quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Ártico está esquentando 2 vezes mais rápido que a média global

Mudanças Climáticas: O Ártico está esquentando duas vezes mais rápido que a média global.

A mudança climática continua a perturbar o Ártico, com a segunda maior temperatura do ar e a segunda mais baixa no verão, causando uma cascata de impactos, incluindo a perda de neve e incêndios florestais extraordinários no norte da Rússia em 2020.
Isso está de acordo com o 15º Arctic Report Card da NOAA, uma compilação de observações ambientais originais revisadas por pares e análises de 133 cientistas de 15 países.

A transformação sustentada para um Ártico mais quente, menos congelado e biologicamente alterado permanece clara, concluiu.

“Quase tudo no Ártico, do gelo e neve à atividade humana, está mudando tão rapidamente que realmente não há razão para pensar que, em 30 anos, muito de tudo será como é hoje”, disse Rick Thoman, um dos editores do Arctic Report Card, que foi lançado durante uma conferência de imprensa virtual organizada pela American Geophysical Union como parte de sua reunião de outono.

O Arctic Report Card  fornece atualizações anuais sobre sete tópicos: Temperatura do ar na superfície; Cobertura de neve terrestre; Manto de gelo da Groenlândia; Gelo marinho; Temperatura da superfície do mar; Produtividade primária do oceano Ártico; e degelo da Tundra.

O Ártico está esquentando duas vezes mais rápido que a média global, com impactos de longo alcance para os padrões de tempo e clima no resto do mundo.

De acordo com o relatório provisório da OMM sobre o Estado do Clima Global, 2020 está definido como um dos três anos mais quentes já registrados, com o calor mais notável sendo observado no Ártico da Sibéria, onde as temperaturas estavam mais de 5°C acima da média. O calor siberiano culminou em 20/06/2020, quando atingiu 38°C em Verkhoyansk, provisoriamente a temperatura mais alta conhecida em qualquer lugar ao norte do Círculo Polar Ártico. Isso alimentou a temporada de incêndios florestais mais ativa em um registro de dados de 18 anos, conforme estimado em termos de emissões de CO2  liberadas por incêndios.

As principais descobertas do Arctic Report Card incluem:

Nos oceanos

A perda de gelo marinho na primavera de 2020 foi particularmente precoce nas regiões do Mar da Sibéria Oriental e do Mar de Laptev, estabelecendo novos recordes de baixa no Mar de Laptev em junho. O fim da extensão do gelo marinho no verão em 2020 foi o segundo menor no recorde de satélite de 42 anos, com 2012 sendo o ano mínimo recorde.

As temperaturas médias da superfície do mar de agosto em 2020 foram ~ 1-3°C mais altas do que a média de agosto de 1982-2010 na maior parte do Oceano Ártico, com temperaturas excepcionalmente quentes nos mares de Laptev e Kara que coincidiram com a perda precoce de gelo marinho neste região.

Durante julho e agosto de 2020, a produtividade primária do oceano regional no Mar de Laptev foi ~ 2 vezes maior em julho e ~ 6 vezes maior em agosto em comparação com suas respectivas médias mensais.

As baleias Bowhead têm sido um recurso básico para os povos indígenas costeiros por milênios e são adaptadas de forma única para o ecossistema marinho ártico. O tamanho da população do Ártico Pacífico aumentou nos últimos 30 anos, provavelmente devido aos aumentos na produção primária do oceano e ao transporte para o norte do zooplâncton de que se alimentam.

Mudanças nas temperaturas do ar, tempestades, gelo marinho e condições do oceano se combinaram para aumentar as taxas de erosão do permafrost costeiro, em regiões onde uma alta proporção de residentes do Ártico vive e as atividades industriais, comerciais, turísticas e militares estão se expandindo.

Na terra

A temperatura média anual do ar na superfície da terra no Ártico, medida entre outubro de 2019 e setembro de 2020 foi a segunda mais quente desde que a manutenção de registros começou em 1900 e foi responsável por conduzir uma cascata de impactos nos ecossistemas árticos durante o ano.

Nove dos últimos 10 anos viram temperaturas do ar pelo menos 1°C acima (2,2°F) da média de 1981-2010. As temperaturas do Ártico nos últimos seis anos excederam os recordes anteriores.

As temperaturas excepcionais do ar quente da primavera na Sibéria resultaram em extensão recorde de cobertura de neve em junho no Ártico da Eurásia, conforme observado nos últimos 54 anos.

Os incêndios florestais extremos em 2020 na República Sakha do norte da Rússia coincidiram com temperaturas incomparáveis ​​do ar quente e perda recorde de neve na região.

Desde 2016, as tendências de verdura da tundra divergem fortemente por continente, diminuindo drasticamente na América do Norte, mas permanecendo acima da média de longo prazo na Eurásia.

De setembro de 2019 a agosto de 2020, a camada de gelo da Groenlândia experimentou uma perda de gelo maior do que a média de 1981-2010, mas substancialmente menor do que a perda recorde de 2018/19.

As geleiras e mantos de gelo da Groenlândia continuaram uma tendência de perda de gelo significativa, dominada em grande parte pela perda de gelo do Alasca e do Ártico Canadá. (ecodebate)

Brasil é premiado como ‘Fóssil Colossal’

Barrado em aniversário do Acordo de Paris, Brasil é premiado como ‘Fóssil Colossal.

O Brasil conquistou dois troféus do prêmio de “Fóssil Colossal” dos últimos 5 anos na categoria “Não protege sua população dos impactos das mudanças climáticas” e “Reduz a participação da sociedade civil”.

A irônica homenagem é um reconhecimento simbólico e não oficial que destaca um país por ações prejudiciais ao clima. Segundo os organizadores, o troféu é dado aos países que se esforçaram mais para fazer menos e que deram o seu melhor para praticar o pior pelo meio ambiente. Anunciado em 11/12/20, véspera da Cúpula de Ambição Climática, que marcou o aniversário de 5 anos do Acordo de Paris, e foi um evento preparatório para a COP26, que será realizada na Escócia em 2021.

Esta é a 3ª vez em que Bolsonaro leva o Brasil a receber o prêmio da CAN. Em 2018, o país levou o troféu depois de o então presidente eleito ter anunciado que o país não sediaria a próxima conferência climática e por ainda ameaçar tirar o Brasil do Acordo de Paris; em 2019, pela tentativa de legalizar a grilagem. Na cerimônia o país foi descrito como uma nação governada por “Jair Capitão Motosserra Bolsonaro” que parece estar tentando “transformar os pulmões do mundo no pior lugar do planeta para ser uma árvore”.

O “Fóssil Colossal” é uma variação do tradicional troféu “Fóssil do Dia” da Rede Internacional de Ação Climática (CAN), que reúne mais de 1,3 mil organizações ambientais de todo o mundo. Ele é dado durante as COPs (cúpulas do clima da Organização das Nações Unidas) como reconhecimento aos países que mais obstruem as negociações. Como 2020 marca os primeiros cinco anos desde que o acordo foi fechado e como a conferência não foi realizada por causa da pandemia, os organizadores optaram por premiar com um “Fóssil dos últimos 5 anos” quem se destacou no período.

