O Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou em 25/09/2019, um novo relatório que
analisa e sintetiza as descobertas científicas mais recentes sobre a crise
climática, os oceanos e a criosfera (superfície terrestre coberta
permanentemente por gelo e neve). O relatório contou com a coordenação de mais
de 100 especialistas de 30 países e foi estruturado para apresentar os diversos
cenários sobre como o aquecimento global pode afetar os oceanos, as calotas
polares e os glaciares.
Até agora, os oceanos do
mundo ajudavam a evitar as mudanças climáticas, absorvendo calor e dióxido de
carbono da atmosfera. Mas isso está mudando, com consequências devastadoras
para a humanidade nas próximas décadas.
A taxa de aquecimento dos
oceanos dobrou, desde o início dos anos 90, e as ondas de calor marinhas estão
se tornando mais frequentes e intensas – tendências que estão remodelando os
ecossistemas oceânicos e alimentando tempestades mais poderosas. E, à medida
que os oceanos absorvem o CO2, eles se tornam mais ácidos, o que
ameaça a sobrevivência dos recifes de coral e a vida marinha, devendo provocar
maior insegurança alimentar.
O aquecimento global já
atingiu 1,1º C acima do nível pré-industrial, devido à emissão de gases de
efeito estufa (GEE). Há evidências esmagadoras de que isso está resultando em
profundas consequências para os ecossistemas e as pessoas. O quadro é de
oceanos mais quentes, mais poluídos, mais ácidos e menos produtivos, geleiras e
glaciares em derretimento, aceleração do aumento do nível do mar, enquanto os
eventos extremos costeiros vão se tornando mais frequentes e graves.
O novo relatório prevê que o
nível do mar pode subir até 1,1 metros até 2100, se as emissões de GEE
continuarem a subir. Os oceanos e a criosfera desempenham um papel crítico para
a vida na Terra. Um total de 670 milhões de pessoas vive em regiões de
montanhas elevadas e 680 milhões de pessoas em regiões costeiras baixas. Quatro
milhões de pessoas vivem permanentemente na região do Ártico e pequenos estados
insulares em desenvolvimento abrigam 65 milhões de pessoas.
As geleiras estão derretendo
mais rápido.
O recuo da criosfera de alta
montanha continuará afetando negativamente as atividades recreativas, turismo e
bens culturais. À medida que as geleiras das montanhas recuam, elas também
estão alterando a disponibilidade e a qualidade da água a jusante, com
implicações para muitos setores, como agricultura e energia hidrelétrica. As
mudanças na disponibilidade de água não afetarão apenas as pessoas nessas
regiões de alta montanha, mas também comunidades muito mais a jusante.
O degelo da região ártica
será danoso para o solo de permafrost. Mesmo que o aquecimento global seja
limitado a bem abaixo de 2°C, cerca de 25% do permafrost da superfície próxima
(3-4 metros de profundidade) derreterá até 2100. Se as emissões de gases de
efeito estufa continuar a aumentar fortemente, existe o potencial de que cerca
de 70% do permafrost próximo à superfície possa ser perdido.
O permafrost ártico e boreal
retém grandes quantidades de carbono orgânico, quase o dobro do carbono da
atmosfera e têm o potencial de aumentar significativamente a concentração de
gases de efeito estufa na atmosfera, se derreterem. Não está claro se já existe
uma liberação líquida de dióxido de carbono ou metano devido ao degelo contínuo
do permafrost no Ártico. No futuro, o aumento do crescimento das plantas pode
aumentar o armazenamento de carbono nos solos e compensar a liberação de
carbono do degelo do permafrost, mas não na escala de grandes mudanças em longo
prazo.
Os incêndios florestais são eventos
perturbadores na maioria das regiões de tundra e boreais, bem como nas
montanhas. Conhecimento para ação urgente O relatório conclui que reduzir
fortemente as emissões de gases de efeito estufa, proteger e restaurar
ecossistemas, e gerenciar cuidadosamente o uso dos recursos naturais tornaria
possível preservar o oceano e a criosfera como fonte de oportunidades,
oferecendo múltiplos benefícios sociais adicionais.
O relatório considera que
quanto mais decisivamente e quanto mais cedo a humanidade agir, mais capaz será
de enfrentar as inevitáveis mudanças, gerenciar os riscos, melhorar a vida das
pessoas e alcançar a sustentabilidade para ecossistemas hoje e no futuro.
O mundo só conseguirá manter
o aquecimento global bem abaixo de 2ºC acima dos níveis pré-industriais se
efetuar transições sem precedentes em todos os aspectos da sociedade, incluindo
energia, terra e ecossistemas, infraestrutura urbana e industrial. As
ambiciosas políticas de redução das emissões de GEE são fundamentais para
cumprir as metas do Acordo de Paris. A proteção dos oceanos e da criosfera é
essencial para sustentar a vida na Terra.
As manchas de óleo que
atingiram as praias brasileiras do Nordeste são um exemplo da poluição dos
oceanos e já matou muitas tartarugas, golfinhos e peixes. A vida marinha sofre
com o aquecimento global e a transformação dos mares em uma grande fossa onde a
humanidade joga seus dejetos, seu lixo e seus resíduos tóxicos.
Em síntese, a poluição, a degradação, a
sobrepesca e o aumento do nível do mar são processos que estão se tornando
incontroláveis e que estão se acelerando, podendo provocar milhões de óbitos e
trilhões de dólares em prejuízo para as pessoas, as empresas e o governo.
Oceanos e zonas geladas estão
pagando o preço do aquecimento global, aponta relatório do IPCC.
A vida começou nos mares e a
morte dos oceanos pode se transformar no fim de linha para a sobrevivência da
humanidade, sendo uma ameaça concreta ao avanço civilizatório. (ecodebate)
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