A cada cinco espécies de plantas no planeta, duas
estão ameaçadas de extinção, estima relatório divulgado em 29/09/2020 pelo
Jardim Botânico Real do Reino Unido.
O
estudo conta com a participação de pesquisadores de 42 países, incluindo do
Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
O
relatório alerta para a necessidade de acelerar a identificação das espécies
ameaçadas para protegê-las a tempo. Segundo o documento, 39,4% das plantas
estão sob risco, patamar que é quase o dobro do estimado em 2016, quando estava
em 21%. O estudo explica que o salto se deve à adoção de avaliações mais
sofisticadas e abordagens mais precisas.
Entre
as mais de 36 mil espécies de plantas catalogadas no Brasil, 3.934 estão
ameaçadas, segundo a pesquisadora Rafaela Forzza, do Jardim Botânico do Rio. A
bióloga pondera que o número real, na verdade, é bem maior, porque faltam
informações para avaliar a situação de parte das espécies catalogadas.
“As
pessoas sabem que as baleias estão ameaçadas, que os golfinhos e os
micos-leões-dourados estão ameaçados. Mas a sociedade é muito menos empática ao
número de plantas ameaçadas. E as plantas nos cercam a todo momento. Nossa vida
depende muito delas”, alerta a bióloga, que ressalta que ainda há muito a ser
descoberto em países tropicais como o Brasil. “Estamos destruindo uma
biodiversidade que nem conhecemos ainda”.
O
relatório também trouxe dados sobre os fungos ameaçados de extinção, destacando
o grande desconhecimento que ainda existe sobre esses seres vivos. As 148 mil
espécies de fungos catalogados não representam nem 10% do número estimado de
mais de 2 bilhões de espécies no planeta.
As principais ameaças às plantas, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza são a agricultura e aquicultura (32,8%), a utilização como recurso natural (21,1%) e modificações no habitat (10,8%). Já no caso dos fungos, o desenvolvimento de áreas comerciais e residenciais (18,7%) vem em primeiro lugar, seguido do uso como recurso natural (13,9%) e da agricultura e pecuária (12,9%).
Novas espécies
Desde
2008, o Brasil descobre cerca de 10% das novas espécies de plantas catalogadas
em todo o mundo. Em 2019, o país foi, mais uma vez, o que mais identificou
espécies, com 216 novos registros, enquanto a China descobriu 195, e a
Colômbia, 121. O Brasil descobriu ainda 87 novas espécies de fungos no ano
passado, segundo o relatório.
A
pesquisadora do Jardim Botânico do Rio, que integrou o trabalho divulgado hoje,
destaca que o país não descobre apenas pequenas espécies de plantas, mas conta
com 33 árvores na lista de novas espécies registradas em 2019. As descobertas
também incluem vegetais frutíferos, como 24 variedades silvestres de mirtáceas,
a mesma família da goiaba, da jabuticaba e da pitanga.
Apesar
da grande destruição de sua área original, da qual restaram apenas cerca de
10%, a Mata Atlântica foi o bioma em que mais espécies foram encontradas. “Se
só no ano passado a gente foi capaz de descrever 71 novas espécies de Mata
Atlântica, só no que restou de Mata Atlântica, imagine o que a gente perdeu de
espécies que foram dizimadas antes de catalogar. Isso não tem como reverter”,
lamenta a pesquisadora, que relata ainda 46 espécies no Cerrado, 32 na
Amazônia, 10 na Caatinga, cinco nos Pampas e duas no Pantanal. As outras 50
espécies descobertas ocorrem em mais de um bioma.
Na
discussão sobre a preservação da biodiversidade, Rafaela explica que o Brasil
ocupa posição central, por concentrar o maior número de espécies do mundo. As
36 mil plantas catalogadas no Brasil são mais de 10% das 350 mil espécies
conhecidas em todo o planeta.
“Quase
50% das espécies de plantas do Brasil só ocorrem no país. Se a gente não
proteger, não tem como outros países protegerem. Então, é nossa obrigação com o
nosso povo e com a humanidade”, reforça. “A gente é muito importante para a
conservação da biodiversidade mundial, que é um bem da humanidade sob
responsabilidade de cada uma das nações, e a Constituição Brasileira diz que a
biodiversidade pertence a todos os brasileiros. Quando você destrói
biodiversidade para meia dúzia de pessoas lucrar em cima disso, você está
tirando de mais de 200 milhões de pessoas, porque a biodiversidade é de todos e
das futuras gerações, inclusive”.
Plantas medicinais
Entre
os dados em destaque na pesquisa, está a estimativa de que 723 espécies de
plantas medicinais estão ameaçadas. O número corresponde a 13% das 5,4 mil
plantas medicinais que foram avaliadas quanto ao risco de extinção. A pesquisa
pondera que o número de plantas medicinais catalogadas, no entanto, chega a 25
mil.
Segundo
o relatório, cerca de 4 bilhões de pessoas dependem de medicamentos
fitoterápicos como sua principal fonte de saúde. Na China, país mais populoso
do planeta, esses medicamentos representam 40% dos serviços de saúde.
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