Educação Ambiental e resistência
à privatização da água.
Quando falamos em Educação
Ambiental, muitas pessoas acreditam que se trata de algo muito recente na
história da humanidade. Na verdade, todas as vezes que um grupo humano do
passado, em qualquer época da história deste planeta, criou regras para o uso
dos recursos naturais em seu entorno estava disseminando uma maneira de educar
para lidar com aquele espaço geográfico e sobreviver da melhor forma possível
com o que a natureza lhe oferecia. Essa ação era resultado da observação e, em
muitos casos, até mesmo de experimentos como foi o caso dos Incas em nosso
continente.
Praticamente todos os Povos
Originários e os grupos religiosos antigos possuem regras para conviver com o
ambiente, buscando uma relação onde era possível explorar de forma a manter a
natureza preservada para as futuras gerações. Estes princípios foram transmitidos
pelas falas, simbologias, rituais e experiências observadas sobre as dinâmicas
naturais onde habitavam. Exemplos abundam nos preceitos criados pelos povos
antigos e catalogados em diferentes livros sagrados (a Bíblia está repleta
deles) sobre a convivência com a natureza ou são descobertos hoje pelos
arqueólogos. O sagrado mediado pela natureza era buscado nas relações concretas
do cotidiano e no meio onde viviam. Há mais exemplos como as regras hindus, a
cosmovisão budista e a ética taoísta na busca pela interação com as forças
governantes dos processos e dinâmicas do planeta. Havia uma preocupação com o
equilíbrio do espaço geográfico em que viviam e uma possível perda do bem
natural comunitário e a consequente desarmonia que seria gerada no grupo se
algumas regras não fossem adotadas e seguidas. A Educação Ambiental é,
portanto, mais antiga do que imaginamos e sempre foi necessária, mesmo que não
pensada e sistematizada com tal denominação no passado.
O despertar para a nossa crise
ambiental aumentou depois da reunião do Clube de Roma, da 1ª Conferência do
Meio Ambiente em Estocolmo, na Suécia, e do Relatório de Bruntland. Sua
magnitude alcançou o topo com a Rio ECO-92.2 Neste sentido, estes eventos de caráter global
conseguiram chamar a atenção para os graves problemas a que a população
planetária está sendo submetida tendo como causa um modelo de desenvolvimento
que gera destruição, poluição e pobreza para milhões de pessoas.
As novas configurações
políticas, sociais e econômicas do planeta levam as populações pobres a serem
vítimas de injustiças socioambientais resultantes das estruturas
macroeconômicas que governam e determinam a natureza como mera mercadoria.
Neste sentido, a água não está isenta desta classificação. Portanto, a Educação
Ambiental deve tomar partido no que se refere a sua privatização e
mercantilização ou não estará sendo verdadeiramente uma educação que liberta,
posto que não deve existir neutralidade quando assistimos à tomada de nossas
águas por grandes grupos empresariais transnacionais integrantes do Mercado da
Água em busca do lucro fácil.
Se é verdadeira a afirmação que
a Educação Ambiental não é a mola mestra das mudanças que a crise ambiental
exige, é também verdade que ela pode contribuir com a engrenagem que reverterá
a catástrofe que se anuncia ao influenciar a ruptura rumo a uma sociedade mais
justa socialmente e neste sentido ela deve lutar contra a privatização da água
brasileira. São muitos os grupos envolvidos com a preocupação ambiental no
Brasil, mas nem sempre estes grupos têm uma visão/ação crítica ao modelo que
causa a degradação que eles condenam. Hoje, mais do que nunca, quando o governo
apoia a privatização da água, é necessário tomar uma posição firme ou então
estes grupos de educadores ambientais estão a pregar para um lado e o agir para
o outro.
A Educação Ambiental deve
se fazer presente para confrontar todos os desafios que permeiam as relações de
desequilíbrio em nossa sociedade a exemplo do não acesso à água através da sua
privatização pelo chamado Mercado da Água e pelo agronegócio industrial.
Em seu conteúdo didático deve
constar o questionamento de todas as formas de apropriação deste elemento
natural por grupos que privam os mais vulneráveis economicamente do seu aceso.
Se assim não for, será uma forma de educar colaborando para a exploração e a
alienação, fugindo de sua meta primordial que é lutar pelo usufruto dos bens
naturais respeitando seu equilíbrio.
(ecodebate)
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