Ontem a ONU anunciou que o Brasil não estará entre os participantes da Cúpula da Ambição Climática porque a atualização de seus compromissos com Paris (as NDCs) foi considerada inferior à meta existente. O Acordo exige que a revisão das metas eleve a ambição climática dos países, e pelas regras da cúpula de amanhã, apenas os atores que tenham planos ambiciosos poderiam se apresentar.

Outros premiados

Os Estados Unidos também foram premiados duplamente “por não contribuir com o financiamento climático” e por ter sido “o pior país para o clima dos últimos 5 anos”. Na cerimônia, foi destacado que os EUA são o único país a sair do Acordo de Paris, embora seja um dos principais responsáveis pelos níveis de emissão de gases de efeito estufa que estão alterando a dinâmica climática do planeta.

A Austrália, que também não foi convidada para o evento de amanhã, recebeu o prêmio da CAN por não se comprometer com a meta de 1,5C de aquecimento máximo da Terra até 2050. A cerimônia de premiação destacou que o país é um dos maiores exportadores de carvão e tem se negado a integrar o esforço internacional para abandonar essa fonte fóssil e altamente poluidora de energia. O Japão também levou um prêmio por manter projetos de carvão, enquanto a Rússia foi premiada por perseguir seus ativistas ambientais. (ecodebate)

Economia Ecológica, crescimento populacional e degradação ambiental

“Acreditar que o crescimento econômico exponencial pode continuar infinitamente num mundo finito é coisa de louco ou de economista” - Kenneth Boulding (1910-1993).
São muitos os autores que expressaram preocupação com os efeitos do crescimento populacional sobre a escassez de recursos naturais e com a pressão demográfica sobre a degradação do meio ambiente.

No entanto, há muita resistência em ver o lado do crescimento populacional que funciona como um problema social e econômico.

Os economistas ecológicos aceitam que a população global não pode crescer para sempre. Mas artigos discutindo a problemática do crescimento populacional e as perspectivas de minimizá-lo são raros na literatura sobre economia ecológica. Mesmo esses trabalhos que tratam a população quase exclusivamente como uma questão relacionada à escala da atividade humana. Mas as muitas maneiras pelas quais a taxa de crescimento populacional e as pressões demográficas locais geram impactos sociais e sociais negativos permanecem amplamente desarticuladas. A questão da regulação da fecundidade continua sendo um tabu no meio acadêmico e político.

Artigo de Jane N. O’Sullivan da Universidade de Queensland, publicado na revista acadêmica Ecological Economics (Junho/2020), discute como a Economia Ecológica vê a relação entre população e desenvolvimento e argumenta que a estabilização da população não é apenas necessária para garantir a sustentabilidade, mas pode ser uma alavanca poderosa em um ciclo virtuoso de efeitos, diminuindo o consumo de recursos e os impactos ambientais, revertendo a desigualdade de renda e minando a alavancagem do capital sobre o trabalho. Aprofundar neste debate pode ser um ganho para a agenda de pesquisa da Economia Ecológica.

A autora observa que graças aos avanços científicos e tecnológicos a humanidade progrediu e floresceu, desmentindo as preocupações malthusianas sobre a superpopulação. Porém, todo o enriquecimento humano ocorreu às custas do empobrecimento ambiental. Assim, para a Economia Ecológica a vitória humana tem sido uma vitória de Pirro, pois se deu degradando os ecossistemas e com outras espécies pagando o preço.

A questão crucial é sobre a capacidade de carga do Planeta? A autora considera o conceito valioso, mas questiona o seu cálculo. Poderíamos debater os determinantes de população ótima, antropocêntrica ou ecocêntrica. As visões sobre isso diferem amplamente, especialmente sobre quanto deve ser deixado para natureza, mas sempre será muito menor do que a capacidade máxima. Mas sem dúvida, em todos os países da Terra hoje, as perspectivas para o florescimento sustentável para humanos e outras espécies seria melhor com menos pessoas.

A relutância em identificar a população como um problema geralmente decorre de uma crença de que nada pode ser feito sobre isso e que é um assunto moralmente deplorável, geralmente identificado como “controle forçado da natalidade”. Tornou-se politicamente correto afirmar que o crescimento da população já está a caminho de se estabilizar sem maiores intervenções, ou que é melhor abordado por meios indiretos, incluindo redução da pobreza e mais educação para as meninas.

A autora considera que essas declarações minam a vontade política e o apoio público ao planejamento familiar. Infelizmente, a declaração é enganosa em vários aspectos. Existe um vasto espectro de intervenções possíveis para efetivar os direitos sexuais e reprodutivos. A meta de universalização da saúde reprodutiva que foi colocada na CIPD do Cairo, em 1994, nos ODMs dos anos 2000 e nos ODS de 2015 não foram efetivados.

Em contraste, os declínios rápidos da fecundidade estão relacionados ao planejamento familiar. O gráfico abaixo mostra 3 países que tinham taxas de fecundidade acima da média mundial na década de 1960 e tiveram uma transição muito rápida até ficarem abaixo do nível de reposição nos anos 2000. O caso do Irã é destaque, pois a TFT estava em quase 7 filhos por mulher no quinquênio 1980-85 e com a política de planejamento familiar (com apoio do aiatolá Khomeini) caiu para menos de 2 filhos por mulher no ano 2000.
Frequentemente, o espantalho do “controle coercitivo da natalidade” é usado para desacreditar os verdadeiros defensores dos direitos sexuais e reprodutivos. Uma razão pela qual o crescimento populacional é omitido em grande parte da literatura econômica, é que ele é visto como pouco relevante para os países industrializados. O mundo desenvolvido já alcançou taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição e, portanto, as populações nacionais estariam em rota de declínio. Nestes países a imigração é um tópico ainda mais incômodo do que o controle da natalidade.

Alguns autores dizem que o crescimento populacional nos países em desenvolvimento não importa por causa da baixa pegada ecológica. Contudo, pessoas pobres que vivem em comunidades em rápido crescimento são as maiores beneficiárias da redução ou reversão do crescimento, pois podem aproveitar o “bônus demográfico”, ao mesmo tempo em que facilita a proteção dos ecossistemas e da biodiversidade. Portanto, é um absurdo que as pessoas que levantam a questão da população sejam acusados de “culpar os pobres”.

Economistas ecológicos tendem a concordar que uma população humana estável é necessária para uma economia em estado estacionário. Neomalthusianismo virou um termo depreciativo. Mas existe uma diferença entre malthusianismo (que quer controlar a população via taxas de mortalidade) e o neomalthusianismo voluntário que propões a livre redução do tamanho da prole.

Há uma falsa dicotomia entre reduzir a população e reduzir o consumo: “Os recursos finitos implicam que a população deve eventualmente estabilizar. Nossa única escolha é controlá-lo conscientemente, humanamente e democraticamente ou esperar por limites reais para fazer isso por nós”.

Muito frequentemente, as emissões de gases de efeito estufa são usadas como substituto para “impacto ambiental”, e mesmo assim, os dados usados se aplicam apenas o uso de combustível fóssil, sem contar o desmatamento, as emissões da agricultura e pecuária ou a degradação de solos com sobre pastoreio.

A autora conclui mostrando que os economistas ecológicos raramente defendem a estabilização populacional de forma proativa para ajudar a conduzir o navio econômico para um curso sustentável. Ela argumenta que a estabilização da população não é apenas necessária, mas pode ser uma alavanca poderosa em um ciclo virtuoso de efeitos, diminuindo recursos do consumo e danos ambientais e revertendo a desigualdade de renda.

