A revisão 2019 das projeções
populacionais da ONU para o século XXI
A Divisão de População da ONU
disponibilizou, no dia 17 de junho de 2019, as novas projeções populacionais
para todos os países, para as regiões e para o total mundial. A população
mundial para 2019 foi estimada em 7,70 bilhões, devendo chegar a 7,79 bilhões
em 2020 e a 8 bilhões de habitantes em 2023.
Em decorrência das incertezas sobre o futuro, as projeções são
apresentadas em três cenários, conforme mostra o gráfico abaixo. A revisão 2019
indica, no cenário de projeção alta, uma população de 15,6 bilhões de
habitantes no mundo em 2100 (a revisão 2017 projetava um número de 16,52
bilhões). No cenário de projeção média, a população global seria de 10,87
bilhões de habitantes em 2100 (a revisão 2017 projetava um número de 11,18
bilhões). E no cenário de projeção baixa, o número ficaria em 7,32 bilhões de
habitantes em 2100 (a revisão 2017 projetava 7,28 bilhões). Na projeção média –
a mais provável de ocorrer – o número da revisão 2019 é 300 milhões menor do
que o da projeção da revisão anterior, divulgada em 2017.
O crescimento populacional anual que está em 1,1% ao ano, no
quinquênio 2015-20 vai se desacelerar ao longo do século e, na projeção média,
deve ficar em 0,4% ao ano no quinquênio 2095-2100. Ou seja, a estabilização da
população mundial só deve ocorrer no século XXII.
A tabela abaixo apresenta as
estimativas da população mundial em 1950, 2000 e 2020 e a projeção média para
2050 e 2100 para o mundo e para os continentes, além da comparação com os dados
da projeção média da revisão 2017 para o ano de 2100. Nota-se que a população
mundial, mesmo com uma estimativa 300 milhões de habitantes mais baixa, deve
crescer 4,3 vezes entre 1950 e 2100 (de 2,5 bilhões em 1950 para 10,9 bilhões
em 2100).
A redução do total populacional – na projeção média atual (2019)
em relação à projeção anterior (2017) – ocorreu em todos os continentes, com
exceção da Oceania que apresentou um ligeiro aumento. Para a África a projeção
atual para 2100 é de 4,28 bilhões de habitantes (era de 4,48 na revisão 2017).
Para a África Subsaariana a projeção atual é de 3,76 bilhões em 2100 (era de 4
bilhões na projeção anterior). Para a Ásia a projeção atual é de 4,72 bilhões
em 2100 (era de 4,78 anteriormente). Para a Europa o número para 2100 é de 629
milhões (era de 653 milhões). Para a América Latina e Caribe (ALC) a projeção
da revisão 2019 indica um número de 680 milhões de habitantes em 2100 (contra
712 milhões na projeção 2017). Para a América do Norte o novo número é de 491
milhões em 2100 (contra 499 milhões anteriormente). E por fim, a nova projeção
indica 74,9 milhões de habitantes na Oceania em 2100 (era de 71,8 milhões na
projeção 2017).
Portanto, a maior queda entre a projeção 2019 e a projeção 2017
ocorreu na África Subsaariana, com uma redução de 225 milhões de habitantes na
estimativa de 2100. Mesmo assim, o crescimento da população da África
Subsaariana passou de 179 milhões, em 1950, para 640 milhões em 2000 e deve
crescer 6 vezes durante o século XXI. A Ásia deve continuar sendo o continente
mais populoso. A ALC deve ficar com população abaixo de 700 milhões, mas
superior à população europeia em 2100.
A tabela abaixo apresenta os 20
países mais populosos do mundo em 2020 e os 20 mais populosos em 2100, além de
comparar as projeções para 2100 das duas últimas projeções da Divisão de
População da ONU. Nota-se, que os dois países mais populosos do mundo
continuarão a ser a China e a Índia, mas com uma inversão, pois a população
indiana deve ultrapassar a população chinesa em 2027. Porém, a projeção da
população da China em 2100, na revisão 2019 (de 1,06 bilhão) é maior do que na
revisão 2017 (de 1,02 bilhão), enquanto da Índia a revisão 2019 indica 1,45
bilhão contra 1,52 bilhão da revisão 2017.
O terceiro país mais populoso em 2020 é aquele que se destaca na
economia mundial (EUA) com 331 milhões de habitantes, mas será superado pela
Nigéria ao longo do século XXI. Segundo a revisão 2019, os EUA terão 434
milhões de habitantes em 2100 (contra 447 milhões na revisão 2017) e a Nigéria
terá 733 milhões de habitantes em 2100 (contra 794 milhões na revisão 2017).
