A razão irracional do ser
humano
O ser humano não consegue
enxergar quão grandiosa é a recompensa em cuidar, preservar e amar a natureza.
A cena de animais fugindo
desesperadamente do fogo causado pelo homem, nos instiga a pensar na palavra
racionalidade. Se ser racional é ser sensato, não vejo bases nem razões que
possam justificar a sensatez desse ato vindo de seres ditos racionais. Será que
podemos chamar de racional tudo o que está acontecendo? Como Max Weber
classificaria a racionalidade se o estudo moderno da sociologia considerasse as
ações da sociedade contemporânea? O homem habituou-se em destruir a natureza,
utilizando da racionalidade dita convencional, através de hábitos enraizados em
sua cultura. Uma cultura que muitas vezes se mostra errônea, despida de
sensatez, despida de lógica. Mas, será convencional destruir a natureza, fonte
de tudo o que temos e do que somos?
Não posso nem devo
generalizar o tipo de racionalidade dos homens, pois a racionalidade em cada
ser é diferente. Alguns, através da ação social tradicional, pauta suas ações
consoante costumes vividos pela sociedade na qual está inserido, agindo de forma
metódica e calculista, utilizando de meios para atingir fins muitas vezes não
justificáveis. Outros, agem orientados por alguma crença ou valor, motivos
intrínsecos ao seu papel, ou mesmo que constitui a sua essência, seja ela boa
ou ruim, certa ou errada, própria ou impropria.
Concordo com Philip
Johnson-Laird e Ruth MJ Byrne, quando dizem que seres humanos são racionais em
princípios, mas que ao se tratar da prática, erram constantemente. Que são
seres competentes para serem racionais, mas que por fatores diversos tem seu
desempenho limitado. O filósofo e pensador Jesús Mosterín, fez uma distinção
paralela entre a racionalidade teórica e prática, onde considerou a razão como
uma faculdade psicológica e a racionalidade uma estratégia de otimização.
Diante de tudo o que estamos
presenciando, fica a pergunta: Há uma estratégia de otimização para a razão de
o homem estar destruindo tudo de mais importante e rico que possui?
Questionamentos como: “Posso destruir a natureza?”, “O que isso vai trazer para mim, para a natureza e para as gerações futuras?”, são ignorados, assim como a Máxima de Kant, pois muitos seres humanos, não estão interessados em descobrir se deve ou não agir da forma como tem agido, tampouco nas consequências de seus atos. O ser humano tem agido de forma egoísta, de maneira particular, seguindo uma lei própria, uma lei que não é aplicada de forma universal como deveria ser. Quem põe fogo numa floresta, jamais quer que a plantação em seu quintal, por menor que seja, seja queimada.
Os homens deveriam exercitar mais a sua consciência e optar por escolhas morais, obedecer às leis, ainda que por obrigação. As leis precisam ser cumpridas e devem ter força para obrigar os indivíduos a obedecê-la. Os hábitos, os costumes e a cultura de um povo fundamentam a organização de uma sociedade, mas não podemos deixar de refletir com racionalidade e consciência.
Por mais que o homem queira
desfazer-se de tudo aquilo que adquiriu da natureza, isso seria impossível,
pois mesmo longe de tudo, colocando-se em pleno vazio, despido de seus
interesses e de todos os bens adquiridos ao longo da vida, ainda assim, não se
desligaria da natureza porque é parte dela. As suas ações é que o define o
quanto são enquanto natureza. Segundo a psicologia, por definição os humanos
são racionais, mas, podem pensar e agir racionalmente ou não.
Exploradores ilegais ampliam
os crimes contra a Amazônia. As queimadas são a parte visível do problema.
Pode haver alguma razão
humana para justificar atos como esses incêndios que estão ocorrendo em nosso
país, mas com certeza não há racionalidade. Como pode haver racionalidade na
destruição da natureza que provê matéria prima pra tudo o que o ser humano
necessita para sobreviver. Uns dizem que a culpa é da mudança climática, outros
dizem ser diretamente provocado pelo homem. Mas, qual dessas razões exclui o
homem de sua culpa? Certamente nenhuma! Pois seja ação direta, seja mudanças
climáticas, o homem é o verdadeiro responsável e nenhuma desculpa o isenta da
responsabilidade, ou melhor dizendo, da irresponsabilidade.
Mais uma vez e sempre, o ser humano se achando tão superior, destruindo tudo o que acha pela frente. Nunca ouvi dizer que um animal dito “irracional” tenha ateado fogo na floresta, poluído as águas, o ar, desmatado, dizimado outras espécies de forma inconsequente. A natureza sempre trabalhou para os seres humanos obedecendo seus ciclos, cumprindo os seus papeis na cadeia da vida. O homem esquece que faz parte desse ciclo, dessa sinfonia, que ele faz questão de desafinar, pagando à maior parte da natureza numa moeda totalmente diferente, uma moeda de destruição, de morte, de irracionalidade, de ganância.
A racionalidade baseia-se na capacidade de tomar decisões de forma adequada. A natureza em sua inocência e benevolência com o ser humano, está sofrendo consequências de decisões tomadas de forma inadequada, com resultâncias catastróficas e quase sempre irreversíveis. Muitas espécies da fauna e da flora estão sendo extintas e desconsideradas, acarretando um desequilíbrio ambiental, uma desarmonia no ciclo da natureza.
A ganância por dinheiro e
poder, tem levado os humanos a cometerem atitudes cruéis, que dão início a uma
avalanche de prejuízos e perdas, uma verdadeira catástrofe, a qual o homem vem
se acostumando ao longo do tempo. O ser humano não consegue enxergar quão
grandiosa é a recompensa em cuidar, preservar e amar a natureza. A preservação
dos recursos naturais tem a sua importância, e qualquer interesse por mínimo
que seja é relevante.
Penso que é tarde para
mudarmos nossas atitudes, o tempo passou e junto a ele a oportunidade de
entrarmos em ação. O que antes parecia simples, hoje atinge dimensões
incalculáveis. O ser humano, cada vez mais envolvido com as questões não
urgentes do mundo, continua classificando as questões ambientais como não
urgentes. Não sei se o nosso Brasil ainda poderá ser classificado como um dos
países mais biodiversos do mundo. Do jeito que vai, o máximo que conseguirá
será o título de país com mais biodiversidade em extinção ou extinta do mundo.
Fico sem entender e sem aceitar que seres vivos inocentes paguem com sofrimento e morte por ações humanas. Todos aqueles seres que de repente são surpreendidos pelas chamas ardentes, postos para fugir de forma desesperada, assustados por algo que não sabem o que é, nem como surgiu, mas que sentem a dor, vivenciam o desespero e percebem a dizimação de espécies.
Os problemas ambientais afetam todo o nosso planeta, causando consequências graves na fauna, flora, solo, águas, ar, entre outros. A maioria dos problemas ambientais são causados por práticas humanas e em áreas urbanas.
Uma natureza linda, inocente
e benevolente, que até então, convivia em harmonia no restinho de espaço
deixado pela espécie que mais disputa entre si por recursos, e que nessas
disputas envolvem de forma injusta, egoísta e irracional outras espécies que
vivem harmonicamente, dizimando-as sem piedade, para suprir suas necessidades
não necessárias nem urgentes, de forma parasitaria, praticando uma antibiose desnecessária
para sua cadeia alimentar, seres críticos, ditos inteligentes, dotados de
racionalidade, seres que compõem a espécie humana. (ecodebate)
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