Apartheid climático: ‘Os
ricos habitarão o norte mais frio. Os pobres, todos no calor’, alerta relator
da ONU.
O mundo está galopando em
direção a um cenário de “apartheid climático”. Isso foi afirmado por um severo
e preocupado relatório das Nações Unidas, apresentado nesta terça-feira pelo
jurista australiano Philip G. Alston, relator especial da ONU sobre direitos
humanos e pobreza extrema – que será formalmente discutido na próxima sessão do
Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra – os desequilíbrios causados pelo
sobreaquecimento global recaem principalmente sobre os habitantes dos países
mais pobres, enquanto os ricos poderão se permitir evitar as piores
consequências da emergência climática, uma grande parte da população do planeta
corre o risco de perder não apenas os direitos de base à vida, a água, à
alimentação e à moradia, mas também conquistas como a democracia ou o respeito
dos direitos civis e políticos. “A raiva das comunidades afetadas, o
crescimento das desigualdades, o agravamento da miséria para alguns grupos
sociais – o relatório afirma – provavelmente estimularão a disseminação de
respostas nacionalistas, xenófobas e racistas“.
Os desequilíbrios
“A mudança climática – afirma
Alston – ameaça anular os últimos 50 anos de progresso no desenvolvimento, na
saúde global e na redução da pobreza”.
A emergência climática, diz o
estudo das Nações Unidas, fará com que 140 milhões de pessoas percam suas casas
nos países em desenvolvimento até 2050; até 2030, 120 milhões passarão à
condição de pobreza. Em suma, mesmo que os países mais pobres “sejam
responsáveis apenas por uma pequena fração das emissões globais, 10%, terão que
suportar 75% dos custos causados pela crise climática”. Enquanto os países mais
ricos, neste cenário de “apartheid climático” graças aos seus recursos
financeiros “conseguirão realizar os ajustes necessários para enfrentar
temperaturas cada vez mais extremas”. E se isso acontecer, “os direitos humanos
não serão capazes de resistir à tempestade que se aproxima”.
Os desiquilíbrios climáticos.
Prevenção insuficiente
Uma situação realmente
crítica, causada pela resposta “claramente inadequada” dos estados nacionais,
das empresas, das ONGs e das próprias Nações Unidas com relação à gravidade da
ameaça climática, não alocando os recursos financeiros e “políticos”
necessários para enfrentá-la. Os governos nacionais sempre desconsideraram as
indicações da ciência, tanto que todos os tratados internacionais foram ineficazes:
até mesmo o acordo de Paris de 2015 não é considerado à altura do desafio em
curso. “Mesmo hoje – acrescentou o especialista em direito internacional –
muitos países estão dando passos míopes na direção errada”, “e o que um ano
atrás era considerado pela ciência um cenário catastrófico agora parece ser
considerado uma perspectiva desejável”.
Na mira de Alston estão, com
nome e sobrenome, o presidente dos EUA, Donald Trump, e o colega brasileiro
Jair Bolsonaro. Trump deve ser condenado por ter “ativamente silenciado” a
ciência sobre o clima, inserindo representantes da indústria em posições-chave,
eliminando as regulamentações ambientais; o número um no Brasil, por seu lado,
prometeu abrir para atividades agrícolas e de mineração a floresta tropical na
Amazônia.
Entre os exemplos positivos,
citados pelo relator da ONU, está a batalha pelo clima da ativista sueca Greta
Thunberg, a greve mundial dos estudantes, o movimento Extinction Rebellion e as
causas encaminhadas contra Estados e sociedades poluidoras. (ecodebate)
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