Segundo o IBGE, a área da
Amazônia Legal no Brasil é de 5032925 km2, compreendidos pelos
estados do Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima, Acre e Amapá e parte dos estados
do Tocantins, Mato Grosso e Maranhão. Imagens de satélites analisadas pelo INPE
estimam em 126.000 km2 a área já desmatada até 1991, com uma taxa de
desmatamento anual de 21000 km2.ano-1, durante o período de
1978-1989, decrescendo este valor para 11.130 km2.ano-1 durante os
anos de 1990-1991 (INPE, 1992). As regiões que mais sofreram com o desmatamento
são as partes Sul e Leste do Pará (após a construção da rodovia Belém-Brasília)
e as partes Norte do Mato Grosso e Sul de Rondônia (devido à rodovia
Cuiabá-Porto Velho).
A convecção na região
Amazônica é um importante mecanismo de aquecimento da atmosfera tropical e suas
variações, em termos de intensidade e posição, possui um papel importante na
determinação do tempo e clima desta região. A liberação de calor durante a
época chuvosa é tipicamente de 2,5 K.dia-1 (Figueroa e Nobre, 1990), o
equivalente à uma precipitação de 10 mm.dia-1.
Molion (1987, 1993) estuda as
circulações de macro e meso-escala que atuam na Amazônia e os processos
dinâmicos que organizam e promovem a precipitação naquela área. Segundo este autor,
os mecanismos que provocam chuva na Amazônia podem ser agrupados em 3 tipos:
a) convecção diurna
resultante do aquecimento da superfície e condições de larga-escala favoráveis;
b) linhas de instabilidade
originadas na costa N-NE do litoral do Atlântico;
c) aglomerados convectivos de
meso e larga escala, associados com a penetração de sistemas frontais na região
S/SE do Brasil e interagindo com a região Amazônica;
Este trabalho abordará vários
aspectos que caracterizam e determinam o clima da região Amazônica.
Na seção 1, descreve-se o paleoclima amazônico com base em dados obtidos por estudos geomorfológicos e palinológicos. A descrição geral do clima é realizada no ítem 2, ao passo que os principais sistemas e fenômenos meteorológicos atuantes nesta região são analisados na seção 3 e uma resumo dos principais resultados micrometeorológicos de áreas de floresta e desmatadas (pastagens) são apresentados na seção 4, sendo que resultados de simulações climáticas do efeito do desmatamento encontram-se no ítem 5. Uma descrição suscinta dos principais experimentos realizados a partir dos anos 80 (ítem 6). Este trabalho busca apresentar, de uma maneira compacta, os principais resultados científicos já alcançados pela comunidade brasileira e regional sobre pesquisas na Amazônia.
Localização do bioma Amazônia, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
2. PALEOCLIMATOLOGIA
A Amazônia situa-se na região equatorial e possui um clima quente e úmido, embora este comportamento não tenha sido uma constância durante os últimos 15.000 anos. Alterações da relação Terra-Sol provocaram mudanças significativas na quantidade de energia solar recebida pelo planeta Terra, modificando a composição dos sistemas atmosféricos predominantes e, consequentemente, o clima. A menor insolação provocou movimentos do anti-ciclone do Atlântico Sul e correntes oceânicas frias (corrente das Malvinas) em direção ao equador. Com o resfriamento da temperatura do oceano Atlântico, os ventos alísios penetraram no continente com menos umidade, provocando um aumento da região de aridez. As principais mudanças climáticas e fitográficas ocorridas durante o período quaternário foram resultados de frequentes alterações interglaciais e glaciais, os quais produziam mudanças bruscas, tais como a troca de vegetação predominante de floresta para savanas, durante períodos de clima mais frio e seco (glacial). Observações de pólen (Absy, 1985) encontradas em sedimentos indicam que, durante parte do Holoceno (entre 5.000 e 3.000 anos passados), grandes áreas de savanas existiam na Amazônia, aonde atualmente existia floresta. Associado à este resfriamento, ocorreram um abaixamento do nível dos mares, com consequências na quantidade de água na Bacia Amazônica. Diagramas de pólen indicam que também não havia floresta ao final do Pleistoceno (aproximadamente 11.500 anos passados). Entre os anos de 4.000 e 2.100 antes do presente e ao redor do ano de 700 (1200 DC), Absy (1985) sugere que ocorreu grandes variações de precipitação na região Amazônica, causando o abaixamento (e em alguns casos secamento) de rios amazônicos, com mudanças significativas na fauna e flora.
3. CLIMATOLOGIA
O clima atual da região
Amazônica é uma combinação de vários fatores, sendo que o mais importante é a
disponibilidade de energia solar, através do balanço de energia. A Amazônia,
situada na região entre 5 N e 10 S recebe no topo da atmosfera um valor máximo
de 36,7 MJ.m-2.dia-1 em Dezembro/Janeiro e um valor mínimo de 30,7 MJ.m-2.dia-1
em Junho/Julho (Salati e Marques, 1984). Estes valores são reduzidos pela
transmissão atmosférica, mas são, em média, da ordem de 15 MJ.m-2.dia-1.
Medidas realizadas na Amazônia Central (Manaus-AM) indicam que os maiores
totais de radiação que chegam à superfície ocorrem nos meses de
Setembro/Outubro, sendo que os mínimos são nos meses de Dezembro à Fevereiro.
Esta distribuição é controlada pela nebulosidade advinda da migração SE/NW da
convecção amazônica (Horel et al., 1989).
