A
América Latina e Caribe (ALC) ganhou destaque na economia mundial depois do
processo de descolonização ocorrido na primeira metade do século XIX. O
primeiro país a fazer a independência foi o Haiti. Depois veio o México. Simon
Bolívar garantiu a independência da Venezuela e foi homenageado na independência
da Bolívia. O Brasil foi o último (dos grandes) a fazer a independência, o
último a acabar com a escravidão e o único a implantar uma monarquia.
Entre
1820 e 1870, segundo dados de Angus Maddison, o PIB da ALC cresceu 1,2% ao ano
e o PIB do mundo cresceu 0,9% ao ano. Uma diferença relativamente pequena.
Entre 1870 e 1950, a diferença aumentou, pois, respectivamente, o crescimento
foi de 3,5% ao ano contra 2% ao ano. Entre 1950 e 1980, o crescimento econômico
acelerou geral, com a ALC crescendo 5,3% ao ano e o mundo crescendo 4,5% ao
ano. Ou seja, durante 160 anos, devido ao alto crescimento populacional e
econômico, a América Latina e Caribe ganhou participação relativa no PIB
mundial.
Contudo,
a situação se inverteu depois de 1980 e a ALC começou a perder participação
relativa no PIB mundial. O gráfico abaixo mostra que o crescimento econômico
médio da região, nos primeiros 20 anos do século XXI, foi de 2,7% ao ano,
abaixo da média mundial (4% ao ano), muito abaixo do desempenho da Ásia
emergente (7,9% aa) e abaixo inclusive do crescimento da África Subsaariana
(5,1% aa). Entre 2015 e 2020 o crescimento da ALC tem ficado abaixo de 1% ao
ano, praticamente, com estagnação da renda per capita.
Em
2019, alguns países da ALC vão crescer acima de 3%, como Chile, Costa Rica e
Colômbia, mas o Brasil e o México – as duas maiores economias da região – não
devem crescer mais do que 1,5%, enquanto Argentina deve ter uma recessão de –
1,2% e a Venezuela deve ter uma queda do PIB de inacreditáveis -25%, isto
depois de 5 anos de recessão. Ou seja, segundo o FMI, a ALC é a região do mundo
com menores taxas de crescimento e com grande aumento da pobreza e da
desigualdade social.
O
gráfico abaixo mostra a participação de três regiões no PIB global. Observa-se
que a ALC estava na frente e representava 12,2% do PIB mundial em 1980, contra
8,9% da Ásia emergente e 2,5% da África Subsaariana. Mas ao longo das últimas 4
décadas a ALC apresentou uma tendência submergente e diminuiu sua participação
na economia global para 7,5% em 2018, devendo ficar com somente 7% em 2024. A
África Subsaariana tinha uma participação muito baixa em 1980, mas aumentou
para 3% em 2018 e deve ficar com 3,1% em 2024. Já a Ásia emergente aumentou sua
participação no bolo global da produção de bens e serviços para 33,3% em 2018 e
deve atingir 38,8% em 2024.
Todo
este baixo crescimento econômico da América Latina e Caribe acontece quando as
condições demográficas da região são ainda favoráveis. A ALC está ainda na fase
conhecida como bônus demográfico, que é o momento que, em geral, os países
aproveitam para dar um salto no desenvolvimento e no bem-estar. Como se costuma
dizer: “um país ou região só consegue ficar rico antes de envelhecer”.
Isto
quer dizer que a ALC tem pouco tempo para reverter sua trajetória submergente,
pois depois do envelhecimento será praticamente impossível dar um salto na
qualidade da estrutura produtiva. Infelizmente, a maioria dos países da região
estão sendo gerenciados por governos populistas (mais à esquerda ou mais à
direita) que não enfrentam os verdadeiros problemas para retomar a rota da
prosperidade e da mobilidade social ascendente.
Embora
o PIB da ALC esteja em processo de encolhimento relativo, a região ainda possui
uma renda per capita mais alta do que a da Ásia Emergente e da África
Subsaariana. O gráfico abaixo mostra que a ALC tinha uma renda per capita, em
poder de paridade de compra (ppp, na sigla em inglês) de US$ 4,6 mil em 1980,
contra US$ 2,97 mil da média mundial, US$ 1,2 mil da África Subsaariana e de
somente US$ 561,6 da Ásia emergente.
Porém,
a partir de 2015 a renda per capita brasileira ficou abaixo da renda per capita
mundial, mostrando que o Brasil passou para o lado de baixo (da média global)
do posicionamento dos países em termos de renda. A Ásia emergente também tem
uma renda per capita abaixo da média mundial, mas está em processo de rápido
crescimento e deve superar o Brasil até 2025 e superar a média global até 2030.
A África Subsaariana tem a menor renda per capita do mundo, mas apresentou
crescimento desempenho melhor do que o Brasil nos anos 2000.
A
ideia positivista de progresso – que orientou a história da América Latina –
tem sido colocada em questionamento desde a primeira década perdida, nos anos
1980. Depois de duas décadas de baixo crescimento, uma nova década perdida tem
marcado mais retrocessos do que progressos na região.
Sucessivas
décadas perdidas podem inviabilizar a utopia de uma região próspera e feliz e
dar início a dura realidade de uma distopia persistente. (ecodebate)
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