Agroindústria Sustentável:
Segurança Alimentar e Nutricional e Transições para a Sustentabilidade.
O discurso de sustentabilidade
está em evidência na literatura da agroindústria e agronegócios, assim como em
várias outras áreas do conhecimento. É preciso deixar claro que este discurso é
facilmente contestado, principalmente no campo de agricultura, razão pela qual
temos que desenvolver argumentos sólidos para sua credibilidade. Até
recentemente os trabalhos em sustentabilidade e alimentos eram geralmente
aplicados a partes do sistema, por exemplo, produção, quando se tratava de
agricultura sustentável, com enfoques que enfatizavam a dimensão ambiental de
sustentabilidade, negligenciando as dimensões econômicas e sociais.
Neste trabalho uma tentativa
foi feita para indicar os principais tópicos em discussão no campo da agroindústria,
alertando o setor sobre a importância da segurança alimentar na busca de
transições para a sustentabilidade. Trata-se de conceitos ou paradigmas
diferentes e, por conta disto, são em geral discutidos separadamente. Contudo,
temos que evitar esta separação e tratar os dois conceitos conjuntamente
visando acelerar a necessária transição para sistemas agroalimentares
sustentáveis. Neste sentido, temos que buscar na literatura luzes que possam
contribuir para se entender a relação entre os mercados agroalimentares,
segurança alimentar e nutricional e sustentabilidade. Portanto, os sérios
desafios que temos pela frente é desenvolver mercados agroalimentares que sejam
eficientes, competitivos, accessíveis e nutricionais, que contribuam para
transições de sustentabilidade dos sistemas agroalimentares. Agroindústria
brasileira deve alavancar atividades, estudos e pesquisas nesta direção.
Não há espaço aqui para tratar
da complexidade da segurança alimentar e nutricional cada vez mais reconhecida
numa perspectiva sistêmica, com foco no sistema de alimentos, como mencionado
pelo Painel de Especialistas de Alto Nível (High Level Panel of Experts – HLPE)
em Segurança Alimentar e Nutricional. Enfatiza-se, ainda, a integração da
Segurança Alimentar e Nutricional, considerando seus quatro pilares ou
dimensões, a saber:
1) disponibilidade de
alimentos;
2) acesso aos alimentos;
3) uso dos alimentos;
4) estabilidade na
disponibilidade de alimentos. Diante desta complexidade, os profissionais de
nutrição, com uma visão de sistemas socioeconômicos direcionados para a saúde e
nutrição humana, têm desempenhado atividades interdisciplinares voltadas para
os desafios dos sistemas alimentares. A colaboração destes profissionais é
importante na agricultura, produção de alimentos, processamento, marketing,
vendas, cuidados de saúde, saúde pública, gestão de serviços alimentares, além
das atividades de ensino e pesquisa. Enfim, a colaboração deles é indispensável
ao apoio das mudanças necessárias para os sistemas agroalimentares
sustentáveis.
Ao longo dos anos, as políticas
alimentares, principalmente na agricultura, não levavam em consideração o campo
de conhecimento da nutrição. Além disto, como mencionado acima, ainda existe
uma desconexão entre sustentabilidade e segurança alimentar. O Painel de
Especialista (HLPE), acima citado, faz um chamamento para a integração de
enfoques de sustentabilidade com a segurança alimentar e nutricional, ao
considerar que um sistema alimentar que não assegura segurança alimentar e uma
adequada nutrição não pode ser chamado de sustentável.
Novamente, não temos espaço
aqui para avançar na importância do discurso de sustentabilidade nas várias
áreas de conhecimento, incluindo sistemas alimentares, limitando-nos apenas a
resumir sua origem. Historicamente, o conceito de sustentabilidade resultou de
trabalhos iniciais da comunidade científica internacional sobre desenvolvimento
sustentável. Muitos trabalhos sobre sustentabilidade surgiram nos anos de 1980,
sobretudo com as discussões internacionais em torno do meio ambiente e
desenvolvimento e o renomado trabalho da Comissão Bruntland (Bruntland World
Commission on Environment and Development), estabelecida em 1983 e que produziu
o seu relatório em 1987 (Bruntland Report – Our common Future). Foi neste
relatório que surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável, dando ênfase
igual ao meio ambiente, sociedade e economia, visto como os pilares chaves em
que o desenvolvimento sustentável deve ser apoiado. Este conceito foi aplicado
na agricultura e partes do sistema de alimentos, com a preocupação de que o
aumento da produção de alimentos nas nações industrializadas e desenvolvidas
prejudicaria a base de uma produção futura.
Neste trabalho estamos
adotando uma visão holística de sistemas alimentares e como relacioná-la com a
segurança alimentar e os objetivos nutricionais, enfatizando as dimensões
econômicas e sociais. Assim sendo, temos que considerar a sustentabilidade dos
sistemas de alimentos ligada a segurança dos alimentos numa perspectiva mais
ampla – de uma perspectiva ambiental para uma perspectiva que englobe as
dimensões sociais e econômicas. Nesta nova perspectiva, estamos considerando as
dimensões de sustentabilidade interagindo com as quatro dimensões de segurança
de alimentos, acima citadas, incluindo ainda a segurança nutricional.
Metade da população mundial é
afetada pela insegurança alimentar (obesidade, deficiências de micronutrientes)
mostrando-nos a necessidade de se reformar os atuais sistemas de alimentos.
Acreditamos que a conexão do discurso de segurança alimentar e nutricional com
a sustentabilidade do sistema alimentar é mais do que necessário para se criar
uma narrativa coerente para uma transição sustentável. Esta conexão é
necessária para uma segurança alimentar e nutricional de longo prazo,
considerando as dimensões ou pilares da segurança alimentar como o resultado
central de sistemas alimentares sustentáveis. (ecodebate)
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