Com
o pós Guerra Fria e a entrada no século XXI novas demandas tomaram espaço na
agenda internacional, perdendo o caráter estrito voltado para segurança e
armamento como definição de poder. Com o adjunto do acordo de Paris (2015), do
Protocolo de Kyoto (1997), da Agenda 2030 e outras convenções que permeiam a
temática da preservação ambiental, quanto a redução da emissão de gases,
desenvolvimento sustentável, energias renováveis e etc; a pauta sobre meio
ambiente tem adquirido relevante proporção nos debates internacionais.
Entre
2019 e 2020, ocorreu um crescimento considerável nos incidentes que envolvem
desastres ambientais, sobretudo no que tange às queimadas e a emissão de CO2.
Nesse sentido, o Brasil obteve palco em inúmeros canais de telecomunicações
internacionais, vis a vis, a degradação ambiental na Amazônia e no momento
atual com os incêndios no Pantanal. Tais notícias trouxeram novamente a
discussão sobre a irresponsabilidade dos Estados latino-americanos na proteção
do meio ambiente e a necessidade de um estatuto internacional para a “preservação
da Amazônia”. A constituição do sistema anárquico internacional tem um impacto
direto nas relações entre os países, nas quais em sua maioria (se não na sua
totalidade) são moldadas por interesses ou aspirações que mantenham/aumentem o
status quo desses atores no panorama global.
Entretanto,
na habilidade de causar dano, estimar capacidades e o comportamento entre os
Estados, os jogos de interesses se mostram claros na entrevista que o
Presidente da França, Emmanuel Macron participou em 26/08/2019 ao
abordar sobre as queimadas na Amazônia, uma vez que afirmou que “a nossa casa
está queimando”. Nesta mesma linha de raciocínio sobre, o Presidente francês
pontuou acerca da irresponsabilidade do Governo de Jair Bolsonaro ao ressurgir
com o tema da “internacionalização da Amazônia”, uma vez que as medidas de
contenção aos incêndios que vem devastando a região são ínfimas.
Não
obstante, ao fazer uma análise sobre imagem do Brasil no exterior,
especialmente em relação ao Governo Bolsonaro, os noticiários intitulam o
Presidente como um “líder vingativo” e que apresenta uma postura “irresponsável
e perigosa”, um caráter que influi diretamente sob as pressões e os
constrangimentos internacionais sofridos (BBC, 2020). Pontuações que atribuem
fuga de investidores do país, perda de credibilidade internacional e a ameaça a
própria diplomacia brasileira, principalmente em relação ao MERCOSUL com o
realinhamento das políticas externa brasileira com a dos Estados Unidos.
Todavia,
as ações negligentes e pouco efetivas para conter as queimadas e a degradação
ambiental da Floresta Amazônica e na região Pantanal são um reflexo não só
governamental, mas dos impactos industriais e dos fazendeiros, como gerados
pela agricultura, pecuária e mineração. “A área desmatada no ano passado na
maior floresta tropical do mundo – 60% da qual está no Brasil – foi estimada em
10 mil km2, correspondente aproximadamente ao tamanho do Líbano”
(DW, 2020). Na Amazônia, cerca de 80% do desmatamento é resultado de ações da
pecuária, sendo que em uma escala nacional, a região norte abarcou 52,5% dos
focos de queimadas de 2019, logo em seguida o cerrado com 30,1% e a Mata Atlântica
10,9%. As queimadas no Brasil cresceram cerca de 82% em relação a 2018 com mais
de 71 mil focos, sendo o maior número registrado nos últimos 7 anos pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Num panorama mundial, de
acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO), até 40% da população mundial sofrerá com a falta de água e até 2050 esse
número subirá para 2/3.
Nesta
lógica, as alterações climáticas e o próprio aquecimento global são resultado
direto do consumo desenfreado do ser humano, da produção em larga escala pelas
indústrias, pela falta de responsabilidade dos líderes mundiais bem como a uma
de consciência moral, que fomentará consequências exorbitantes no futuro com
aumento das temperaturas, do nível do mar, perda de biomas e extinção de
espécies e uma ação mais violenta da natureza como resposta.
O cenário brasileiro vem sendo uma avalanche, com perda de fiabilidade, protagonismo nas Nações Unidas e principalmente no MERCOSUL. Atualmente, o Pantanal é a nova vítima, e de acordo com o New York Times os incêndios por fazendeiros acarretaram perda de 10% da áreas úmidas do país, sendo que as queimadas na maior planície alagada do planeta, resultaram em mais de 7 mil milhas, ou seja, 11 mil km2 de áreas degradadas de acordo com o estudo feito pela NASA (The New York Times, 2020, tradução pelo autor).
A perda da credibilidade do governo brasileiro frente aos dilemas internacionais na preservação ambiental e na degradação da Floresta Amazônica e do Pantanal.
Nesse
sentido, não apenas o Brasil, mas a sociedade internacional como um todo
precisa de fato tomar medidas que recuem esse processo destrutivo e que saiam
apenas das negociações e ratificações de convenções e tratados para o plano
prático e real, sem fazer uma análise segregacionista e muito menos colonial,
visto que em longo prazo os resultados podem ser irreversíveis. (ecodebate)
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