Algas podem tomar recifes de
corais brasileiros com aquecimento do oceano.
Os recifes de corais do
Caribe e do litoral brasileiro podem sofrer uma transformação drástica nas
próximas décadas por causa do aquecimento dos oceanos. A queda na densidade de
peixes se alimentando na região pode fazer com que esses ecossistemas percam a
sua diversidade de espécies e virem recifes de algas já em 2050, já que muitos
peixes migrarão para outras regiões em busca de comida. Projeções feitas pelo
estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte publicado em 06/10/20 na
revista Global Change Biology.
Para entender como a interação dos peixes com a alimentação se modificará ao longo das próximas décadas, os pesquisadores fizeram projeções a partir de dados de interações de peixes coletados de diversos recifes que se estendem da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, até o estado brasileiro de Santa Catarina. “Esses dados servem para caracterizar como as interações estão distribuídas hoje, no clima atual”, explica o pesquisador Guilherme Longo. Com base nestes dados, os pesquisadores usaram modelo matemático para projetar o que vai ocorrer com a mudança de temperatura dos oceanos. Os modelos calcularam a probabilidade das espécies de peixe acontecerem no local, a estimativa da quantidade de peixes e, também, estimaram onde os peixes comerão mais.
“As interações dos peixes herbívoros diminuirão bastante na região tropical, do Caribe até o sul do Brasil, e aumentarão no norte do Caribe, indicando uma mudança na distribuição geográfica das interações”, comenta a pesquisadora Kelly Inagaki, autora principal do estudo, fruto de sua dissertação de mestrado no Laboratório de Ecologia Marinha da UFRN. Com essas mudanças, a estrutura dos recifes pode ser ameaçada, já que os peixes herbívoros desempenham um papel ecológico importante neste ambiente. Eles são os responsáveis por controlar a quantidade de algas, possibilitando que corais prosperem, por exemplo.
Para Kelly, a pesquisa serve como alerta para os efeitos das mudanças climáticas globais. “Provavelmente esse cenário de abundância de peixes que encontramos nos recifes do nordeste brasileiro não vai existir daqui a 30 ou 70 anos. Isso pode impactar o turismo da região, a conservação e até a pesca, porque a conservação destes recifes é o que garante que a gente tenha um estoque pesqueiro local e regional”, explica.
Em Porto Seguro, recifes de coral da espécie Millepora alcicornis já começaram a embranquecer.
Aquecimento global mata
corais no Brasil.
O foco nas interações
ecológicas ainda é uma abordagem pouco usada por estudos de mudanças
climáticas, o que faz com que esse estudo seja pioneiro na área. “Normalmente,
pensamos que as mudanças climáticas vão provocar extinções em massa de espécies
e deixamos de perceber que existem efeitos mais tênues. Mudar o local onde as
espécies ocorrem ou mudar o que elas fazem nesses locais são mudanças menos
dramáticas, mas que podem provocar efeitos em cascata e alterar o ecossistema
como um todo”, reflete Guilherme Longo. (revistagalileu)
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