Devida aos altos valores de
energia que incide na superfície, o comportamento da temperatura do ar mostra
uma pequena variação ao longo do ano, com exceção da parte mais ao sul
(Rondônia e Mato Grosso), que inclusive sofrem a ação de sistemas frontais
(denominados localmente por Friagens – veja item 3.3). A amplitude térmica
sazonal é da ordem de 1-2 C, sendo que os valores médios situam-se entre 24 e
26 C. Especificamente, Belém (PA) apresenta a temperatura média mensal máxima
de 26,5 C em Novembro e a mínima temperatura de 25,4 C em Março. Manaus (AM),
por outro lado, possui seus extremos de temperatura nos meses de Setembro (27,9
C) e Abril (25,8 C). Salati e Marques (1984) apresentam as médias mensais de 48
estações meteorológicas espalhadas pela Amazônia.
A energia que atinge a
superfície terrestre é devolvida para a atmosfera na forma de fluxo de calor
sensível (aquecimento) e latente (evapotranspiração). Desta forma, o balanço de
energia e umidade interage, sendo que o saldo de radiação é particionado em
termos de calor sensível e/ou latente, dependendo das condições ambientais e de
água no solo.
A região Amazônica possui uma
precipitação média de aproximadamente 2300 mm.ano-1, embora tenham regiões (na
fronteira entre Brasil e Colômbia e Venezuela) em que o total anual atinge 3500
mm. Nestas regiões não existe período de seca. Estesvalores de precipitação
elevada próximo à Cordilheira dos Andes deve-se à ascensão orográfica da
umidade transportada pelos ventos alísios de leste da Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT). Na região costeira (no litoral do Pará ao Amapá), a
precipitação também é alta e sem período de seca definido, devido a influência
das linhas de instabilidade que se formam ao longo da costa litorânea durante o
período da tarde e que são forçadas pela brisa marítima. A distribuição
espacial e temporal das chuvas na Amazônia foi detalhadamente estudada por
Figueroa e Nobre (1990), utilizando-se de 226 estações pluviométricas, e por
Marengo (1995), que usou dados de convecção (Radiação de Ondas Longas) do
International Satellite Cloud Climatology Project (ISCCP). O máximo da chuva na
região central da Amazônia (próximo de 5 S), pode estar associada com a
penetração de sistemas frontais da região sul, interagindo e organizando a
convecção local. A distribuição espacial e temporal da precipitação derivada
por Figueroa e Nobre (1990) é apresentada na Figura 1. O período de chuvas ou
forte atividade convectiva na região Amazônica é compreendido entre Novembro e
Março, sendo que o período de seca (sem grande atividade convectiva) é entre os
meses de Maio e Setembro. Os meses de Abril e Outubro são meses de transição
entre um regime e outro. A distribuição de chuva no trimestre
Dezembro-Janeiro-Fevereiro (DJF) apresenta uma região de precipitação alta
(superior a 900 mm) situada na parte oeste e central da Amazônia, em conexão
com a posição geográfica da Alta da Bolívia. Por outro lado, no trimestre
Junho-Julho-Agosto (JJA), o centro de máxima precipitação deslocou-se para o
norte e situa-se sobre a América Central. A região Amazônica, principalmente na
parte central, está sobre o domínio do ramo descendente da Célula de Hadley,
induzindo um período de seca bem característica. Este comportamento está
completamente de acordo com o ciclo anual da atividade convectiva na região,
conforme demonstrado por Horel et al. (1989).
Um estudo climatológico da
circulação troposférica sobre a região Amazônica foi efetuado por Kousky e
Kagano (1981). Usando radiossondagens realizadas na Amazônia Central (Manaus,
AM) e Oriental (Belém, PA) durante o período de 1968-1976, os autores
encontraram que o vento em altos níveis (200 hPa) é de oeste durante os meses
de inverno (junho à agosto) nas duas localidades, embora a intensidade e
ocorrência sejam variáveis. Estes autores também sugerem, que a distribuição de
chuvas na Amazônia esteja relacionada com a posição da Alta da Bolívia. Em
relação à água precipitável, esta é aproximadamente constante ao longo do ano,
com pequeno decréscimo nos meses de sêca. Salati e Marques (1984) apresentam
que o valor médio de água precipitável para Belém (PA) e Manaus (AM) são de 4,2
e 4,4 g.cm-2, com amplitude anual de 1,1 e 0,9 cm, respectivamente.
O balanço hídrico na região
Amazônica é difícil de ser calculado, devido a falta de continuidade espacial e
temporal das medidas da precipitação, inexistência de medidas simultâneas de
vazões fluviais, desconhecimento do armazenamento de água no solo, etc.
