Mudanças climáticas podem trazer insegurança
alimentar para 90% da população mundial.
“Somos de uma geração em que as
decisões que tomamos nos próximos 10 anos podem significar a diferença na morte
de 100 milhões ou 400 milhões de pessoas” - Jane
Fonda.
“Nossa guerra contra a natureza
precisa parar” - António Guterres.
A
produção de alimento libera gases de efeito estufa (GEE) que contribuem para
aumentar o aquecimento global, enquanto este reduz as chances de aumento da
oferta de comida. As projeções demográficas indicam uma população global em
torno de 11 bilhões de habitantes em 2100 e a produção de bens de subsistência,
em um quadro de agravamento da crise climática, pode ser insuficiente para
garantir a segurança alimentar de todo este contingente de pessoas.
Artigo
coordenado por Lauric Thiault, da Universidade de Ciências e Letras de Paris,
publicado na revista Science Advances (27/11/2019), analisa os riscos da
produção de alimentos, até o final do século, levando em conta dois cenários:
no primeiro, ocorre um esforço significativo para conter as emissões GEE e, no
outro, o chamado “negócio como de costume” as diversas sociedades continuam sem
cortes significativos das emissões.
Os
autores avaliam os efeitos da crise climática sobre 4 lavouras que são a base da
alimentação da população (milho, arroz, soja e trigo), como também consideram o
que pode acontecer com a pesca em água salgada, outra fonte crucial de
nutrientes.
No
cenário “negócio como de costume”, as mudanças no clima serão sempre negativas
– perda de produção agrícola e diminuição da pesca – para 90% da população
mundial. Nos trópicos – América do Sul, boa parte da África e do Sudeste
Asiático – numa situação de “tempestade perfeita”, haverá perdas em ambos os
quesitos e haverá aumento da insegurança alimentar. O Brasil será
particularmente afetado e o agronegócio brasileiro será prejudicado caso houver
aumento do aquecimento global.
Os
autores concluem mostrando que a vulnerabilidade aos impactos climáticos das
sociedades e das futuras gerações exige ações imediatas de mitigação por parte
de todos os países e, principalmente, lideradas pelos principais emissores de
CO2. Também são necessárias ações de adaptação para esta nova
realidade que já está presente no dia-a-dia de vários países.
Por
exemplo, os problemas ambientais da China impactam todo o mundo. O Índice de
Preços dos Alimentos da FAO teve uma média de 177,2 pontos em novembro de 2019;
subiu 4,7 pontos (2,7%) em relação a outubro e 15,4 pontos (9,5%) em relação ao
período correspondente do ano passado. A alta de novembro em relação ao mês
anterior, principalmente impulsionada por aumentos significativos nos preços de
carnes e óleos vegetais.
O
documento assinado por mais de 11 mil cientistas “World Scientists’ Warning of
a Climate Emergency”, publicado na revista BioScience (05/11/2019), afirma que:
“O crescimento econômico e populacional está entre os mais importantes fatores
do aumento das emissões de CO2 em decorrência da combustão de
combustíveis fósseis”. Em consequência, diz o seguinte sobre a questão
demográfica: “Ainda crescendo em torno de 80 milhões pessoas por ano, ou mais
de 200.000 por dia, a população mundial precisa ser estabilizada – e,
idealmente, reduzida gradualmente – dentro de uma estrutura que garante a integridade
social”.
O
fato é que a humanidade já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta e não
dá para continuar explorando e exigindo grandes retornos dos ecossistemas
degradados e sobrecarregados. É impossível a economia ser maior do que a
ecologia. A humanidade tem que limitar sua presença e seu espaço no mundo
natural ou arcará com consequências desagradáveis.
Como
mostrou Giorgos Kallis (26/11/2019), “a autolimitação do modo como vejo não se
trata de restringir, mas de definir coletivamente – como sociedade – nossos
limites. A autolimitação coletiva é a essência da democracia”.
Somente
o decrescimento demoeconômico pode criar as condições necessárias para que haja
aumento de qualidade de vida da população e da comunidade biótica.
Insistir
no sonho do crescimento econômico infinito só vai gerar pesadelo para as
pessoas e para as forças vivas da natureza. (ecodebate)
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