Ao contrário da crença popular, esses efeitos não são multigeracionais no intervalo de tempo, mas relativamente rápidos. Os países que adotaram o planejamento familiar voluntário demonstram que a redução da fecundidade eleva rapidamente as finanças familiares e a qualidade de educação e cuidados de saúde das crianças. Quando essas coortes menores atingem a idade produtiva, o desemprego diminui e os padrões de emprego melhoraram. Quanto mais cedo a mudança for iniciada, mais cedo esses grandes dividendos serão realizados. Os países do leste europeu são a prova que a transição da fecundidade é fundamental para a melhoria da qualidade de vida da população.

Problemas ambientais na sociedade e população.

Os três grandes objetivos da ecologia a economia são:

(1) Reduzir o impacto ambiental das atividades humanas;

(2) Redistribuir a renda e a riqueza dentro e entre países;

(3) Promover a transição de uma sociedade consumista para uma sociedade convivial e participativa.

Assim, reverter o crescimento populacional contribui substancialmente para todos os três objetivos. Portanto, é hora de realizar um tratamento mais rico e integrado da dinâmica demográfica. (ecodebate)

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

UE estimula a retomada verde para maior redução das emissões

União Europeia estimula a retomada verde para maior redução das emissões.
União Europeia estimula a retomada verde para maior redução das emissões.

Celebrados em meio à pandemia, cinco anos do Acordo de Paris reforçam a necessidade de cooperação entre nações.

Ao buscar soluções inovadoras para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e impulsionar a retomada da economia, a União Europeia estimula que os países signatários do Acordo de Paris façam o mesmo.

Colocar a economia de volta aos trilhos após os impactos da pandemia do coronavírus e ao mesmo tempo combater as mudanças climáticas. É com este desafio que a União Europeia (UE) saúda o quinto aniversário do Acordo de Paris, comemorado neste dia 12 de dezembro, período que marca também a data na qual os 189 países signatários devem atualizar as suas metas nacionais.

A expectativa é que, até o final do mês, os países apresentem metas mais ambiciosas do que as estipuladas em 2015. A Comissão Europeia já sugeriu que a nova meta da União Europeia para 2030 seja a redução de no mínimo 55% da emissão de gases do efeito estufa em relação aos níveis de emissão de 1990, uma redução mais robusta do que a meta original de pelo menos 40%.

O aumento da meta estabelecida pelo bloco europeu dentro do Acordo de Paris é estimulado por bons resultados já alcançados pela União Europeia até então. Em 2019, por exemplo, o nível de emissões registrado foi 25% abaixo do nível de 1990, enquanto o produto interno bruto cresceu 62% no mesmo período. No entanto, por ser responsável de 7.5% das emissões globais de gases do efeito estufa, a União Europeia sabe que seu esforço para cumprir as metas só será válido se for seguido por outras grandes economias, por isso a retomada verde será prioridade da diplomacia e dos investimentos externos do bloco nos próximos anos.

Pacto Verde Europeu – Em dezembro de 2019, a União Europeia lançou o Pacto Verde Europeu, sua nova agenda que reforça e amplia as metas do Acordo de Paris, tendo como ponto central o que chamam “neutralidade climática” até 2050 (ou seja, zerar o balanço das emissões de gases do efeito estufa: cada tonelada residual emitida devendo ser equilibrada com medidas de compensação, como o plantio de árvores, por exemplo). Com medidas que vão do campo às cidades, da restauração de florestas à eficiência energética, o ambicioso Pacto Verde Europeu é a nova estratégia de crescimento que promete revolucionar a economia do bloco, gerar empregos e formar uma sociedade mais justa e conectada.

“Um ano depois de termos anunciado o ‘Green Deal’, estou encorajada pelo fato de estarmos muito determinados a seguir por este caminho mesmo com a pandemia. Os líderes europeus têm dito que qualquer ação que tomarmos agora para sair da pandemia terá que apoiar a transição verde. Negligenciamos por muito tempo o que a deterioração ambiental pode causar a todos. Junto a esse esforço também estamos trabalhando na transição digital”, afirma a diretora de Ação Climática da Comissão Europeia, Yvon Slingenberg.

Para alcançar a neutralidade climática em 2050, a União Europeia terá de implementar ações concretas para reduzir a zero o balanço das emissões de gases de efeito estufa em setores essenciais como energia, transporte e indústria, e implementar ações de compensação e sequestro de carbono, como a recuperação de florestas e áreas degradadas, quando for o caso. Em todas estas ações, esforços para uma maior eficiência energética serão uma prioridade. Responsável por 75% das emissões de gases do efeito estufa do bloco, a produção e utilização de energia tem papel central na ação climática proposta pela União Europeia. Dependente de energia fóssil, em especial gasolina, gás natural e carvão, o bloco pretende avançar na eletrificação do transporte, começando pelos carros elétricos, e também investir em pesquisa e desenvolvimento para alcançar a produção de hidrogênio limpo e renovável, gerado principalmente por energia eólica e solar. Também o tema da economia circular e da utilização mais eficaz dos recursos é ponto central no Green Deal para atingir a neutralidade climática.

Ao buscar soluções inovadoras para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e impulsionar a retomada da economia, a União Europeia estimula que os países signatários do Acordo de Paris façam o mesmo.

A meta ousada exige um investimento ambicioso. Assim, do fundo de aproximadamente 1 trilhão de Euros, que está para ser aprovado pelo Parlamento Europeu para ajudar os países membros a se recuperarem da pandemia, não apenas até 30% deve ser destinado diretamente para investimentos ligados ao clima, mas também todos os projetos financiados deverão ser compatíveis com a luta das mudanças climáticas respeitando um princípio “Do No Harm”. Além do estímulo à energia limpa, o investimento deverá subsidiar outras metas do Pacto Verde Europeu, como o plantio de três bilhões de árvores até 2030, a revitalização de 25 mil quilômetros de rios e a proteção de 30% do território terrestre e marinho europeu.

Alinhar o crescimento econômico ao combate às mudanças climáticas já é uma prioridade do Plano de Trabalho 2021 da Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia, apresentado em outubro passado por sua presidente Ursula von der Leyen. Orientado pelas graves consequências da Covid-19, o plano aproveita a oportunidade oferecida pela pandemia para concretizar as ambições da União Europeia para a transição verde. Alguns destaques do plano são o início da implementação das estratégias de mobilidade urbana, de modernização de prédios, de redução do desperdício de comida e de estímulo à agricultura orgânica.

“Nossa abordagem para a transição em direção a uma sociedade próspera, de baixo carbono e resiliente, com todo o choque que experimentamos com a Covid, é que todas as políticas e todas as ações têm que apoiar esta transição”, finaliza Yvon Slingenberg, sinalizando que a União Europeia está muito próxima de solucionar a equação entre crescimento econômico e respeito ao meio ambiente.

5 anos do Acordo de Paris — Os próximos passos do Acordo de Paris seriam dados na 26ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP26. Com a pandemia, a conferência, a ser realizada em Glasgow (Escócia), foi adiada para novembro de 2021. Ainda assim, espera-se que os países, incluindo o Brasil, apresentem suas novas metas até o final de dezembro de 2020, com o objetivo de conter o aquecimento do planeta abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, e se possível, limitar a 1,5°C, até 2030.