Entretanto, algumas tentativas de se entender melhor o regime hídrico dentro da
bacia hidrográfica tem sido realizadas, através de várias técnicas, tais como o
método climatonônico (Molion, 1975), balanço hídrico (Villa Nova et al., 1976),
e aerológico ( Salati et al., 1979; Rocha, 1991). Através do balanço de vapor
d’água em toda a região Amazônica, Salati et al. (1979) determinou que a precipitação
na região é uma composição da quantidade de água evaporada localmente
(evapotranspiração) adicionada de uma contribuição de água advinda do Oceano
Atlântico. Desta maneira, pode-se estimar que 50 % do vapor d’água que
precipita pelas chuvas é gerado localmente (pela evapotranspiração), sendo o
restante importado para a região pelo fluxo atmosférico proveniente do Oceano
Atlântico. Marques et al. (1980) estimou o balanço de água na Amazônia usando a
divergência do fluxo de vapor d; água. Em média, a precipitação da bacia é 11,9
x 1012 m3.ano-1 (Villa Nova et al., 1976), sendo que a descarga fluvia do Rio
Amazonas no Estreito de Óbidos é 5,5 x 1012 m3.ano-1 (Oltman, 1967). A
estimativa da evapotranspiração (método de Penman) foi estimada por Marques et
al. (1980), obtendo um valor de 6,4 x 1012 m3.ano-1 . Estes valores são
totalmente coincidentes entre si, embora tenham sido obtidos por métodos e
fontes diferentes. O balanço hídrico da região também foi estudada por
Matsuyama (1992) utilizando-se dados em pontos de grade do ECMWF obtidos
durante o período do FGGE. Em seus cálculos para um ciclo sazonal completo,
Matsuyama (1992) encontrou uma evapotranspiração (calculada pelo balanço
hídrico) de 1139,1 mm, que representa 53% da precipitação de 2152,6 mm. O
escoamento superficial foi calculado em 1013,5 mm, sendo a contribuição do
fluxo atmosférico de 737,3 mm.
A evapotranspiração da floresta na região Amazônica tem sido objeto de vários estudos (Villa Nova et al., 1976, Marques et al., 1980, Shuttleworth et al., 1987, entre outros), principalmente em casos da evapotranspiração potencial. As estimativas são de que a evapotranspiração potencial média seja de 4,0 mm.dia-1, com variações sazonais decorrentes da existência ou não de chuvas. Entretanto, poucas são as medidas ou estimativas da evapotranspiração real. Marques Filho et al. (1986) e Fisch (1990) realizaram estudos comparativos entre medidas da evapotranspiração real (medida com aparelhos de vórtices turbulentos) e estimativas da evapotranspiração potencial e, utilizando de métodos diferentes (Penman-Monteith no caso de Fisch (1990) e teoria da similaridade para Marques Filho et al. (1986)), chegaram a valores entre a razão das evapotranspirações real e potencial de 0,30 para Fisch (1990) e 0,4 para Marques Filho et al. (1986). Estes valores são típicos para a estação seca, sendo que, na época chuvosa, Shuttleworth et al. (1987) sugere que a evapotranspiração real seja igual a potencial, uma vez que o solo possui muita umidade.
A vitória-régia é símbolo do bioma Amazônia e é encontrada nas matas de igapó.
3. SISTEMAS ATMOSFÉRICOS
ATUANTES NA REGIÃO AMAZÔNICA
3.1 – Circulação Geral e Alta
da Bolívia
A circulação geral da alta
troposfera sobre a América do Sul tem sido bastante estudada nos últimos anos
(entre outros Santos, 1986; Carvalho, 1989). Esta região possui uma
característica muito particular de apresentar o desenvolvimento de um anticiclone
em altos níveis (200 hPa), durante os meses de verão, associado com a forte
convecção da região Amazônica. Este anticiclone foi denominado de Alta da
Bolívia (AB), pois situa-se sobre a região do altiplano boliviano. Durante a
época de inverno, ocorre a desintensificação da AB, com o seu completo
desaparecimento. A localização geográfica da AB possui variação intra-sazonal e
interanual, associado com a convecção na Amazônia. Santos (1986) observou que,
durante anos menos chuvosos na região Amazônica, os centros da AB eram menos
intensos. Analisando anos de ocorrência de El-Niño, Jones e Horel (1989)
reportam que, a AB localiza-se, em geral, à oeste de sua posição climatológica.
Também foi observado por Carvalho (1989) que, para o evento do ENOS 82-83, a
atividade convectiva e precipitação na Amazônia diminuíram (veja ítem 3.2), com
a desintensificação da AB. A manutenção deste centro quente anti-ciclonônico é
devido à convergência, em baixos níveis da umidade que vem de nordeste e de
leste. Esta convergência provoca forte convecção, condensação e liberação de
calor latente na média/alta troposfera, associada à atividade convectiva.
Entretanto, esta atividade convectiva possui um ciclo anual de migração SE/NW,
partindo da região Amazônica durante o trimestre DJF e deslocando-se até a
América Central (trimestre JJA). A investigação deste fenômeno pode ser
efetuada pelas observações pluviométricas (Marengo, 1992) ou pela radiação de
ondas longas (ROL), emitida pelo topo de nuvens e aglomerados convectivos
(Horel et al., 1989, Marengo e Hastenrath, 1993) e medidos por satélites
meteorológicos de órbita polar. Já foi demonstrado que as observações de ROL é
um estimador conveniente da precipitação tropical (Carvalho, 1989). Segundo os
resultados de Horel et al. (1989), a atividade convectiva sobre a América
Tropical possui um deslocamento sazonal ao longo do eixo SE/NW, permanecendo
aproximadamente 5 meses em cada hemisfério.
