil, divulgado esta semana pela Agência Nacional de Águas (ANA),
e tem como base o período evolutivo de utilização da água desde 1931, passando
pelo atual momento, até 2030.
Projeção de demandas de uso da água no Brasil, por setor (%) e total
sem considerar a evaporação dos reservatórios.
Segundo o documento, em 2017,
último ano em que os dados foram coletados, a agricultura irrigada e o
abastecimento animal representaram 60% do consumo dos recursos hídricos
nacionais disponíveis.
Isso significa que em 2017 foram utilizados 2
milhões e 83 mil litros de água por segundo no Brasil. Somente a agricultura
irrigada utilizou mais de 1 milhão de litros por segundo naquele ano, ou seja,
52% do total retirado. Já o abastecimento animal foi 8% do total e diz respeito
à água usada nas estruturas de bebedouros, lagos, ribeirões, açudes, criação e
ambiência. Para 2030, a projeção é que o consumo total no país ultrapasse 2,5
milhões de litros por segundo.
O rebanho bovino, no que
tange o abastecimento animal, é o que utiliza mais água: 88% daquilo que é
retirado anualmente.
Em 1931, foi registrado o uso
de apenas 131 mil litros de água por segundo no país. O aumento progressivo da
utilização dos recursos hídricos nos últimos 88 anos demonstra que o potencial
de expansão desses índices é elevado. Somado a isso, está o fato de a Agência
projetar a incorporação de em média três milhões de hectares produtivos
adicionais até 2030.
Para o diretor da Agência
Nacional de Águas, Marcelo Cruz, os dados levantados são fundamentais para
nortear não só ações de gestão, planejamento e investimentos necessários para
evitar a escassez dos recursos hídricos, mas também para assegurar os ganhos do
setor produtivo. “Esse estudo é para antecipar, do ponto vista da gestão dos
recursos hídricos, a compatibilização dos usos consuntivos, propiciar
equilíbrio entre a oferta e a demanda nas bacias hidrográficas e, é claro,
gerar a garantia hídrica para o desenvolvimento econômico do país”, completa.
Cruz ainda destaca a
importância do monitoramento constante das áreas irrigadas. A ANA, em parceria
com a Conab e a Embrapa, mantém atualizado o Atlas Irrigação, levantamento que,
além de elencar as áreas irrigadas brasileiras, também aborda o potencial de
expansão no uso da água.
Foco no consumo
A cana-de-açúcar é a cultura
de maior área irrigada do Brasil. O arroz cultivado sob inundação apresenta a
segunda maior área irrigada e responde pelo maior consumo de água.
São Paulo representa 37% do
uso consuntivo da água para o cultivo na cana, seguido de Goiás, demais
unidades da federação, Minas Gerais e Alagoas.
O estado de São Paulo
representa 37% do uso consuntivo da água para o cultivo na cana, seguido de
Goiás (19%), demais unidades da federação (19%), Minas Gerais (17%) e Alagoas
(8%). Já o Rio Grande do Sul tem a maior utilização devido ao tradicional
cultivo de arroz sob inundação: 78% do total retirado. Em seguida aparece Santa
Catarina, com 10% de uso, sendo que os demais estados representam 7% e, por
fim, o Tocantins com 5%.
O rebanho bovino, no que
tange o abastecimento animal, é o que utiliza mais água: 88% daquilo que é
retirado anualmente. Os suínos exigem 5% do total, enquanto aves, equinos,
bubalinos, caprinos e ovinos usam 2% cada.
Segundo o levantamento da
ANA, entre 2017 e 2030, com a perspectiva de expansão dos rebanhos, o uso da
água em direção à Amazônia Legal também deve aumentar. Por outro lado, a
tendência é que diminua em municípios do Centro-Sul. As cidades que registraram
maior uso para abastecimento animal em 2017, foram: São Félix do Xingu (PA),
Corumbá (MS) e Cáceres (MT).
Medidas de hoje
O aumento de 24% no uso consuntivo da água
previsto até 2030, segundo o superintendente de Planejamento da ANA, Sérgio
Ayrimoraes, enseja atenção e medidas imediatas. Na prática, explica, é preciso
focar esforços para equilibrar o uso por meio de gestão, investimentos em
infraestrutura e aprimoramento de instrumentos regulatórios – tais como as
outorgas de direito de uso de recursos hídricos e licenciamentos ambientais.
Rio Grande do Sul tem a maior
utilização devido ao tradicional cultivo de arroz sob inundação: 78% do total
retirado.
Segundo ele, a reservação de
água se apresenta como uma medida estruturante que contribui para equacionar
potencial problema de falta de água para as atividades agropecuárias. “Os
grandes irrigantes usam tecnologia de ponta, mas o Brasil tem uma diversidade e
quantidade significativa de pequenos e médios irrigantes e isso exige esforços
para capacitar, orientar, a utilização de métodos e práticas mais eficientes na
irrigação”, conclui.
Além da agricultura e pecuária, os principais
usos consuntivos da água no Brasil são o abastecimento humano (urbano e rural),
a indústria de transformação, a mineração, a termoeletricidade e a evaporação
líquida de reservatórios artificiais. (revistagloborural)
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