Para fortalecer a reposta global à crise climática, a União Europeia colocou essa agenda no centro dos seus esforços diplomáticos nos próximos anos e pretende apoiar as economias de fora do bloco, como o Brasil, a aumentarem a sua ambição dentro do Acordo de Paris. Assim, promove a troca de diálogo e conhecimento entre pares com grandes economias não europeias, visando envidar esforços para o atingimento dos objetivos do Acordo de Paris.

'Green Deal' europeu busca aumentar corte de emissões para 55% em 2030.

Entre 1990 e 2018, bloco europeu reduziu suas emissões em 25%. Fatia das renováveis no consumo de energia subiu de 9,6% em 2004 para 18,9% em 2018.

Neste contexto, o programa Strategic Partnerships for the Implementation of the Paris Agreement (SPIPA) está sendo implementada em estreita colaboração com a Comissão Europeia e o Serviço Europeu de Ação Externa, com financiamento do Instrumento de Parceria da UE e do Ministério Federal Alemão para o Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear (BMU). O programa também pretende contribuir para a melhoria da consciência pública, inclusive na comunidade empresarial, sobre os desafios e oportunidades associados à implementação do Acordo de Paris. (ecodebate)

Emissões de CO2 caíram em 2,4 bilhões de toneladas devido à pandemia

De acordo com estudo, emissões das indústrias de produção de metal, produtos químicos e manufatura diminuíram em até ⅓ durante o lockdown.
A quarentena imposta em várias partes do mundo por conta da Covid-19 fez com que as emissões de dióxido de carbono fóssil diminuíssem em cerca de 2,4 bilhões de toneladas em 2020, uma queda recorde segundo o Projeto de Carbono Global do Future Earth. Essa e outras informações sobre o meio ambiente foram publicadas no Earth System Science Data em 11/12/2020 por cientistas do programa.

A queda é consideravelmente maior do que as reduções anteriores, que foram de 0,5 bilhão de toneladas de CO2 (GtCO2) em 1981 e 2009, 0,7 GtCO2 em 1992 e 0,9 GtCO2 em 1945. Isso significa que, em 2020, as emissões de CO2 fóssil estão previstas em aproximadamente 34 GtCO2, 7% a menos do que em 2019.

As emissões causadas por meios de transporte respondem pela maior parte da redução global. As de transportes de superfície, como as viagens de carro, caíram aproximadamente pela metade no pico dos bloqueios. Em dezembro de 2020, por exemplo, as emissões do transporte rodoviário e da aviação ainda estavam abaixo dos níveis de 2019, em aproximadamente 10% e 40%, respectivamente, devido às restrições contínuas.

"Visto que precisamos reduzir as emissões globais em mais de 7% o ano até 2030, essa análise mostra que as respostas sociais por si só não irão conduzir as reduções sustentadas necessárias para combater as mudanças climáticas de forma eficaz", explicou Josh Tewksbury, diretor do Future Earth, em comunicado. "Juntamente com as transformações de energia, políticas inteligentes em áreas como transporte livre de emissões, e o futuro do trabalho podem ajudar a manter essas reduções observadas."

A diminuição das emissões foi mais evidente nos Estados Unidos (-12%) e nos países da União Europeia (-11%), onde as restrições causadas pela Covid-19 acentuaram as reduções anteriores nas emissões do uso do carvão. O mesmo não aconteceu na China, por exemplo, onde a queda foi de apenas 1,7%.

Globalmente, o pico da redução das emissões em 2020 ocorreu na primeira quinzena de abril, quando as medidas de bloqueio atingiram o seu máximo, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. As emissões das indústrias de produção de metal, produtos químicos e manufatura, por exemplo, caíram em até um terço durante o lockdown.

Apesar das emissões mais baixas em 2020, o nível de CO2 na atmosfera continua a crescer cerca de 2,5 partes por milhão (ppm), atingindo 412 ppm em média ao longo do ano, quantidade 48% acima dos níveis pré-industriais. "Embora as emissões globais não tenham sido tão altas quanto no ano passado, elas ainda somavam cerca de 39 bilhões de toneladas de CO2 e inevitavelmente levaram a um novo aumento de CO2 na atmosfera", explicou Pierre Friedlingstein, coautor do estudo. "O nível de CO2 atmosférico e, consequentemente, o clima mundial, só se estabilizarão quando as emissões globais de CO2 forem próximas de zero". (globo)

A água como mercadoria no mercado futuro de Wall Street

O Hidronegócio avança no Mercado Futuro.
Hidronegócio, a distopia que já bate a porta.

Água passa a ser cotizada em Wall Street e, como o petróleo, terá seu preço definido pelos cassinos financeiros. Cresce resistência contra sua privatização — inclusive, com apoio do Papa. Mas enfrentar Oligarquia da Água requererá novas estratégias.

Nada de novo sob o sol, o capitalismo tudo transforma em mercadoria, cuja mercadoria mais vil é o ser humano (Marx em algum lugar dos Manuscritos). Um dia chegaria também na água, como chegou na terra, na biodiversidade, na cultura, nas religiões, nas pessoas humanas, inclusive nos órgãos humanos. A notícia é que a água começou a ser cotizada como uma comoditie no mercado futuro de Wall Street, cujo preço flutuará “como fazem o petróleo, o ouro e o trigo, tendo como base o índice Nasdaq Veles California Water (NQH2O) informou hoje CME Group” (El País).

O preço do metro cúbico da água terá como valor de mercado seu custo na Califórnia, onde o agro e hidronegócio escasseou a quantidade de água pelo uso intenso na irrigação. Portanto, em qualquer lugar do mundo, inclusive nos países pobres, o valor da água será referenciado no seu custo na Califórnia. Como toda comoditie, o valor da água será universal e único.

O mundo das ciências sociais define o capitalismo como uma forma organizada e racional de acumulação do capital. Baseado na propriedade privada intocável – por isso a reação ao Papa Francisco que disse na Fratelli Tutti não ser a propriedade privada uma deusa intocável -, na transformação de tudo e todos em mercadoria, na obsessão organizada de acumular bens e riquezas, na sacralidade do mercado, o capital avança agora para um bem essencial a todas as formas de vida: a água.

Como a água tem múltiplos usos – o capital só fala deles, mas não dos múltiplos valores -, ela pode ser privatizada em múltiplas atividades econômicas: agricultura, indústria, abastecimento doméstico, engarrafamento etc. A decisão do Congresso Brasileiro de privatizar o saneamento básico atende aos interesses de empresas privadas em se apossar do abastecimento doméstico de mega cidades como São Paulo e outras no mundo.

Até agora havia – e há – resistências da sociedade civil no mundo inteiro. Também de certos setores religiosos, como Francisco na Laudato Si’. Houve guerras contra a privatização da água em Cochabamba e outros lugares do mundo. Centenas de cidades, cujos serviços de água tinham sido privatizados, recuaram em favor de serviços públicos. A razão foi simples, os preços subiram de forma exorbitante e a qualidade do abastecimento piorou. Mas, essas resistências apenas fazem com que a Oligarquia Internacional da Água (Ricardo Petrella) mude e aperfeiçoe suas estratégias.