3.2 – El – Niño
O evento do El Niño/Oscilação
Sul (ENOS) de 1982-1983 foi um dos mais intensos e afetou o tempo e clima da
América do Sul de várias maneiras (Kayano e Moura, 1986). No caso da região
Amazônica, este episódeo provocou um período extremamente seco
(janeiro/fevereiro) durante a estação chuvosa na Amazônica Central. O desvio da
precipitação neste período (valor climatológico menos o valor observado de
82/83), apresentou valores de até – 70% na área de Manaus (AM), com um valor
menor na parte mais próxima do Oceano Atlântico ( -20 % em Belém). Este
comportamento foi devido ao ramo descendente da célula de Walker deslocar-se
para a região sobre a Amazônia, inibindo a formação de atividades convectivas
(Nobre e Rennó, 1985; Nobre e Oliveira, 1986). Este período (Janeiro/Fevereiro
82/83) foi caracterizado por possuir o menor índice pluviométrico nos últimos
50 anos. Em Manaus (AM), por exemplo, o total mensal de precipitação foi nulo,
época em que a normal climatológica apresenta um valor superior à 300 mm (Nobre
e Oliveira, 1986). Em um estudo complementar à este, Kayano e Moura (1986)
analisaram a precipitação na América do Sul durante todo o evento do El Niño
(junho de 1982 à agosto de 1983), indicando que a Amazônia sofreu uma seca
durante todo este período, com total de chuva de aproximadamente 0,5 desvio
normalizado menor. Devido a natureza heterogenea da precipitação e da
localização de pluviometros/pluviografos (Molion e Dallarosa, 1990), a medida
da vazão de rios é uma medida robusta do ciclo hidrológico na área da Bacia.
Neste sentido, Molion e Carvalho (1987) analisaram a descarga fluvial de rios
na Amazônia e correlacionaram suas vazões com o evento ENOS 82/83. Os resultados
obtidos para os Rios Trombetas e Ji-Paraná indicaram que as correlações são
positivas, sugerindo que o índice de oscilação sul possa ser um preditor da
variabilidade de chuva nesta região. Richey et al. (1989) também mostraram que
variabilidade interanual do regime de precipitação e descarga fluvial dos rios
está associada com eventos de ENOS e possue escala de tempo de 2-3 anos.
Uma série de outros estudos
também demonstraram os efeitos do evento ENOS na hidrologia da Amazônia.
Aceituno (1988) mostrou uma tendência da diminuição de chuva na Amazônia do
Norte, durante anos de El-Niño. Marengo (1991, 1992) mostrou que em anos de
El-Niño muito intenso, como foram os anos de 1925-26, 1976-76 ou 1982-83, a
precipitação do verão foi mais baixa que nos anos normais sobre a Amazônia do
Norte, resultado este que também se observa nos níveis de água anormalmente
baixos dos Rios Negro e Amazonas. Um estudo recente de Marengo (1996) para a
Amazônia Peruana mostra que os níveis de água do Rio Solimões em Iquitos e as
chuvas registradas mostram anomalias negativas durante anos de El-Niño muito
intenso. Estudos observacionais realizados por Marengo e Hastenrath (1993), e
que foram comprovados por estudos de modelagem do clima de Marengo et al.
(1993), mostram que, durante anos de grande aquecimento das águas do Pacifico
equatorial central (fenômeno do El-Niño), a ZCIT situa-se anomalamente mais ao
norte do que sua posição normal sobre o Atlântico tropical. Consequentemente os
ventos alísios de NE são mais fracos, reduzindo a umidade que penetra no
interior da região Amazônica. Sobre o lado oeste do Andes, a convecção que
produzem chuvas abundantes ao norte do Peru, provoca, por sua vez, movimentos
de ar de subsidência compensatória no lado este, contribuindo para uma menor
quantidade de chuva na parte oeste da Amazônia.
3.3 – Friagens
Embora a região Amazônica
situa-se geograficamente próxima ao Equador, a parte meridional sofre,
eventualmente, da ação de sistemas frontais, provocando o fenômeno localmente
denominado de Friagem. O efeito destas invasões de ar polar na Amazônia tem
sido pouco estudado e apenas os estudos de Brinkman e Ribeiro (1972), Hamilton
e Tarifa (1978), Fisch (1996) e Marengo et al. (1996) detalharam estes efeitos.
Fisch (1996) realizou uma estatística simples do número de eventos de Friagem
na região do Sul do Pará durante os anos de 1992 e 1993 e obteve uma frequência
de ocorrência de 7 casos por ano, durante os meses de maio à agosto. Brinkman e
Ribeiro (1972) citam que, no caso da Amazônia Central, ocorrem de 2 a 3
Friagens por ano, durante os meses de seca (junho a outubro). Analisando o
evento de uma Friagem que atingiu a região de Manaus (julho de 1969), Brinkman
e Ribeiro (1972) mostraram que a temperatura mínima naquele evento foi 12 C
menor do que a média climatológica, provocando ventos intensos. No caso das
variações dos elementos climáticos, Hamilton e Tarifa (1978) analisaram a
penetração de uma intensa frente fria (ocorrida em 1972), que provocou
decréscimos na temperatura do ar em Cuiabá (MT) de até 13 C. Outras observações
importantes são a de que ocorre uma mudança de direção do vento (de Norte para
Sul), a cobertura de nuvens é total e que o evento se extende até 700 hPa
(aproximadamente 3000 m), prolongando-se por 3 dias. Ainda com relação às
características meteorológicas da superfície, Marengo et al. (1996) analisaram
a extensão espacial das modificações causadas por duas Friagens moderadas
ocorridas em 1994, observando que os efeitos mais pronunciados foram obtidos na
região do sul de Rondônia (Ji-Paraná), na qual a temperatura do ar atinge
valores de 10 C, aproximadamente 8 C abaixo da média climatológica. Nas regiões
central e oeste da Amazônia (Manaus – AM e Marabá – PA, respectivamente), o
decréscimo da temperatura do ar não foi tão grande, embora a quantidade de
umidade atmosférica também tenha diminuído, induzindo que ocorreu a invasão de
ar polar (frio e seco). As modificações na estrutura vertical da atmosfera
foram estudadas por Fisch (1996a), que observou um aumento intenso da
velocidade do vento (principalmente na componente meridional do vento),
associado com um forte resfriamento (ao redor de 15 C na camada limite
atmosférica). Estas informações foram coletadas em julho de 1993, durante a
realização do experimento de campo do RBLE.
