“Na ausência de um ajuste significativo da maneira como bilhões de
seres humanos vivem, partes da Terra provavelmente se tornarão próximas a
inabitáveis e outras partes terrivelmente inóspitas, antes do final deste
século” - David Wallace-Wells (09/07/2017).
O mundo tem apresentado
temperaturas cada vez mais altas ao longo do tempo, sendo que a atual década
tem batido todos os recordes das décadas anteriores. O aquecimento global é uma
realidade inquestionável. Os 6 anos mais quentes do Antropoceno aconteceram
entre 2014 e 2019.
O ano mais quente do século XX
foi 1998, que apresentou uma temperatura 0,63ºC acima da média do século.
Porém, nos anos seguintes houve redução da anomalia e somente em 2005 a
temperatura bateu novo recorde, de 0,66ºC acima da média do século XX. Novo
recorde aconteceu somente em 2010 com 0,70ºC. Em 2011 houve desaceleração do
aquecimento global e a temperatura média de 0,58ºC (acima da média do século
XX) ficou abaixo daquela apresentada em 1998. As temperaturas de 2012 e 213
ficaram abaixo dos valores de 2010.
Todavia, o quadro mudou
radicalmente a partir de 2014, pois além de bater novo recorde com 0,74ºC, a
temperatura média do referido ano passou a se constituir em um novo piso para a
série histórica que começou em 1880. Em consequência, os 6 anos compreendidos
entre 2014 e 2019 são os mais quentes já registrados. O gráfico abaixo mostra
as variações diárias e mensais dos últimos 6 anos e aponta para a possibilidade
de 2019 ser o segundo ano mais quente da série.
De fato, os meses de junho e
julho foram os mais quentes já registrados, com variação de 0,95ºC, em relação
à média do século XX, como mostra o gráfico abaixo. A Europa teve duas ondas
recordes de calor em 2019, uma em junho e outra em julho. Diversas cidades
tiveram temperaturas elevadas e nunca antes registradas. Portugal e outros
países sofreram com os incêndios florestais. Nestes dois meses, vastas
extensões de latitudes do norte da Terra ficaram em chamas. O clima quente
tomou conta de uma enorme porção do Ártico, do Alasca à Groenlândia e à
Sibéria. Isso ajudou a criar condições propícias para incêndios florestais.
Alguns deles foram realmente enormes e queimaram de maneira singular e sem
precedentes. Artigo de Crunden (15/07/2019) mostra que as mudanças climáticas
estão agravando os incêndios florestais.
O gráfico abaixo, com dados da
NOAA, mostra que, no período janeiro a julho, a temperatura mais alta aconteceu
em 2016, com 1,1ºC acima da média do século XX. As outras duas marcas mais
altas aconteceram em 2017 e 2019, ambas com uma anomalia de 0,95ºC acima da
média do século XX, para os primeiros sete meses do ano. A linha de tendência
mostra que a temperatura está subindo 0,21ºC por década no século XXI (quando
estava subindo 0,08 C por década entre 1880 e 2019). Isto quer dizer que o
aquecimento global está se acelerando e, no mínimo, vai subir 2ºC no atual
século, mantida a tendência das duas últimas décadas. Mas o mais provável é um
aquecimento cada vez mais intenso, como alerta o IPCC.
Mas apesar de todos os alertas,
o mundo continua consumindo combustíveis fósseis, liberando metano na
agropecuária e agravando o efeito estufa. Continua também desmatando e
destruindo os ecossistemas. Assim, cresce a concentração de gases de efeito
estufa e aumenta o nível de CO2 na atmosfera, que, em 2018, foi de
408,52 partes por milhão (ppm), e está aumentando em 2,4 ppm ao ano na atual
década (mas pode passar de 3 ppm em 2019). Sendo que o nível seguro é 350 ppm.
Artigo de Matt McGrath, na BBC
(24/07/2019) mostra que o alerta do IPCC sobre o prazo de “12 anos para salvar
o planeta” se transformou em 18 meses. A necessidade de reduzir as emissões em
45% até 2030 para manter as temperaturas globais abaixo de 1,5ºC neste século
se antecipou e agora o prazo é o final de 2020. A sensação de que o final do
próximo ano é a última chance de mudança climática está se tornando mais clara
o tempo todo. Com base em evidências científicas, ele escreve: “Acredito firmemente que os próximos 18 meses
decidirão nossa capacidade de manter a mudança climática em níveis de
sobrevivência e restaurar a natureza ao equilíbrio que precisamos para nossa
sobrevivência“.
A velocidade do aquecimento
global nunca foi tão rápida quanto é hoje e está afetando o planeta inteiro
simultaneamente, pela primeira vez em, pelo menos, dois milênios. Uma pesquisa,
publicada na revista Nature Geoscience (24/07/2019) reconstruiu a temperatura
média da Terra nos últimos dois milênios, destacando a surpreendente taxa de
aquecimento generalizado do nosso planeta no século passado e, em especial, nas
últimas décadas.
Desta forma, se este quadro não
começar a ser revertido urgentemente, o colapso ambiental pode se tornar
inevitável. O aquecimento vai provocar o degelo do Ártico, da Antártida e da
Groenlândia, elevando o nível dos oceanos, o que ameaça bilhões de pessoas que
moram nas áreas costeiras. O aquecimento também deve provocar o degelo dos
glaciares do Himalaia e o leste e o sul da Ásia, lar de bilhões de pessoas, vão
sofrer com a falta de água. O aquecimento global é um dos elos fracos do
Sistema Terra e pode provocar um grande desastre ecológico. No longo prazo,
pode ser o apocalipse para todos os seres vivos do Planeta, incluindo a espécie
que é culpada e vítima deste processo: a humanidade.
Como disse o cientista David
Suzuki: “Se quisermos que a Terra
permaneça habitável para os seres humanos e para outras formas de vida que nos
tornam possíveis, devemos fazer escolhas difíceis, promover soluções e nos
envolver mais politicamente” (04/08/2019). A Greve Global pelo Clima de
20 a 27 de setembro de 2019 é uma boa oportunidade para as pessoas se
manifestarem.
Sem dúvida, cientistas de
todo o mundo alertam para a situação de emergência climática. E como diz,
acertadamente, a garota a ativista sueca Greta Thunberg: “Eu não quero que vocês estejam esperançosos.
Eu quero que vocês estejam em pânico. Quero que vocês ajam como se a casa
estivesse pegando fogo. Porque está!”. (ecodebate)
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