Um exemplo claro se dá na Doutrina Social da Igreja Católica. Enquanto Francisco condena a privatização da água na Laudato Si’ (LS 27-31), um dicastério escreve “Aqua fons vitae” e, nas entrelinhas, como o diabo gosta, aceita a privatização da água (AFV 30). Aliás, um documento estranho, só encontrável em inglês e de responsabilidade do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Mas, esse documento merece uma análise à parte.

Sabemos que estamos numa mudança de época, outros falam até numa mudança de era. A humanidade e a Terra serão completamente diferentes do que são hoje até o final desse século. O futuro que a humanidade lá encontrará, entretanto, ninguém sabe qual é, mas o capitalismo tem certeza que nele tudo estará privatizado. (ecodebate)

domingo, 27 de dezembro de 2020

UE firma rígida meta climática para reduzir emissões de CO2

União Europeia firma meta climática mais rígida para reduzir emissões de CO2 em 55% até 2030.
Os líderes europeus, reunidos em Bruxelas, chegaram a um acordo para reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) em 55% até 2030, em relação aos níveis de 1990.

O acordo foi anunciado pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, depois de um longo debate que se prolongou durante a madrugada.

“A Europa é líder na luta contra as alterações climáticas. Decidimos reduzir as nossas emissões de gases de efeito de estufa pelo menos 55% até 2030”, escreveu Michel em sua conta no Twitter.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o acordo agora alcançado permite colocar a Europa “no caminho claro para a neutralidade climática em 2050”.

A nova meta visa a colocar a União Europeia (UE) no caminho certo para alcançar emissões zero até 2050, prazo que os cientistas defendem que o mundo deve cumprir para evitar os impactos mais catastróficos nas mudanças climáticas.

Para Bruxelas, o acordo oferece a possibilidade de a Europa afirmar a sua liderança climática no cenário global. A União Europeia vai apresentar sua meta numa reunião virtual de líderes mundiais das Nações Unidas em 12/12/2020.

Em 2019, o Conselho Europeu já se tinha comprometido a atingir a neutralidade climática em 2050, tendo a Polônia – com mais de 75% de sua economia e cerca de 80 mil mineiros dependentes da indústria do carvão – se recusado assinar a declaração.

Os líderes dos 27 mantinham-se, no entanto, reticentes em aceitar a nova proposta da comissão de reduzir as emissões em 55% até 2030, substituindo a meta anteriormente estipulada na Lei Europeia do Clima que previa um corte de 40% das emissões.

Já o Parlamento Europeu (PE) aumentou as ambições da comissão, pedindo um corte de 60% das emissões em 2030, na sessão plenária de outubro. Para os eurodeputados, essa é a única maneira de a União Europeia “estar em linha com a ciência”.

O acordo vai permitir reformar o mercado de carbono da União Europeia, acelerar a mudança para veículos elétricos e mobilizar os investimentos de carbono extremamente baixos necessários – incluindo uma exigência de investimento extra no setor da energia de 350 mil milhões de euros por ano nesta década.
A metade mais pobre da população global foi responsável por apenas 7% das emissões globais em 25 anos.

Ricos emitem o dobro de CO2 que a metade mais pobre da população.

Entre 1990 e 2015, o país mais rico do mundo foi responsável por 15% das emissões globais, segundo relatório da Oxfam. Viagens de avião e veículos SUV estão entre os grandes vilões do clima, alerta a ONG.

“Bazuca” aprovada

Em 10/12/2020  os 27 já tinham chegado a acordo sobre o orçamento para a União Europeia e sobre o plano de recuperação para combater a crise provocada pela pandemia.

O plano é também conhecido por “bazuca”, por ser uma forte injeção de dinheiro nas economias mais afetadas pela crise provocada pela pandemia.

“Acordo sobre o Quadro Financeiro Plurianual e o Pacote de Recuperação ‘NextGenerationEU’. Podemos começar agora com a implementação e reconstruir as nossas economias”, acrescentou Charles Michel no Twitter.

O presidente do Conselho Europeu disse que este pacote de recuperação, no montante global de 1,8 trilhão, está a postos para impulsionar “a transição verde e digital” da Europa.

O pacote, constituído por um orçamento plurianual de 1,08 bilhão para os próximos sete anos e um Fundo de Recuperação de 750 bilhões, havia sido já acordado pelo Conselho Europeu em julho, mas estava bloqueado por um veto da Hungria e Polônia, que discordavam do mecanismo associado sobre o Estado de Direito, agora ultrapassado.

O compromisso negociado pela atual presidência alemã do Conselho da União Europeia, Budapeste e Varsóvia, aprovado pelos restantes 25 Estados-membros, prevê que a suspensão de fundos, contemplada no mecanismo em caso de violações do Estado de Direito, só pode ser efetiva após decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia e que não tenha efeitos retroativos, aplicando-se apenas ao futuro Quadro Financeiro Plurianual.

O texto de conclusões do Conselho destaca, nesse capítulo, que a condicionalidade ao respeito do Estado de Direito será aplicada de forma “objetiva, justa e imparcial” a todos os Estados e que a Comissão Europeia não pode propor penalizações – especialmente a suspensão de fundos comunitários – até haver sentença do Tribunal de Justiça sobre eventual recurso de um país visado.
O compromisso responde às inquietações da Hungria e Polônia, dois países com litígios abertos com Bruxelas por denúncias de violações do Estado de Direito e que receavam que o mecanismo fosse utilizado como arma política. Por outro lado, não modifica a essência do regulamento, que contempla pela primeira vez o congelamento de fundos por atropelos nessa matéria, e deverá garantir o necessário aval do Parlamento Europeu, que se opunha firmemente a um enfraquecimento do mecanismo. (ecodebate)

Recuperação verde pós-pandemia é essencial para reduzir emissões de gases estufa

Recuperação verde pós-pandemia é essencial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Recuperação verde pós-pandemia é essencial para fechar a lacuna de emissões, afirma relatório da ONU. Políticas corretas poderiam cortar até 25% das emissões previstas para 2030.

•        A recuperação verde pós-pandemia pode aproximar as emissões de 2030 dos níveis necessários para limitar o aquecimento em até 2°C. Mais ações seriam necessárias para alcançar a meta de 1,5°C.

•        A queda de até 7% das emissões em 2020 causadas pela pandemia terá um reflexo insignificante sobre a mudança climática.

•        Novas promessas de emissões zero são bem-vindas, mas precisam ser refletidas nos compromissos dos países no âmbito do Acordo de Paris e acompanhadas por ações rápidas.

Uma recuperação verde pós-pandemia poderia cortar até 25% das emissões de gases de efeito estufa previstas para 2030 e aproximar o mundo do alcance da meta de 2°C do Acordo de Paris sobre Mudança Climática, de acordo com um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2020 constata que, apesar da queda das emissões de dióxido de carbono causadas pela pandemia de COVID-19, o mundo está caminhando para um aumento de temperatura superior a 3°C ainda neste século.

Entretanto, se os governos investirem na ação climática como parte da recuperação da pandemia e solidificarem os compromissos para zerar as emissões líquidas, com mais comprometimento na próxima reunião climática – que ocorrerá em Glasgow em novembro de 2021, podem levar as emissões a níveis amplamente consistentes com a meta de 2°C.