3.4 – Linhas de Instabilidade
3.5 – Brisa Fluvial
A precipitação é um dos
elementos climáticos mais importantes a ser analisado na região tropical, pois
induz as características e comportamento dos outros, tais como temperatura,
umidade relativa, ventos, etc. Entretanto, a despeito da simplicidade de sua
medida, é uma das variáveis meteorológicas mais difíceis de ser medida, uma vez
que possui erros instrumental, de exposição e mesmo de localização (Molion e
Dallarosa, 1990). A brisa fluvial é um mecanismo físico no qual o ar, devido ao
contraste térmico entre água-terra, move-se em direção do continente durante o
dia e vice-versa à noite. Imagens de satélites mostram que as nuvens formam-se
preferencialmente sobre o continente durante o dia, com movimentos de
subsidência na área dos rios. Oliveira e Fitzjarrald (1993) comprovam a
existência desta circulação fluvial nos baixos níveis (até 1500-2000 m),
possuindo o sentido floresta/rio durante à noite e início da manhã, revertendo
o sentido (rio/floresta) durante a tarde e início da noite. Observações
radiométricas feitas por avião durante o experimento ABLE observou um gradiente
térmico enter rio/floresta de -3 C durante o dia e +6 C à noite (Oliveira e
Fitzjarrald, 1993). Certamente estas influências são mais intensas nas regiões
em que a largura do rio é considerável, tais como próximo a Manaus (confluência
os Rios Negro e Solimões), Santarém (Rios Tapajós e Amazonas) e Belém (Rios
Tocantins e parte sul da Foz do Rio Amazonas). Molion e Dallarosa (1990)
mostraram que, considerando-se 4 postos pluviométricos (1978-1988) próximos à
Manaus, o menor índice anual (1843 mm) foi o da estação instalada em uma ilha
no Rio Negro, sendo o maior indíce (2303 mm) na localidade distante cerca de
100 km.
3.6 – Penetração de Sistemas
Frontais e organização da convecção na Amazônia.
Oliveira (1986) realizou um estudo climatológico sobre a interação desta convecção tropical e a penetração de sistemas frontais na região SE do Brasil, utilizando 5 anos (1977/1981) de imagens de satélites meteorológicos. Estes sistemas frontais provocam a organização e formação de uma banda de nuvens orientada no sentido NW/SE (referenciar a ZCAS), que possue sua máxima intensidade nos meses de verão, aumentando o regime de precipitação da região (época chuvosa). Este aumento de convecção está relacionado com a intensificação do cavado em altos níveis, que é gerado pela penetração da frente.
A devastação na região da Amazônia tem preocupado muitos ambientalistas, podendo trazer consequências irreversíveis.
4 – SIMULAÇÕES CLIMÁTICAS DO
DESMATAMENTO DA FLORESTA TROPICAL
Na última década, a Amazônia
tem sido foco de atenção mundial devido à sua riqueza mineral, à sua grande
biodiversidade de espécies florestais e também pelos efeitos que o desmatamento
em grande escala pode provocar no clima regional e global.
Com relação à associação
floresta-clima, o desenvolvimento da informática facilitou a utilização de
modelos numéricos de Circulação Geral da Atmosfera (MCGAs) para se estudar o
efeito das trocas de energia entre a superfície e a atmosfera. Como ferramenta
de análise da problemática do desmatamento, vários estudos de simulação
numérica do clima em situações de floresta e desmatamento (troca de superfícies
vegetadas de floresta po pastagens) já foram realizados (por exemplo Dickinson
e Henderson-Sellers, 1988; Lean e Warrilow, 1989, Nobre et al., 1991;
Henderson-Sellers et al., 1993; Lean e Rowtree, 1993; Manzi, 1993, Lean et al.,
1996). De modo geral, os resultados obtidos convergem em que ocorrerá um
aumento de temperatura do ar próximo à superfície (variando de 0,6 à 2,0 C),
uma redução nos totais de precipitação e evaporação (de 20 a 30% do valor de
floresta) e uma estação seca mais prolongada. Estas modificações certamente
acarretarão implicações ecológicas gravíssimas. Em um estudo preliminar, Nobre
et al. (1989) estudaram os impactos climáticos devido ao desmatamento e
obtiveram um aumento da temperatura do ar de 1,3 C. Este aquecimento relativo
da superfície de terra desmatada e do ar imediatamente acima é consistente com
reduções na evapotranspiração e no fluxo de calor latente, uma vez que uma
maior fração de energia radiativa está disponível para aquecer a superfície
terrestre e o ar acima. Além disso, a redução no comprimento de rugosidade
diminui a eficiência dos processos de troca turbulenta, contribuindo para um
aumento de calor na superfície e na camada próxima à ela. No caso do balanço de
energia à superfície (média espacial da área considerada) mostra que a radiação
solar absorvida pela superfície é menor no caso desmatado (186 W.m-2) do que na
área de floresta (204 W.m-2), devido às variações do albedo: aumentou de 12,5 %
no caso floresta para 21,6 % no cenário pastagem. O estudo efetuado por Lean et
al. (1996) representa as condições de fronteira e inicial mais realistas do
cenário da Amazônia, uma vez que os parâmetros de controle (por exemplo fração
da vegetação coberta, tipo de solo, difusividade hidráulica, etc) e de
superfície (albedo, comprimento de rugosidade, índice de área foliar, etc)
foram extraídos do conjunto de dados do ABRACOS. Os resultados obtidos foram
coincidentes com os descritos por Nobre et al. (1989) com redução na evaporação
e precipitação e aumento da temperatura do ar na superfície. A diferença mais
notável foi que a redução na evaporação de 0,81 mm.dia-1 (do cenário de
floresta (4,32 mm.dia-1) para pastagem (3,51 mm.dia-1)) foi parcialmente
compensada por um aumento de convergência de umidade, resultando em uma redução
de precipitação menor (redução de 7 % do caso floresta para pastagem). Também
ocorrem diferenças regionais (Amazônia Sul e Norte): no caso da precipitação,
por exemplo, ocorrem uma redução em todos os meses da parte sul, embora existam
meses com redução e outros meses com aumento na parte norte. Para a temperatura
do ar, o valor global na pastagem foi a de um aumento de 2,3 , devido à um
crescimento do fluxo de calor sensível (+ 30 % do caso de floresta).
