Para o especialista Pedro
Ribeiro, a desmobilização da frente ambiental no Itamaraty significa, para além
do aspecto financeiro, uma perda de estratégia na inserção internacional do
País.
A política antiambientalista
do governo chegou ao Itamaraty. O Ministério das Relações Exteriores
desmobilizou frente diplomática que tinha a política ambiental de preservação
como pauta, o que influenciava decisões em agendas e fóruns internacionais.
Com isso, abre-se um espaço, como um vácuo, para que outros países ocupem esse espaço de protagonismo internacional em relação às pautas ambientais, como explica Pedro Feliú Ribeiro, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP. “Qualquer outro país com uma política externa bem estruturada, um presidente interessado nesse tipo de inserção, como é o caso da Colômbia, começa a captar recursos antes dirigidos ao Brasil.” Nesse quadro, segundo ele, o Brasil perde não só investimentos, mas também a possibilidade de coordenar essa agenda: estabeleceria prioridades e recursos e proporia o melhor a se fazer com eles.
Governo perde mais protagonismo com fim da frente diplomática ambiental.
O país é alvo de ameaças de
perda de investimentos externos e bloqueio a exportações, além da desconfiança
de seu real empenho em levar adiante negociações preservacionistas.
O Brasil tem um histórico,
apesar de recente, de liderança na temática do meio ambiente que lhe dá
autoridade no âmbito internacional. O primeiro grande momento em que o Brasil
passa a ter protagonismo internacional é a Rio-92. “O País passa a ser uma
liderança ambiental com uma pauta que distingue países desenvolvidos e países
em desenvolvimento. Assim, defendia-se que os desenvolvidos deveriam arcar com
os custos de redução de CO2, não os em desenvolvimento”, diz
Ribeiro.
Entre 2007 e 2009, após
muitas críticas às queimadas na Amazônia, o governo, como resposta, cria o
programa Avoid Deforestation, cooperação com os Estados Unidos para
monitoramento espacial da Amazônia. “Isso gera uma contrapartida à comunidade
internacional e o Brasil mantém a posição que vinha construindo desde a Rio-92.
Isso é o que não acontece hoje: o governo brasileiro não busca prestar contas,
digamos assim, à comunidade internacional preocupada com o desmatamento e as
queimadas.”
O Brasil apresenta uma posição vacilante, de acordo com Ribeiro, no que diz respeito às políticas ambientalistas. Isso porque, quando há um debate político entre desenvolvimento e meio ambiente, a tendência é que o desenvolvimentismo seja favorecido. “Isso não é exclusividade do governo Bolsonaro, porque os mesmos grupos de interesse estavam presentes nos anos 90, por exemplo, e continuam tendo muita influência.” Ele afirma que a expectativa é superar a dicotomia entre desenvolvimento e meio ambiente, a fim de atingir o que se chama de desenvolvimento sustentável, quadro que ainda é mais utópico que concreto.
Nos últimos dias, governo brasileiro tem trabalhado para tentar acalmar representantes de fundos de investimentos estrangeiros.
Investidores estrangeiros não
vão ser convencidos só por retórica ambiental do governo, diz pesquisador.
O professor conclui, reforçando a importância da presença do Estado brasileiro nas discussões ambientais, e o quanto o País tem a perder, inclusive em relação ao mercado privado, ao deixar isso de lado. Nas relações exteriores, perde-se certa relevância. “É claro que, se quiser fazer qualquer convenção de clima, por exemplo, tem de se considerar o Brasil. Mas as consequências em termos de política externa é a perda de estratégia de inserção internacional”, aponta Ribeiro. “Para além desse aspecto financeiro, o País perde a capacidade de definir e determinar agenda e, portanto, de direcionar a cooperação internacional”. (ecodebate)
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