Os governos ainda poderiam alcançar a meta mais ambiciosa de 1,5°C ao combinar uma recuperação verde pós-pandemia com movimentos rápidos para incluir novos compromissos de emissões líquidas zero na atualização de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) do Acordo de Paris, acompanhados de ação rápida e mais forte.

“O ano de 2020 está a caminho de ser um dos mais quentes já registrados. Enquanto isso, incêndios florestais, tempestades e secas continuam a causar estragos”, afirmou Inger Andersen, Diretora Executiva do PNUMA. “Porém, o Relatório sobre a Lacuna de Emissões do PNUMA mostra que uma recuperação verde pós-pandemia pode reduzir uma grande fatia das emissões de gases de efeito estufa e ajudar a frear a mudança climática. Convoco os governos a apoiarem uma recuperação verde na próxima etapa das intervenções fiscais no contexto da COVID-19 e a aumentarem significativamente suas ambições climáticas em 2021”.

A cada ano, o Relatório sobre a Lacuna de Emissões avalia a diferença entre as emissões previstas e os níveis consistentes com as metas do Acordo de Paris para limitar o aquecimento global neste século abaixo de 2°C – almejando 1,5°C. O relatório conclui que em 2019 as emissões totais de gases de efeito estufa, incluindo a mudança no uso do solo, atingiram um novo recorde de 59,1 gigatoneladas de CO2 equivalente (GtCO2e). As emissões globais de gases de efeito estufa cresceram em média 1,4% ao ano desde 2010, com um aumento veloz de 2,6% em 2019 devido à intensificação dos incêndios florestais.

As emissões de dióxido de carbono devem cair até 7% em 2020, segundo estimativas, como reflexo da redução de viagens, menor atividade industrial e menor geração de eletricidade no contexto da pandemia. Entretanto, esta queda se traduz em uma redução de apenas 0,01°C no aquecimento global até 2050. Enquanto isso, as NDCs continuam sendo inadequadas.

Recuperação verde é urgente

Uma recuperação verde pós-pandemia poderia reduzir até 25% das emissões esperadas para 2030, com base nas políticas em vigor antes da COVID-19. Uma recuperação verde colocaria as emissões em 2030 a 44 GtCO2e, ao invés dos 59 GtCO2e previstos – número muito superior às reduções previstas nas NDCs incondicionais, deixando o mundo no caminho para 3,2°C de aumento da temperatura.

Esta recuperação verde colocaria as emissões dentro da faixa que dá 66% de chance de manter as temperaturas abaixo de 2°C, mas ainda seria insuficiente para atingir a meta de 1,5°C.

As medidas para priorizar a recuperação fiscal verde incluem apoio direto a tecnologias e infraestrutura de emissões zero, redução dos subsídios aos combustíveis fósseis, barrar novas usinas de carvão e promover soluções baseadas na natureza – incluindo a restauração de paisagens em larga escala e reflorestamento.

Até agora, o relatório conclui que as ações para uma recuperação fiscal verde têm sido limitadas. Cerca de um quarto dos membros do G20 tem dedicado parte de seus gastos, até 3% do PIB, a medidas de baixo carbono.

No entanto, ainda existe uma oportunidade significativa para os países implementarem políticas e programas verdes. O relatório conclui que os governos devem aproveitar esta oportunidade na próxima etapa das intervenções fiscais frente à COVID-19.

O relatório também constata que o número crescente de países se comprometendo com metas de emissões líquidas zero até meados do século é um “desenvolvimento significativo e encorajador”. No momento da conclusão do documento, 126 países, representando 51% das emissões globais de gases de efeito estufa, haviam adotado, anunciado ou estavam considerando metas de emissão zero.

Porém, para permanecerem viáveis e confiáveis, estes compromissos devem ser traduzidos urgentemente em políticas e ações fortes em curto prazo e refletidos nas NDCs. Os níveis de ambição no Acordo de Paris ainda devem ser triplicados para seguirmos no caminho de 2°C e aumentados em pelo menos cinco vezes para o caminho de 1,5°C.
Reformar o comportamento de consumo crítico

Cada ano, o relatório também analisa o potencial de setores específicos. Em 2020, considera o comportamento dos consumidores e os setores de transporte marítimo e aéreo.

Os setores de transporte marítimo e aviação, que respondem por 5% das emissões globais, requerem atenção. Melhorias na tecnologia e nas operações podem aumentar a eficiência do combustível, mas o aumento projetado da demanda significa que isto não resultará em descarbonização e reduções absolutas de CO2. Ambos os setores precisam combinar a eficiência energética com um rápido abandono dos combustíveis fósseis, conclui o relatório.

O estudo ainda aponta que uma ação climática mais forte deve incluir mudanças no comportamento de consumo do setor privado e dos indivíduos. Cerca de dois terços das emissões globais estão ligados às residências privadas, quando se utiliza a contabilidade baseada no consumo.

Ricos têm a maior responsabilidade: emissões do 1% mais rico da população mundial representam mais do que o dobro das emissões dos 50% mais pobres. Este grupo precisará reduzir sua pegada em 30 vezes para se manter alinhado às metas do Acordo de Paris.

Possíveis ações para apoiar a redução do consumo de carbono incluem a substituição de voos domésticos de curta distância por transporte limpo (como ferrovias), incentivos e infraestrutura voltados para bicicletas e compartilhamento de carros, mais eficiência energética das moradias e políticas para reduzir o desperdício de alimentos. (ecodebate)

Mudanças climáticas aceleram a perda de biodiversidade

Um número considerável de metas de biodiversidade existentes e propostas pós-2020 por organizações internacionais correm o risco de ser seriamente comprometidas devido às mudanças climáticas, mesmo se outras barreiras, como a exploração de habitat forem removidas, argumentam os autores de um estudo liderado por Almut Arneth do Instituto Karlsruhe de Tecnologia (KIT).

De acordo com sua análise publicada no PNAS, o aquecimento global acelera a perda de biodiversidade. Vice-versa, medidas para proteger a biodiversidade também podem mitigar os impactos das mudanças climáticas. Os autores sugerem que abordagens flexíveis para a conservação permitiriam respostas dinâmicas aos efeitos das mudanças climáticas nos habitats e nas espécies.

Cerca de um milhão de espécies de plantas e animais estão ameaçadas de extinção em todo o mundo. No entanto, pelo menos 13 das 17 metas de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas dependem da biodiversidade, incluindo a diversidade de espécies, a diversidade genética dentro das espécies e a diversidade dos ecossistemas. A biodiversidade regula processos fundamentais, como a formação do solo e os ciclos de água, gases-traço e nutrientes e, assim, contribui notavelmente para a regulação do clima. A perda contínua de biodiversidade faz com que a humanidade enfrente problemas ecológicos, sociais e econômicos. “Além da superexploração de recursos naturais na terra e na água, ou poluição ambiental, as mudanças climáticas também causam perda de diversidade biológica. Esse impacto aumentará no futuro”, diz Almut Arneth, Professor da Divisão de Pesquisa Ambiental Atmosférica do Instituto de Meteorologia e Pesquisa Climática (IMK-IFU), Campus Alpine do KIT em Garmisch-Partenkirchen. Ela liderou um estudo internacional que agora é publicado nos Anais da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos da América (PNAS) sob o título “As metas de biodiversidade pós-2020 precisam abraçar as mudanças climáticas”.

