Agricultura, pecuária e garimpos: as causas do
desmatamento na Amazônia Legal.
O aumento de 4% do desmatamento na Amazônia Legal
entre agosto de 2018 e junho de 2019, registrado pelo Instituto do Homem e Meio
Ambiente da Amazônia – Imazon, “indica uma pressão dos atores econômicos” que
atuam na região para ampliar o plantio de grãos e zonas de pecuária, diz o
coordenador técnico do Sistema de Alerta de Desmatamento – SAD, Antônio Victor
Fonseca, à IHU On-Line.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, ele
informa que os estados do Pará e Amazonas foram os “líderes de desmatamento”
nesse período. “No Pará, a pecuária tem grande contribuição da conversão da
floresta em áreas de pastagem, além da crescente incidência de alertas de
desmatamento em áreas de garimpo no município de Itaituba, localizado no
sudoeste paraense. No estado do Amazonas, há o deslocamento da fronteira
agrícola que ocupava áreas de Mato Grosso e Rondônia e estão se movendo para a
região sul amazonense, onde há um cinturão de áreas protegidas que tem impedido
que o desmatamento avance”, explica.
Segundo ele, projetos de infraestrutura, como a
construção de hidrelétricas e abertura de novas rodovias, também “impulsionam o
desmatamento no bioma Amazônia por atraírem um grande fluxo migratório de
pessoas para a região, valorizando as terras onde esses empreendimentos são
instalados”.
Antônio Victor Fonseca, graduado em Engenharia
Ambiental pela Universidade do Estado do Pará – UEPA. É pesquisador do Imazon e
atua no programa de Monitoramento da Amazônia como coordenador técnico do
Sistema de Alerta de Desmatamento – SAD.
IHU On-Line – Recentemente o Imazon divulgou dados
do Sistema de Alerta de Desmatamento – SAD, informando que entre agosto de 2018
e junho de 2019 houve um desmatamento de 3.767 km² na Amazônia Legal. O que o
aumento de 4% do desmatamento na Amazônia Legal significa? Como interpretam
esse dado?
Antônio Victor Fonseca – Esse número é referente ao
total desmatado, detectado pelo SAD, no período de agosto de 2018 a junho de
2019. O aumento, comparando o período atual com o mesmo período do ano
anterior, é de 158 km². A tendência de crescimento do desmatamento no período
indica uma pressão dos atores econômicos para conversão da floresta nos
diversos usos, como plantio de grãos e a expansão das áreas de pecuária.
IHU On-Line – Por que os estados do Pará e Amazonas
são os líderes em desmatamento, registrando 30% e 26% do total de desmatamento?
Antônio Victor Fonseca – Pará e Amazonas foram os
estados líderes de desmatamento no mês de junho de 2019 e apresentam causas
distintas do aumento de perda de floresta. No Pará, a pecuária tem grande
contribuição da conversão da floresta em áreas de pastagem, além da crescente
incidência de alertas de desmatamento em áreas de garimpo no município de
Itaituba, localizado no sudoeste paraense. No estado do Amazonas, há o
deslocamento da fronteira agrícola que ocupava áreas de Mato Grosso e Rondônia
e estão se movendo para a região sul amazonense, onde há um cinturão de áreas
protegidas que tem impedido que o desmatamento avance. No entanto, alertas de
desmatamento mensais de anos anteriores têm indicado a ocorrência de
desmatadores nessas áreas de preservação.
Alertas de desmatamento mensais de anos anteriores
têm indicado a ocorrência de desmatadores nessas áreas de preservação – Antônio
Victor Fonseca
IHU On-Line – Ao analisar a geografia do
desmatamento, o Imazon também informa que 56% das áreas desmatadas são
privadas, 26% são em assentamentos, 13% em Unidades de Conservação e 5% em
Terras Indígenas. Como interpretam esses dados, particularmente o desmatamento
em áreas de assentamentos e Unidades de Conservação?
Antônio Victor Fonseca – A identificação de onde os
alertas de desmatamento estão ocorrendo é o primeiro diagnóstico para
direcionar quais órgãos de fiscalização ambientais devem planejar as operações
para identificação e responsabilização dos infratores. Desmatamentos em áreas
protegidas, como parques e florestas nacionais, são de responsabilidade do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBIO, enquanto que
as áreas de assentamento são de competência dos órgãos de regularização
fundiária, como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA.
As Áreas Protegidas, em particular, têm sofrido pressão por desmatamento
internamente e no seu entorno para que sofram redução dos seus limites com
alegação de serem áreas consolidadas de uso.
As Áreas Protegidas, em particular, têm sofrido
pressão por desmatamento internamente e no seu entorno para que sofram redução
dos seus limites com alegação de serem áreas consolidadas de uso.
IHU On-Line – Quais são as causas do aumento do
desmatamento na Amazônia Legal?
Antônio Victor Fonseca – As causas de perda de
floresta na Amazônia são diversas e estão atreladas principalmente à conversão
da floresta para os diversos tipos de uso, como agricultura, pastagem, extração
de madeireira e minério, além da grilagem de terras e a expectativa de redução
dos limites ou tipo de proteção de Unidades de Conservação.
Não há mais justificativas para a destruição da
vegetação nativa do país – Antônio Victor Fonseca
IHU On-Line – Quais são os projetos de
desenvolvimento em curso no país que tendem a elevar as taxas de desmatamento?
Antônio Victor Fonseca – Os projetos de
infraestrutura, como construção de hidrelétricas e abertura e pavimentação de
rodovias, são exemplos históricos de iniciativas que impulsionam o desmatamento
no bioma Amazônia por atraírem um grande fluxo migratório de pessoas para a
região, valorizando as terras onde esses empreendimentos são instalados.
Entretanto, na maioria das vezes, as cidades não possuem infraestrutura
adequada para receber esse grande número de pessoas durante e após as obras de
implementação desses projetos, gerando uma ocupação desordenada nos centros
urbanos e comunidades vizinhas, além de absorver parte da mão de obra em
atividades predatórias, como garimpos e extração ilegal de madeira.
Desmatar não ajuda a competitividade da agropecuária;
ao contrário, a coloca em risco – Antônio Victor Fonseca.
IHU On-Line – Nos últimos anos houve um debate no
país sobre o desmatamento zero. Alguns ambientalistas defendem essa meta e
outros afirmam que ela é irrazoável. Na sua avaliação, essa meta é razoável?
Quais são as dificuldades de colocá-la em prática?
Antônio Victor Fonseca – Não há mais justificativas
para a destruição da vegetação nativa do país. Continuar a devastação resulta
em desequilíbrio do clima global e nacional, afeta a biodiversidade e os
recursos hídricos, além de comprometer a saúde e o bem-estar da população. Além
disso, desmatar não ajuda a competitividade da agropecuária; ao contrário, a
coloca em risco.
Extinguir de vez o desmatamento ilegal e legal é,
por fim, um imperativo ético — uma dívida que a atual geração tem consigo
própria e com as próximas. (ecodebate)
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