Estes dois artigos supra
citados abordaram as modificações climáticas a nível regional. Por outro lado,
Fisch et al. (1996c) analisaram com detalhes o comportamento de variáveis
meteorológicas na região específica de Ji-Paraná (RO) em áreas de floresta e
pastagem, utilizando-se de resultados gerados por Lean at al. (1996). Nestas
análises usou-se um conjunto de dados (valores horários durante um período de
15 meses) gerados após 5 anos de integração. De modo geral, a substituição de
floresta por pastagem provoca, a nível sazonal, uma redução no saldo de
radiação de ondas curtas (8%) e total (3 %), um aumento na temperatura média do
ar (0,9 C), uma redução pequena na umidade específica do ar, um aumento da
velocidade do vento, uma redução na evaporação e precipitação (de 20 % e 14 %,
respectivamente) e um período de seca mais prolongado (a época seca (total
mensal inferior a 50 mm) estende-se de junho-julho no cenário floresta para
maio à agosto no caso pastagem. Com a escolha de um mês tipicamente úmido
(janeiro) e um mês ao final da época seca (setembro), analisou-se o
comportamento horário dos fluxos de energia e dos elementos climáticos. O saldo
de radiação (ondas curtas e total) é superior na floresta em relação à
pastagem, em ambas as estações. A razão de Bowen é tipicamente de +0,3 durante
a época chuvosa, aumentando para valores entre 1,0 e 3,0 durante a estação
seca. No caso da temperatura do ar, a floresta apresenta um valor máximo maior
do que de pastagem (1,2 C) durante o período das chuvas e é inferior ao mínimo
da temperatura da pastagem na estação seca (-2,5 C) . Obteve-se valores de
umidade específica similares na floresta e pastagem durante a estação chuvosa (tipicamente
16 g.kg-1), embora diferentes (floresta 16 g.kg-1 e pastagem 10 g.kg-1) na
época seca. A velocidade do vento é mais intensa na pastagem em relação à
floresta, sendo que no período seco a pastagem apresenta ventos de até 3,5 m.s-1.
5 – MICROMETEOROLOGIA DE
FLORESTA
A seguir, descrever-se-á os
principais resultados de micrometeorologia de floresta e pastagem, obtidos pelo
Projeto ABRACOS e que foram extraídos de Nobre et al. (1996).
Em média os sítios
experimentais de floresta absorveram 11% mais radiação do que as pastagens.
Isto advém do fato de que a floresta reflete menos radiação solar e emite menos
radiação de ondas longas. O albedo médio da floresta foi de 0,13, ligeiramente
mais alto do que o valor usualmente utilizado em simulações numéricas de
desmatamento, enquanto que o albedo médio da pastagem foi de 0,18, ligeiramente
menor que os valores habitualmente utilizados. Surpreendentemente as gramíneas
das pastagens não apresentaram uma forte sazonalidade do albedo, ao passo que o
albedo da floresta mostrou uma variação sazonal bem definida, que não ocorre
devido aos efeitos de variações do ângulo de elevação solar ou as variações de
nebulosidade, mas está correlacionado com a umidade do solo. Embora o albedo
dos sítios de pastagem não tenha mostrado uma clara tendência sazonal,
variações de mês a mês foram observadas, estando associadas ao índice de área
foliar. Em Ji-Paraná, diferenças sistemáticas na radiação solar incidente entre
os sítios experimentais de floresta e pastagem foram observadas durante a
estação seca. Estas diferenças podem estar relacionadas com o aumento de
nebulosidade sobre a pastagem durante aquela época do ano, fato este
evidenciado por Cutrim et al. (1995). Em se confirmando essas observações, é um
resultado importante na medida que indica um efeito direto da mudança de
cobertura vegetal em um fenômeno atmosférico de mesoescala.