Metas para a conservação da biodiversidade mundial perdidas

Em seu estudo, cientistas da Alemanha, França, Itália, Espanha, Rússia, África do Sul, México e Japão analisaram as chamadas metas de Aichi para a proteção mundial da biodiversidade, adotadas pela 10ª Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Biodiversidade em Nagoya, prefeitura de Aichi, em 2010 para cumprimento até 2020. A maioria dessas metas será perdida. Além disso, os pesquisadores analisaram o conjunto de metas revisadas de proteção da biodiversidade atualmente negociadas pelas partes para o período após 2020, que devem ser alcançadas até 2030 ou 2050. Eles descobriram que muitas metas existentes ou propostas estão em risco devido ao aquecimento global, mesmo que o aumento médio da temperatura global permanecesse no limite inferior das projeções. “Certamente é um grande desafio, mas também uma oportunidade importante para lidar melhor no nível político com as interações entre mudanças climáticas e perda de biodiversidade, e para coordenar melhor as metas de biodiversidade com o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, explica Arneth. As metas de biodiversidade propostas devem, portanto, considerar as mudanças climáticas de forma muito mais explícita, ela pensa.

As espécies estão deixando reservas naturais

Arneth dá um exemplo: Uma meta de biodiversidade para reservas naturais deve considerar o fato de que a composição e o crescimento da vegetação mudarão com a mudança climática e que certas espécies de plantas e animais irão migrar ou serão ameaçadas, se as condições climáticas estiverem mudando. Por exemplo, a mudança climática faz com que as geleiras das montanhas diminuam. Em regiões semi-áridas, entretanto, os ecossistemas de vales mais baixos dependem do degelo das geleiras no verão. Se este fluxo de água derretida diminuir devido ao recuo das geleiras, a precipitação por si só pode não ser suficiente para abastecer as plantas na bacia com água. Isso também afetará os animais que dependem das plantas.

O estudo ressalta a demanda por uma redução rápida e significativa das emissões antrópicas de gases de efeito estufa e por conter as mudanças climáticas. Vice-versa, também mostra que medidas para proteger a biodiversidade contribuiriam para a proteção do clima. “Uma melhor coordenação de acordos políticos e descobertas científicas pode acelerar a descarbonização urgente da economia e garantir a desaceleração das mudanças climáticas por medidas de proteção da biodiversidade”, resume Arneth. (ecodebate)

Novembro teve temperaturas mais altas para o mês em toda a história

Novembro teve as temperaturas mais altas para o mês em toda a história, diz relatório.

Documento do serviço de mudanças climáticas Europeu aponta que as temperaturas em novembro/2020 foram 0,77°C mais elevada do que a média de 1981 a 2010 e superaram em 0,13°C os recordes anteriores, registrados em 2016 e 2019.
Foto mostra homem de 84 anos tentando salvar casa onde morou por 77 anos em meio a um incêndio em Vacaville/Califórnia, em 19/08/20.

Novembro/2020 foi o mais quente da história mundial, anunciou em 07/12/2020 em um relatório o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia.

De acordo com as análises, as temperaturas de novembro de 2020 foram 0,77ºC mais altas do que a média para o mês dos 30 anos de 1981 a 2010. Também superaram em 0,13ºC os recordes anteriores para esse período, registrados em 2016 e 2019.

Os 12 meses entre dezembro de 2019 e novembro de 2020 registraram temperaturas 1,28ºC superiores na comparação com a era pré-industrial, segundo o balanço.

O período de 2015 a 2020 também representa os 6 anos mais quentes já registrados na história. O resultado aproxima o planeta do primeiro limite estabelecido pelo Acordo de Paris sobre o clima, assinado em 2015 por quase 200 países.

O pacto pretende fazer com que a temperatura do planeta aumente menos que 2ºC – e, se possível, menos que 1,5ºC – em relação à que era na época pré-industrial. O aumento já está próximo de 1,2ºC, e o planeta ganha, em média, 0,2ºC a cada década desde o fim dos anos 1970, aponta o programa Copernicus.

Aquecimento

Embarcação navega entre pedaços de degelo no mar do Ártico em 2019.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou, na semana passada, que 2020 deve ficar no pódio de anos mais quentes. Os dados provisórios deixam este ano, até agora, na segunda posição, atrás apenas de 2016, mas a diferença é tão pequena que a classificação pode mudar.

Ao adicionar os dados de novembro, 2020 ficou mais perto do recorde de 2016, destacou o balanço Copernicus.

“Estes recordes estão de acordo com a tendência, em longo prazo, do aquecimento do planeta“, comentou Carlo Buontempo, diretor do programa europeu sobre mudanças climáticas.

Ele também pediu aos governantes que “observem os recordes como sinais de alerta e busquem as melhores formas de respeitar os compromissos do Acordo de Paris”.

Ativistas das mudanças climáticas esperam que a reunião de cúpula programada pela ONU e o Reino Unido, pelo quinto aniversário do Acordo de Paris, sirva para dar um novo impulso às metas estabelecidas para combater o aquecimento global.

Em novembro, as temperaturas foram especialmente elevadas na Sibéria, no Oceano Ártico, em parte do norte da Europa e dos Estados Unidos, América Latina e oeste da Antártica.

O bloco de gelo do Ártico atingiu o segundo menor nível já visto em 40 anos de medição por satélite. Carlo Buontempo, do programa europeu de mudanças climáticas, descreveu a situação como “preocupante”, e que destaca “a importância de uma vigilância global do Ártico, que registra o aumento da temperatura de modo mais rápido que o resto do mundo”, disse.

Hemisfério Sul

Foto aérea mostra incêndio na ilha australiana de Fraser Island em 30/11/20.

E enquanto o verão no Hemisfério Sul está apenas começando, a Austrália já registrou sua primeira onda de calor, com 48°C em Andamooka, no sul do país, e novos incêndios florestais na Ilha Fraser, incluída no patrimônio mundial da UNESCO.

A Europa registrou o outono mais quente de sua história, com temperaturas quase 1,9ºC mais elevadas que no período de referência, e 0,4ºC superiores ao recorde anterior, do outono de 2006.

A base de dados de satélite do Copernicus para a observação das temperaturas data de 1979, mas o programa também considera dados climáticos até a era pré-industrial para determinar tendências climáticas de longo prazo. (noticias.ambientebrasil)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Observatório climático diz que Brasil deve reduzir emissões em 81% até 2030

Observatório do Clima defende que o Brasil deve reduzir emissões em 81% até 2030.
Proposta da sociedade civil para segunda meta nacional no Acordo de Paris é limitar emissões líquidas a 400 milhões de toneladas de CO2e, zerando desmatamento.

A nova NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) do Brasil para o Acordo do Clima de Paris, a ser submetida neste ano, deveria se comprometer com uma redução de emissões líquidas de 81% até 2030 em relação aos níveis de 2005. Isso significaria chegar ao fim da próxima década emitindo no máximo 400 milhões de toneladas de gases de efeito estufa, medidas em gás carbônico equivalente (CO2e). A emissão líquida atual do Brasil é de cerca de 1,6 bilhão de toneladas de CO2e.

A proposta foi apresentada em 07/12/2020 pelo Observatório do Clima (OC), rede de 56 organizações da sociedade civil. Ela representa significativo aumento de ambição em relação tanto à NDC inicial do Brasil (37% de redução nas emissões líquidas em relação aos níveis de 2005 até o ano 2025, ou 1,3 bilhão de toneladas líquidas de CO2e), quanto em relação à meta indicativa para a nova NDC brasileira (43% de redução até 2030, ou 1,2 bilhão de toneladas).

