SP: Projeto Aquapolo, projeto
de produção de água de reuso, transforma esgoto tratado em água industrial.
O Projeto Aquapolo é um marco
na história do Saneamento brasileiro, onde a SABESP e a BRK Ambiental
transformam o esgoto tratado em água industrial.
Esse projeto tem números
impressionantes: a adutora que conduz o esgoto tratado ao Aquapolo tem 17 km de
extensão; a área construída tem 15.000 m2; os dois tanques de
armazenamento de água têm, em conjunto, capacidade para 70.000 litros; a rede
de distribuição de água industrial tem 3,6 km e a capacidade de tratamento é de
1.000 litros por segundo. Tudo isso faz do Aquapolo o quinto maior
empreendimento de produção de água industrial do planeta.
Ao entrar no Aquapolo, o esgoto
tratado na ETE ABC passa por biodiscos, em que grande parte da matéria orgânica
é oxidada a gás carbônico e água e a amônia é convertida a nitrato. Em seguida,
o nitrato é removido no reator anóxico. Do reator anóxico, o líquido vai para o
reator aeróbio, onde a maior parte da matéria orgânica remanescente é oxidada a
gás carbônico e água. Após passar pelo reator aeróbio, o líquido é encaminhado
ao biorreator de membranas (MBR), que reúne as funções de lodos ativados e de
ultrafiltração. O efluente do biorreator recebe dióxido de cloro antes de ser
armazenado no tanque 1.
O tanque 1 é dividido em dois
módulos. O módulo 1 recebe o efluente do MBR e o distribui ao módulo 2, que
abastece as indústrias do Polo Petroquímico do ABC e o tratamento por osmose
reversa, destinado às empresas que necessitam de água desmineralizada.
É importante observar que um
tratamento por osmose reversa faz com que apenas uma parcela do líquido que
entra no tratamento – o permeado – possa ser aproveitado. No Projeto Aquapolo,
no entanto, não há perda de água, pois a parcela rejeitada – o concentrado – é
devolvida ao tanque 1, entrando diretamente no módulo 2, que abastece as
empresas que não necessitam de água desmineralizada.
Para se ter ideia do tratamento
realizado, aqui estão alguns números das análises físico-químicas da água
contida no tanque 1 e a comparação com os limites respectivos estabelecidos
pelo Anexo XX da Portaria de Consolidação 05/2017 do Ministério da Saúde (PRC
05), que trata dos requisitos indispensáveis para que a água possa ser
considerada potável:
Os responsáveis pelo Projeto
Aquapolo não divulgam análises do líquido armazenado no tanque 2. Contudo, é de
se esperar que atenda a todas as exigências da PRC 05, pois, na osmose reversa,
as impurezas são retidas em poros diminutos para que a água se torne apta a ser
usada em caldeiras, torres de resfriamento e onde mais for requerida água desmineralizada.
Parâmetro
|
Saída Aquapolo
|
Limites permitidos
|
Dispositivo PRC 05
|
Alumínio
|
0,2
|
0,2
|
Anexo 10
|
Cobre
|
0,1
|
2
|
Anexo 7
|
Ferro
|
0,3
|
0,3
|
Anexo 10
|
Manganês
|
0,2
|
0,1
|
Anexo 10
|
Amônia
|
1
|
1,5
|
Anexo 10
|
Surfactante
|
1
|
0,5
|
Anexo 10
|
Dureza
|
100
|
500
|
Anexo 10
|
Sulfetos
|
0,1
|
0,1
|
Anexo 10
|
Turbidez
|
1
|
0,3
|
art. 31
|
pH
|
6,66
|
Entre 6 e 9,5
|
art. 39
|
O grande gargalo do Projeto
Aquapolo é sua capacidade ociosa. Atualmente, o Polo Petroquímico do ABC
demanda apenas 650 l/s. Cerca de 350 l/s, que poderiam ser transformados em
água potável, diminuindo o enorme déficit hídrico da região, não o são.
A título de comparação, a
estação de reuso potável de Goreangab, na Namíbia, que transforma esgoto
doméstico em água potável, foi inaugurada em 1968 e não tem, sequer, tratamento
por osmose reversa. O efluente da estação, após clorado, é distribuído à população
da capital e, até hoje, não se verificou qualquer tipo de doença vinculado à
conversão do esgoto doméstico em água potável.
A conversão da capacidade
ociosa do Projeto Aquapolo em água potável será muito mais fácil, devido ao
tratamento por osmose reversa. A parcela do efluente tratado que não for
destinada às empresas que requerem água desmineralizada deve ser encaminhada à
ETA mais próxima, que tenha capacidade suficiente para receber essa vazão
adicional.
A análise do efluente da osmose
reversa é fundamental para se saber em que parte da ETA esse efluente será
lançado. Caso atenda às exigências da PRC 05, poderá se unir à água tratada na
ETA imediatamente a montante da cloração. A junção com a água tratada na ETA
vai devolver ao efluente da osmose reversa os sais minerais indispensáveis à
dieta humana. Ressalte-se que a PRC 05 não faz menção à existência de sais
minerais na água de abastecimento público, que são indispensáveis ao consumo
humano, daí a necessidade de se misturar a água que os contenha para que o
efluente da osmose reversa seja remineralizado.
Efetuada a cloração e corrigido
o pH da água, esta estará apta a ser fornecida como água potável. Contudo, se
as análises da água do tanque 2 indicarem parâmetros da PRC 05 que não estejam
sendo observados, o excedente do tratamento por osmose reversa deverá se juntar
à água tratada na entrada da ETA. Dependendo do resultado das análises, pode
ser indicado tratamento adicional antes de o líquido ser encaminhado à estação.
Efetuada a cloração, a vazão de
água potável da ETA estará acrescida da atual capacidade ociosa do Aquapolo, ou
seja, de cerca de 350 l/s ou 0,9 bilhões de litros por mês que, somados aos 1,7
bilhão de litros por mês que são economizados com a substituição de água potável
por água de reuso, totalizarão uma economia de 2,6 bilhões de litros por mês de
água oriunda de fontes que podem secar durante o período de estiagem.
Nos Estados Unidos, são
várias as estações de reuso potável direto já existentes, como a Water Factory
21, que possui um local de degustação onde as pessoas podem beber água que foi
esgoto, conforme o que se vê no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=CkTCXFC3s24.
Portanto, o Projeto Aquapolo, o maior projeto de produção de água de reúso da América Latina, poderá vir a ser, também, a primeira estação de reuso potável direto da América Latina, ombreando-nos não apenas com os Estados Unidos, mas com países da Europa, da Ásia, da Oceania e até da África.
Sugerimos que a SABESP e a BRK Ambiental não percam tempo, pois uma próxima estiagem já se anuncia na bacia do Cantareira, de onde é importada a água necessária a suprir o déficit hídrico da Região Metropolitana de São Paulo. (ecodebate)
Portanto, o Projeto Aquapolo, o maior projeto de produção de água de reúso da América Latina, poderá vir a ser, também, a primeira estação de reuso potável direto da América Latina, ombreando-nos não apenas com os Estados Unidos, mas com países da Europa, da Ásia, da Oceania e até da África.
Sugerimos que a SABESP e a BRK Ambiental não percam tempo, pois uma próxima estiagem já se anuncia na bacia do Cantareira, de onde é importada a água necessária a suprir o déficit hídrico da Região Metropolitana de São Paulo. (ecodebate)
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