terça-feira, 9 de julho de 2019

O encolhimento e o empobrecimento relativo da América Latina

A América Latina e Caribe (ALC) ganhou destaque na economia mundial depois do processo de descolonização ocorrido na primeira metade do século XIX. O primeiro país a fazer a independência foi o Haiti. Depois veio o México. Simon Bolívar garantiu a independência da Venezuela e foi homenageado na independência da Bolívia. O Brasil foi o último (dos grandes) a fazer a independência, o último a acabar com a escravidão e o único a implantar uma monarquia.
Entre 1820 e 1870, segundo dados de Angus Maddison, o PIB da ALC cresceu 1,2% ao ano e o PIB do mundo cresceu 0,9% ao ano. Uma diferença relativamente pequena. Entre 1870 e 1950, a diferença aumentou, pois, respectivamente, o crescimento foi de 3,5% ao ano contra 2% ao ano. Entre 1950 e 1980, o crescimento econômico acelerou geral, com a ALC crescendo 5,3% ao ano e o mundo crescendo 4,5% ao ano. Ou seja, durante 160 anos, devido ao alto crescimento populacional e econômico, a América Latina e Caribe ganhou participação relativa no PIB mundial.
Contudo, a situação se inverteu depois de 1980 e a ALC começou a perder participação relativa no PIB mundial. O gráfico abaixo mostra que o crescimento econômico médio da região, nos primeiros 20 anos do século XXI, foi de 2,7% ao ano, abaixo da média mundial (4% ao ano), muito abaixo do desempenho da Ásia emergente (7,9% aa) e abaixo inclusive do crescimento da África Subsaariana (5,1% aa). Entre 2015 e 2020 o crescimento da ALC tem ficado abaixo de 1% ao ano, praticamente, com estagnação da renda per capita.
Em 2019, alguns países da ALC vão crescer acima de 3%, como Chile, Costa Rica e Colômbia, mas o Brasil e o México – as duas maiores economias da região – não devem crescer mais do que 1,5%, enquanto Argentina deve ter uma recessão de – 1,2% e a Venezuela deve ter uma queda do PIB de inacreditáveis -25%, isto depois de 5 anos de recessão. Ou seja, segundo o FMI, a ALC é a região do mundo com menores taxas de crescimento e com grande aumento da pobreza e da desigualdade social.
O gráfico abaixo mostra a participação de três regiões no PIB global. Observa-se que a ALC estava na frente e representava 12,2% do PIB mundial em 1980, contra 8,9% da Ásia emergente e 2,5% da África Subsaariana. Mas ao longo das últimas 4 décadas a ALC apresentou uma tendência submergente e diminuiu sua participação na economia global para 7,5% em 2018, devendo ficar com somente 7% em 2024. A África Subsaariana tinha uma participação muito baixa em 1980, mas aumentou para 3% em 2018 e deve ficar com 3,1% em 2024. Já a Ásia emergente aumentou sua participação no bolo global da produção de bens e serviços para 33,3% em 2018 e deve atingir 38,8% em 2024.
Todo este baixo crescimento econômico da América Latina e Caribe acontece quando as condições demográficas da região são ainda favoráveis. A ALC está ainda na fase conhecida como bônus demográfico, que é o momento que, em geral, os países aproveitam para dar um salto no desenvolvimento e no bem-estar. Como se costuma dizer: “um país ou região só consegue ficar rico antes de envelhecer”.
Isto quer dizer que a ALC tem pouco tempo para reverter sua trajetória submergente, pois depois do envelhecimento será praticamente impossível dar um salto na qualidade da estrutura produtiva. Infelizmente, a maioria dos países da região estão sendo gerenciados por governos populistas (mais à esquerda ou mais à direita) que não enfrentam os verdadeiros problemas para retomar a rota da prosperidade e da mobilidade social ascendente.
Embora o PIB da ALC esteja em processo de encolhimento relativo, a região ainda possui uma renda per capita mais alta do que a da Ásia Emergente e da África Subsaariana. O gráfico abaixo mostra que a ALC tinha uma renda per capita, em poder de paridade de compra (ppp, na sigla em inglês) de US$ 4,6 mil em 1980, contra US$ 2,97 mil da média mundial, US$ 1,2 mil da África Subsaariana e de somente US$ 561,6 da Ásia emergente.
Porém, a partir de 2015 a renda per capita brasileira ficou abaixo da renda per capita mundial, mostrando que o Brasil passou para o lado de baixo (da média global) do posicionamento dos países em termos de renda. A Ásia emergente também tem uma renda per capita abaixo da média mundial, mas está em processo de rápido crescimento e deve superar o Brasil até 2025 e superar a média global até 2030. A África Subsaariana tem a menor renda per capita do mundo, mas apresentou crescimento desempenho melhor do que o Brasil nos anos 2000.
A ideia positivista de progresso – que orientou a história da América Latina – tem sido colocada em questionamento desde a primeira década perdida, nos anos 1980. Depois de duas décadas de baixo crescimento, uma nova década perdida tem marcado mais retrocessos do que progressos na região.
Sucessivas décadas perdidas podem inviabilizar a utopia de uma região próspera e feliz e dar início a dura realidade de uma distopia persistente. (ecodebate)

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