As pastagens apresentaram
temperaturas máximas durante o dia mais altas e amplitudes de temperatura
também mais altas. Geralmente o mínimo de temperatura foi menor à noite para a
pastagem. Este resultado está associado provavelmente as baixas velocidades do
vento próximo à superfície para as pastagens à noite, o que pode levar à
redução dos processos turbulentos de mistura na vertical e maior estabilidade
atmosférica. A temperatura durante o dia na área urbana de Manaus foi
sistematicamente mais alta que aquela nas duas áreas rurais (pastagem e
floresta), mas as temperaturas na cidade à noite foram similares aquelas sobre
a floresta. Há pequena variação sazonal de temperatura em Manaus ou Marabá,
porém há um resfriamento considerável durante a estação seca em Ji-Paraná,
associada à advecção de ar frio de latitudes extratropicais no Hemisfério Sul,
devido à passagem de sistemas frontais. Um marcante ciclo anual de umidade foi
observado em Ji-Paraná e Marabá, mas não foi observado em Manaus. Valores mais
baixos de umidade durante a estação seca estão associados à subsidência de
grande escala, que é predominante próximo às fronteiras do domínio florestal
(como nas regiões de Marabá e Ji-Paraná no sudeste e sudoeste da Amazônia,
respectivamente). A umidade do solo estudada continuamente durante todo o
projeto ABRACOS mostrou que, durante a estação seca, houve sistematicamente
maior extração de água no solo sob a floresta, resultando em perfis mais secos
ao final da época seca. Há claras indicações de que a floresta está extraindo
água a profundidade maiores que 3,6 m (profundidade máxima das medidas de
umidade do solo). Estas indicações encontram suporte nas medidas de variações
máximas de armazenamento registradas para cada um dos sítios experimentais. O
termo de armazenamento do balanço de água não foi nulo ao final do ciclo anual
e, se esses resultados fossem extrapolados para a escala regional, a diferença
entre a precipitação e vazão fluvial não resultariam na evaporação média anual
de grande escala. O quadro geral de água no solo mostra que existem grandes
diferenças nas variações sazonais de conteúdo de água no solo, tanto entre
floresta e pastagem como entre os sítios experimentais. Essas diferenças
ocorrem como resultado dos diferentes regimes de precipitação, combinados com
as diferenças propriedades do solo, comportamento do lençol freático e
profundidade das raízes das florestas e gramíneas.
Nos quatros anos de medidas
de campo do Projeto ABRACOS houve 7 campanhas intensivas de monitoramento do
clima. O objetivo dessas campanhas de campo foi o de avaliar os parâmetros
físicos que descrevem a micrometeorologia dos sítios experimentais e fornecer
estimativas de todas as componentes do balanço de energia, incluindo
evaporação, a qual pode ser utilizada para calibrar modelos da superfície
vegetada. Durante a estação chuvosa, a partição de energia para evaporação foi
similar para floresta e pastagem, mas a evaporação total da pastagem nesta
estação foi tipicamente 10 a 15 % menor em comparação com a floresta devido a
reduzida energia disponível na pastagem e as rugosidades aerodinâmicas mais
suavizadas. Durante a estação seca, as pastagens, que tem raízes mais rasas,
foram todas afetadas pela diminuição das reservas de água no solo, apesar que
com intensidades variadas dependendo do tipo de solo e precipitação. Nos solos
argilosos de Manaus, a transpiração das pastagens declinou rapidamente depois
de somente 10 dias sem chuvas. Em contraste, nenhuma atenuação significativa em
transpiração foi observada em qualquer dos sítios de floresta durante os
períodos secos, inclusive durante as estações secas mais longas em Marabá e
Ji-Paraná.
Medições dos fluxos
turbulentos de CO2 sobre a floresta da Reserva Jaru mostraram que ocorreu um
acúmulo de carbono pela vegetação, que é o resultado do balanço entre a
quantidade de carbono absorvida durante a fotossíntese e liberada pela
respiração. Se for extrapolado para toda a região, estas estimativas significam
que a Amazônia seria um sorvedouro de aproximadamente 0,5 Gtoneladas de carbono
por ano e teria um papel importante no efeito estufa, se todo este carbono
fosse liberado instantaneamente para a atmosfera.
A camada limite atmosférica
durante o dia atingiu altura de 700 a 1000 m mais alta sobre áreas com
desmatamento do que sobre áreas de florestas na região de Ji-Paraná, o que
mostrou-se consistente com as observações de aumento do fluxo de calor sensível
à superfície e diminuição da evaporação sobre pastagens em comparação com a
floresta. Observou-se também uma pequena diminuição da quantidade total de
vapor d’água sobre a pastagem e relação de floresta. A arquitetura de faixas de
floresta inseridas em grandes extensões de áreas de pastagem é tal que a
justaposição destes dois tipos de superfície (floresta fria e úmida e pastagem
quente e seca) pode provocar movimentos de mesoescala (circulação térmica),
auxiliando a erosão da camada limite noturna na pastagem. Também ocorre
advecção de energia nesta situação.
Estes resultados foram baseados em observações e dados coletados nos três pontos experimentais do projeto ABRACOS. Como consequência da coleta dos dados e do melhor entendimento dos processos físicos envolvidos no efeito do desmatamento, pretende-se utilizar estes resultados para melhorar as previsões numéricas de tempo, principalmente nesta região.
Equipamentos instalados na Amazônia e em uma floresta temperada na Inglaterra (foto), vão simular a elevação de 50% na concentração atmosférica de dióxido de carbono para avaliar os efeitos nos ecossistemas.
