“Desmatamento
zero” não é um slogan nem uma utopia. “É uma política concreta e viável. O
grande potencial econômico da Amazônia pode
ser valorizado dentro de um sistema que, a partir da sua incalculável
biodiversidade, deixe a floresta intacta.”
Palavra
de Carlos Nobre, um dos climatologistas mais conhecidos do
mundo, Prêmio Nobel da Paz de 2007 pela sua contribuição na
elaboração do 4º relatório do Painel Internacional
sobre Mudanças Climáticas da ONU.
Nascido
em São Paulo, no Brasil,
há 67 anos, Nobre é conhecido principalmente pelos seus estudos
sobre a possível savanização da Amazônia,
ou seja, o risco de que a região se transforme em uma terra semiárida, uma
vez ultrapassado o limiar do desmatamento-limite.
No
ritmo atual, três quartos da floresta poderiam se tornar savana já em cerca de
30 anos. Por essa razão, segundo o cientista, o Sínodo, ao qual ele foi
chamado para fazer uma intervenção, pode contribuir para uma conscientização
coletiva sobre a ameaça que pesa sobre a vida humana.
“A função
da ciência, porém, não é apenas lançar o alerta: nós, estudiosos, somos
chamados a encontrar possíveis alternativas Também nisso a assembleia sinodal
pode ser de grande ajuda”.
Eis a entrevista.
Como se poderia
desenvolver o “potencial econômico” da Amazônia sem devastá-la?
Mudando
radicalmente o modo de empregar os recursos naturais amazônicos. A floresta já
perdeu um dos seus 6,2 milhões de quilômetros quadrados, principalmente por
causa da agricultura intensiva. A soja, uma das monoculturas mais difundidas,
porém, tem uma baixa produtividade. Ou seja, rende pouco em comparação com o
grau de destruição provocado. A maior riqueza da Amazônia não
é a terra, é sua biodiversidade, a maior do planeta.
Como a biodiversidade
pode se tornar um recurso econômico?
A
floresta é rica em elementos como o açaí,
com elevadas propriedades medicinais, as castanhas, o cacau, o babaçu (usado em
cosméticos). A sua produção é compatível com a sobrevivência das árvores e com
o respeito pelos direitos dos povos nativos.
Não existe o risco de
implementar uma espécie de extrativismo ecológico?
Pelo
contrário, eu falo de um novo paradigma. O extrativismo se baseia na
exportação de matérias-primas pouco processadas. Isso não só tem impactos
devastadores sobre o ambiente e os habitantes que o habitam, mas sequer cria
riqueza para estes últimos. A alternativa a esse sistema é a valorização dos
recursos amazônicos de um modo ecologicamente sustentável. Ou seja, sem uma
exploração intensiva da terra, graças ao uso de tecnologias de vanguarda. Os
produtos que eu citei não devem ser vendidos brutos, mas sim processados. Tomo
o exemplo do açaí: ele está presente nas bebidas, nos medicamentos,
nas maquiagens, além de ser consumido como alimento. Ele gera um negócio de 15
bilhões de dólares: apenas um bilhão retorna à Amazônia.
Como a comunidade
internacional pode contribuir para essa virada?
Através
do consumo responsável. Se cidadãos-compradores e fundos de investimento
exigissem certificados de sustentabilidade de toda a cadeia produtiva das
matérias-primas amazônicas, o desmatamento desapareceria em pouco tempo. Ao
mesmo tempo, é necessária uma cooperação internacional para favorecer o
desenvolvimento científico e tecnológico imprescindível para criar uma
nova bioeconomia com desmatamento zero.
Por que o mundo deve
se interessar pela Amazônia?
A Amazônia armazena
todos os anos entre um e dois bilhões de toneladas de dióxido de carbono, uma
contribuição essencial para a contenção do
aquecimento global. Se a floresta desaparecesse, 200 bilhões de
toneladas de gás acabariam repentinamente na atmosfera. Sem falar da
contribuição essencial para a regulamentação das chuvas. (ecodebate)
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