Tal ambição adicional é necessária para tornar a meta compatível com a limitação do aquecimento global a 1,5oC, tal como preconizado pelo Acordo de Paris. Hoje a meta brasileira é considerada “insuficiente” para cumprir os objetivos do tratado do clima de limitar o aquecimento da Terra a menos de 2°C ou a 1,5°C. Se todos os países tivessem o mesmo grau de ambição do Brasil, o mundo esquentaria 3°C neste século.

Esse necessário aumento de ambição climática não é uma tarefa exclusiva para o Brasil, 6º maior emissor de gases de efeito estufa do planeta. Todos os grandes emissores precisam incrementar suas metas a fim de evitar impactos ainda mais graves que os atuais para pessoas, ecossistemas e a economia. A proposta apresentada hoje pelo OC é a parcela justa de obrigação para o Brasil contribuir para um mundo com mais segurança climática.

Além da meta de redução de emissões, o OC também propõe que o Brasil adote uma série de políticas públicas que facilitam o cumprimento do compromisso, entre elas:

# eliminar o desmatamento em todos os seus biomas até 2030;

# restaurar 14 milhões de hectares em áreas de reserva legal e áreas de preservação permanente entre 2021 e 2030;

# restaurar e recuperar 27 mil hectares em áreas de apicuns e manguezais entre 2021 e 2030;

# recuperar 23 milhões de hectares de pastagens degradadas entre 2021 e 2030;

# implantar 13 milhões de hectares de sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta (LPF) entre 2021 e 2030;

# ter 80% das áreas de lavouras do Brasil cultivadas sob sistema de plantio direto até 2030;

# aumentar em 2 milhões de hectares a área de florestas plantadas no período entre 2021 e 2030;

# atingir pelo menos 106 Giga watts de capacidade instalada de energia elétrica de fontes solar, eólica e biomassa em 2030;

# ampliar em pelo menos 20% a mistura de biodiesel no diesel de petróleo (B20) até 2030;

# eliminar os subsídios a combustíveis fósseis até 2030;

# eliminar a entrada em circulação de novos veículos de transporte urbano de passageiros movidos por motor a diesel até 2030;

# assegurar o desvio de pelo menos 8,1% de todos os resíduos orgânicos de aterros sanitários do país até 2030;

# reciclar pelo menos 12,5% de todo o papel oriundo de resíduos domiciliares até 2030;

# recuperar ou queimar pelo menos 50% de todo o biogás gerado nos aterros sanitários;

# erradicar todos os lixões do país até 2024.

A NDC também contempla ações em adaptação — cada vez mais urgentes diante de impactos irreversíveis das mudanças climáticas, incluindo eventos extremos, principalmente sobre as cidades e zonas costeiras do país. A rede pede que o Plano Nacional de Adaptação, cuja execução foi abandonada pelo governo atual, seja atualizado em 2021 e que as políticas de adaptação levem em conta novas recomendações da ciência sobre ecossistemas terrestres e marinhos, além de incorporar o aumento da resiliência para mulheres e populações vulneráveis. Nesse sentido, demanda-se que sejam concluídos os processos de demarcação de 237 terras indígenas e titulação de 1.175 territórios quilombolas.

A proposta do Observatório do Clima visa a informar a sociedade brasileira e a comunidade internacional sobre o que o país poderia entregar em termos de compromisso, caso o governo levasse a sério as recomendações da ciência para limitar o aquecimento da Terra.

Pelo Acordo de Paris, o Brasil deve submeter à Convenção do Clima das Nações Unidas (a UNFCCC) uma nova NDC, com validade até 2030. Em 2015, ocasião da assinatura do tratado, o país propôs uma meta para o ano 2025. Segundo o acordo, países que tenham NDC até 2025 (caso apenas do Brasil e dos EUA, que saíram do Acordo de Paris) devem submeter uma nova NDC à convenção até 31 de dezembro deste ano. É incerto se o governo brasileiro o fará e com que grau de ambição.

Para calcular a nova meta, o OC se baseou na edição do Emissions Gap Report, do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) de 2019. O relatório anual estima a diferença entre a soma das promessas de redução de emissões dos países no Acordo do Clima e o que é necessário fazer para atingir as metas de Paris. Segundo o relatório, o limite para as emissões globais em 2030, compatível com uma trajetória que assegure pelos menos 66% de chances de limitar o aquecimento global abaixo dos 2°C até o fim deste século, é de 41 GtCO2e em 2030. No entanto, para um aquecimento global limitado a no máximo 1,5°C, as emissões globais em 2030 têm que ser de no máximo 25 GtCO2e, 39% menores em relação às emissões compatíveis com os 2°C de aquecimento global até 2100. O número de 400 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MtCO2e) representa o esforço justo, compatível com a responsabilidade e capacidade do Brasil, para atingir essa meta.

Esta é a segunda proposta de NDC apresentada pelo OC. Em 2015, a rede elaborou a primeira NDC da sociedade civil no mundo, recomendando que o Brasil adotasse uma meta absoluta de redução que levasse o país a um teto de emissões de gases-estufa de 1 bilhão de toneladas.

A atual proposta tem uma diferença importante em relação à de 2015. A meta anterior foi calculada sem considerar as chamadas remoções de carbono da atmosfera por áreas protegidas. Trata-se de um “deflator” aplicado pelo governo no reporte das emissões do Brasil. A Convenção do Clima autoriza que remoções antrópicas sejam computadas e o governo brasileiro argumenta que, como manter unidades de conservação e terras indígenas demanda esforços de demarcação e fiscalização, o carbono sequestrado por suas florestas é uma remoção “antrópica”.

Desta vez, para que a meta do OC seja comparável à NDC oficial brasileira, foram consideradas as remoções por áreas protegidas. Também foram contabilizadas outras remoções, por florestas secundárias e por solos manejados. Hoje as remoções por solos não são consideradas nos inventários brasileiros de emissões, mas deveriam: elas são a medida do sucesso do Plano ABC, uma das poucas políticas de redução de emissões que não foram desarticuladas no governo Bolsonaro.

“Fizemos uma proposta para o país, apontando o caminho do que é necessário e possível fazer pelo clima com justiça, equidade e sem sacrifício. Uma proposta que nos colocaria no lugar que devemos estar; liderando a agenda de meio ambiente globalmente. Com isso, também mostramos que o Brasil é muito maior do que Jair Bolsonaro. Apesar de termos um governo negacionista, queremos afirmar que os brasileiros levam o Acordo de Paris a sério”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

“Assim como fizemos em 2015, estamos colocando a barra da ambição do Brasil. Isso é necessário e urgente, porque o mundo está entrando num novo normal em termos de combate a emissões. Vários países já sinalizam que vão zerar suas emissões líquidas em 2050. O aumento de ambição das metas climáticas está se tornando uma precondição para competir no cenário global neste século e o Brasil, se continuar parado, corre o risco de jogar fora mais uma oportunidade histórica de se desenvolver e ao mesmo tempo dar segurança à sua população”, disse Tasso Azevedo, coordenador técnico do Observatório do Clima. (ecodebate)

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