Em
São Paulo, a noite caiu no meio da tarde. Às pesadas nuvem de chuva vinda com
uma frente fria do sul juntou-se a fumaça – muita fumaça! – dos dias de
queimadas muito densas, muitas amplas, em Rondônia e na Bolívia.
Um
rio voador de fumaça cobriu o imenso território brasileiro. Ele percorreu
exatamente o caminho dos rios voadores, feitos de vapor de água, que irrigam a
maior parte do território brasileiro, chegando até a Argentina, Uruguai e
Paraguai. É da Amazônia que vem as chuvas que abastecem grande parte de nosso
território, que depois se armazenam nos aquíferos do Cerrado, mas que hoje
estão sendo extintos pela devastação da Amazônia e do Cerrado.
Um
fato grave e exemplar como esse deveria suscitar a reflexão e a inflexão que
nos apavorassem nesse momento. Afinal, os estudos científicos – tão desprezados
pelo atual governo -, nos alertam continuamente que sem a Amazônia, a região
brasileira que vai de São Paulo até os demais países do Cone Sul, se
transformará em deserto.
Pior,
o rio voador de fumaça foi uma celebração planejada, isto é, os predadores do
agronegócio decidiram celebrar a liberação do desmatamento com um dia de
queimadas. E assim o fizeram. Somando com a fumaça que veio de outros países,
transformou um dia de São Paulo em noite escura.
Esse
é o Brasil do futuro e do presente. Sem Amazônia, grande parte do sul e sudeste
brasileiros se transformará em deserto. Não adianta tentar camuflar essa
realidade, ou amenizar, como fez a reportagem da Folha de São Paulo e o Jornal
Nacional, dizendo que esse fenômeno acontece todos os anos. Sim, acontece desde
que as queimadas passaram a acontecer nessa época, mas não é normal, não é
natural, é um processo de devastação pelo fogo. Fato é que o desmatamento e as
queimadas da Amazônia aumentaram exponencialmente no último governo, sem eximir
de responsabilidade os que vieram antes dele.
O
Sínodo para a Amazônia, que acontecerá de 06 até 27 de Outubro, em Roma, vai
discutir com as igrejas dos nove países da região uma ecologia integral, capaz
de preservar o bioma para o bem de seus povos, mas também para aqueles que se
beneficiam de suas dádivas, mesmo morando fora da Amazônia, caso dos paulistas,
catarinenses, paranaenses, gaúchos, argentinos, uruguaios, paraguaios, etc.
Preservar
a Amazônia seria a lógica do bom senso, até para o instinto de sobrevivência do
povo brasileiro. Mas, não é o caso. Estamos vivendo um momento em que a pior
fumaça é a que queima os cérebros. (ecodebate)
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