terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Educação Ambiental e resistência à privatização da água

Educação Ambiental e resistência à privatização da água.
Quando falamos em Educação Ambiental, muitas pessoas acreditam que se trata de algo muito recente na história da humanidade. Na verdade, todas as vezes que um grupo humano do passado, em qualquer época da história deste planeta, criou regras para o uso dos recursos naturais em seu entorno estava disseminando uma maneira de educar para lidar com aquele espaço geográfico e sobreviver da melhor forma possível com o que a natureza lhe oferecia. Essa ação era resultado da observação e, em muitos casos, até mesmo de experimentos como foi o caso dos Incas em nosso continente.
Praticamente todos os Povos Originários e os grupos religiosos antigos possuem regras para conviver com o ambiente, buscando uma relação onde era possível explorar de forma a manter a natureza preservada para as futuras gerações. Estes princípios foram transmitidos pelas falas, simbologias, rituais e experiências observadas sobre as dinâmicas naturais onde habitavam. Exemplos abundam nos preceitos criados pelos povos antigos e catalogados em diferentes livros sagrados (a Bíblia está repleta deles) sobre a convivência com a natureza ou são descobertos hoje pelos arqueólogos. O sagrado mediado pela natureza era buscado nas relações concretas do cotidiano e no meio onde viviam. Há mais exemplos como as regras hindus, a cosmovisão budista e a ética taoísta na busca pela interação com as forças governantes dos processos e dinâmicas do planeta. Havia uma preocupação com o equilíbrio do espaço geográfico em que viviam e uma possível perda do bem natural comunitário e a consequente desarmonia que seria gerada no grupo se algumas regras não fossem adotadas e seguidas. A Educação Ambiental é, portanto, mais antiga do que imaginamos e sempre foi necessária, mesmo que não pensada e sistematizada com tal denominação no passado.
O despertar para a nossa crise ambiental aumentou depois da reunião do Clube de Roma, da 1ª Conferência do Meio Ambiente em Estocolmo, na Suécia, e do Relatório de Bruntland. Sua magnitude alcançou o topo com a Rio ECO-92.2 Neste sentido, estes eventos de caráter global conseguiram chamar a atenção para os graves problemas a que a população planetária está sendo submetida tendo como causa um modelo de desenvolvimento que gera destruição, poluição e pobreza para milhões de pessoas.
As novas configurações políticas, sociais e econômicas do planeta levam as populações pobres a serem vítimas de injustiças socioambientais resultantes das estruturas macroeconômicas que governam e determinam a natureza como mera mercadoria. Neste sentido, a água não está isenta desta classificação. Portanto, a Educação Ambiental deve tomar partido no que se refere a sua privatização e mercantilização ou não estará sendo verdadeiramente uma educação que liberta, posto que não deve existir neutralidade quando assistimos à tomada de nossas águas por grandes grupos empresariais transnacionais integrantes do Mercado da Água em busca do lucro fácil.
Se é verdadeira a afirmação que a Educação Ambiental não é a mola mestra das mudanças que a crise ambiental exige, é também verdade que ela pode contribuir com a engrenagem que reverterá a catástrofe que se anuncia ao influenciar a ruptura rumo a uma sociedade mais justa socialmente e neste sentido ela deve lutar contra a privatização da água brasileira. São muitos os grupos envolvidos com a preocupação ambiental no Brasil, mas nem sempre estes grupos têm uma visão/ação crítica ao modelo que causa a degradação que eles condenam. Hoje, mais do que nunca, quando o governo apoia a privatização da água, é necessário tomar uma posição firme ou então estes grupos de educadores ambientais estão a pregar para um lado e o agir para o outro.
A Educação Ambiental deve se fazer presente para confrontar todos os desafios que permeiam as relações de desequilíbrio em nossa sociedade a exemplo do não acesso à água através da sua privatização pelo chamado Mercado da Água e pelo agronegócio industrial.
Em seu conteúdo didático deve constar o questionamento de todas as formas de apropriação deste elemento natural por grupos que privam os mais vulneráveis economicamente do seu aceso. Se assim não for, será uma forma de educar colaborando para a exploração e a alienação, fugindo de sua meta primordial que é lutar pelo usufruto dos bens naturais respeitando seu equilíbrio. (ecodebate)

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