A Indonésia é o quarto país mais populoso em 2020, mas deve cair
para o sétimo lugar em 2100, embora terá a população aumentada de 274 milhões
em 2020 para 321 milhões em 2100. O Brasil que era o 5º país mais populoso
desde o fim da Segunda Guerra, foi ultrapassado pelo Paquistão em 2017 e deve
ficar em 12º lugar no final do século. Em 2020, o Paquistão terá 221 milhões de
deve atingir 403 milhões em 2100 (na revisão 2017 a estimativa era de 379
milhões). O Brasil terá 213 milhões de habitantes em 2020 e 181 milhões em 2100
(era de 190 milhões na revisão 2017).
Entre aqueles que vão perder maiores posições entre os 20 maiores
países em termos demográficos, estão Rússia (de 9º para 19º lugar), México (10º
para 17º lugar) e Vietnã, Turquia, Irã, Alemanha e Tailândia que vão sair do
grupo dos países mais populosos. Entre os países que vão dar o maior salto
demográfico estão República Demográfica do Congo (do 16º lugar para 6º lugar),
Egito (do 14º lugar para 10º lugar) e a Etiópia (do 12º para 8º lugar).
Angola que tinha apenas 4,5 milhões de
habitantes em 1950 e que atingiu 16,4 milhões no ano 2000, deve alcançar 188
milhões de habitantes em 2100, ficando em 11º lugar, na frente do Brasil no
final do século. Outros países que vão aparecer na lista dos mais populosos são
Níger, Sudão, Uganda e Quênia.
A Divisão de População da ONU
tem feito, desde 2012, projeções periódicas da população mundial com cenários
até 2100. Evidentemente, as projeções variam segundo os parâmetros que vão
sendo atualizados em cada país. A tabela abaixo mostra a projeção da população
mundial para o final do século XXI, segundo as últimas quatro revisões. Nota-se
que a diferença entre a maior projeção e a menor é de apenas 360 milhões de
pessoas, ou 3% do total estimado.
Recentemente, dois jornalistas
canadenses Darrell Bricker e John Ibbitson lançaram o livro “Empty Planet: The
Shock of Global Population Decline” (2019), contestando as previsões da Divisão
de População da ONU. Os dois autores, que não são demógrafos, apostam em um
cenário de projeção com um pico populacional abaixo dos 9 bilhões de habitantes
em meados do atual século e um rápido declínio nas décadas seguintes.
O fato é que as novas projeções da Divisão de População da ONU
reafirmam, com os indicadores atuais, que a população mundial deve ficar
próxima de 11 bilhões de habitantes no final do século XXI. Como afirmei em
outro artigo, “o livro Empty Planet
faz um terrorismo com a possibilidade de um decrescimento da população e assume
uma postura pronatalista antropocêntrica e ecocida. Os autores reforçam o mito
sobre a possibilidade de um crescimento populacional e econômico ilimitado (“Growthism”).
Todavia, mais crescimento quantitativo tem gerado menos qualidade de vida
ambiental e pode levar a um colapso ecológico”.
Também Aidar Turner, no texto “Two Cheers for Population Decline”,
publicado no Project Syndicate (29/01/2019), critica o alarmismo do livro
“Empty Planet” e diz: “Um eventual declínio gradual da população, desde que
resulte da livre escolha, deve ser bem-vindo. Por outro lado, líderes
autoritários e chauvinistas, como o presidente russo, Vladimir Putin, o
presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, ou o presidente brasileiro, Jair
Bolsonaro, veem o crescimento da população como um imperativo nacional e a alta
fecundidade como dever feminino. E mesmo muitos comentaristas não-chauvinistas
assumem que há algo não natural ou insustentável no declínio da população, que
sociedades envelhecidas devem inevitavelmente ser menos dinâmicas e que a
imigração em grande escala é a resposta essencial ao declínio demográfico”.
Indubitavelmente, o futuro está aberto e as
próprias projeções da Divisão de População da ONU apresentam 3 cenários para a
população mundial em 2100: 15,6 bilhões de habitantes na variante alta, 10,9
bilhões na variante média e 7,32 bilhões de pessoas na variante baixa. Pelos
conhecimentos atuais o mais provável é a variante média. Ou seja, o mundo deve
acrescentar 3 bilhões de habitantes nos próximos 80 anos. Garantir qualidade de
vida para todo este montante de pessoas é um grande desafio.
No Brasil, o crescimento
demográfico será mais lento, devido às taxas de fertilidade mais baixas.
Mas o desafio maior será
garantir a sustentabilidade ambiental e evitar que a Pegada Ecológica global
continue aumentando e a biocapacidade continue diminuindo. Principalmente, no
quadro do crescimento demoeconômico internacional, a grande tarefa é evitar a
aceleração do aquecimento global e a 6ª extinção em massa das espécies, as duas
fronteiras planetárias que podem levar a vida no Sistema Terra ao colapso.
(ecodebate)
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