6 – Experimentos
Meteorológicos realizados na região Amazônica
Nas últimas 2 décadas, vários experimentos micrometeorológicos integrados (veja resumo na Tabela 1 ) foram realizados na região Amazônica, com o objetivo de aumentar os conhecimentos relativos à interação entre floresta tropical e a atmosfera. Individualmente, vários estudos foram feitos por pesquisadores do INPA, Museu Emílio Gueldi e Universidade Federal do Pará (entre outros), sobre estas interações. O experimento ARME (Amazonian Research Micrometeorological Experiment) teve como objetivo a coleta de dados micrometeorológicos da partição de energia pela floresta amazônica e estimativas de evapotranspiração. Vários resultados científicos foram encontrados, dentro dos quais ressalta-se o fato de que a floresta tropical não sofre o efeito do estresse hídrico provocado pela falta de chuvas, evapotranspirando na taxa potencial ao longo do ano ( Shuttleworth et al., 1987). Posteriormente, o experimento ABLE (Amazonian Boundary Layer Experiment) foi realizado com o intuito de coletar dados da estrutura da atmosfera da região Amazônica para estudar liberação e ciclos de gases e aerossóis. Os principais resultados científicos estão compilados em dois números especiais (ABLE-2A, 1988 e ABLE-2B, 1990) e em Garstang et al. (1990). O balanço hídrico em larga-escala durante este experimento foi analisado por Souza (1991). Este mesmo assunto foi objeto de outro experimento científico realizado em novembro e dezembro de 1989 e denominado FLUAMAZON (Fluxo de Umidade na região Amazônica). O objetivo deste experimento foi o de coletar dados de ar superior (radiossondagem) para realizar balanço de umidade na Amazônia, juntamente com medidas isotópicas do vapor d’água e seus resultados foram analisados por Rocha (1991). Com o intuito de coletar dados dos fluxos de energia e dos elementos climáticos sobre as superfícies de floresta tropical e de pastagem em três localidades distintas da Amazônia, iniciou-se o projeto ABRACOS (Anglo Brazilian Amazonian Climate Observational Study), que teve a realização de missões de coleta de dados em épocas secas e úmidas, durante os anos de 1991-1995. Vários resultados científicos importantes foram alcançados, dentre os quais destaca-se a sazonalidade do albedo de floresta tropical (Culf et al., 1995), a sazonalidade da evapotranspiração na área de pastagem, mas não na floresta (Wright et al., 1992), etc. Estes resultados estão compilados em um livro (“Amazonian Climate and Deforestation” Gash, Nobre, Roberts e Victoria (eds.), 1996). Os conhecimentos científicos sobre a influência do desmatamento no clima na estrutura da camada limite atmosférica foram aumentados com a realização do experimento RBLE (Rondônia Boundary Layer Experiment), com 3 campanhas de coleta de dados durante época seca, em regiões de floresta e pastagem em Ji-Paraná (RO). As campanhas de coleta de dados foram realizadas em simultâneo com medidas do Projeto ABRACOS. Os principais resultados estão compilados em Fisch (1996a) e mostram que a camada limite convectiva sobre a área de pastagem é muito mais desenvolvida do que sobre floresta, sendo esta diferença (em torno de 1000 metros mais profunda) devido à maneira como é feito a partição de energia na pastagem: o fluxo de calor sensível é praticamente igual ao de calor latente. Por outro lado, durante as condições noturnas, a camada limite noturna é mais profunda na floresta (350 m de altura) do que na pastagem (230 m), pois a turbulência mecânica (ventos) auxilia o transporte de energia na floresta. A descontinuidade térmica na pastagem é superior a da floresta. Lyra et al. (1994) mostram que a estrutura da camada limite atmosférica (CLA) sobre a região de floresta em Ji-Paraná apresenta-se compatível com as observações realizadas na floresta tropical do Congo, ressaltando que a CLA sobre a área de pastagem é, em média, 66 % superior do que no caso floresta, além de não entrar em colapso ao final da tarde/início da noite, mantendo um aspecto estacionário durante todo o período noturno. O papel da vegetação de floresta tropical na liberação/absorção de CO2 atmosférico está sendo estudado, com a realização de uma campanha de coleta de dados do MACOE (Manaus Atmospheric CO2 Experiment), realizado em novembro de 1995, na região de Manaus (AM). O objetivo deste experimento foi o de coletar dados do perfil de CO2 na camada limite noturna em regiões de floresta tropical. Os dados coletados ainda passam pela fase de consistência e análises (Fisch e Culf, 1996b). Finalmente, em um futuro bastante próximo, será realizado um grande experimento internacional (LBA – Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazonia) na região Amazônica, que visa integrar todos estes resultados já obtidos, além de tentar entender como a Amazônia funciona atualmente como uma entidade regional, bem como as mudanças nos usos da terra e no clima que irão afetar o funcionamento biológico, químico e físico da Amazônia, incluindo a sustentabilidade do desenvolvimento na região e sua influência no clima. O experimento LBA será uma colaboração internacional, envolvendo Brasil, Estados Unidos e Europa (Reino Unido, Holanda, Alemanha, França, entre outros). O período de coleta de dados está planejado para ocorrer entre 1998-1999, com as análises estendendo-se até o ano 2002. Com exceção dos dados coletados durante o MACOE, o restante dos dados já coletado na Amazônia encontra-se disponível e fará parte de um grande banco de dados a ser preparado antes do LBA, na forma de CD-ROM.
Derrubada das matas e queimadas liberam CO2 na atmosfera.
Floresta Amazônica emite a
mesma quantia de dióxido de carbono que absorve.
Derrubada está fazendo com
que a maior floresta do mundo, que antes ‘sequestrava’ muito dióxido de carbono
da atmosfera, amenizando o efeito estufa, agora absorva a mesma quantidade de
CO2 que emite.
7 – AGRADECIMENTOS
Os autores desejam expressar
seus agradecimentos à todos aqueles que, direta ou indiretamente, realizam
pesquisas na Amazônia, tentando compreender melhor a influência da floresta na
determinação e caracterização do clima da região. Estes conhecimentos visam
melhorar as condições de vida dos Amazônicos. (ecodebate)
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