Qualquer habilidade que as
soluções baseadas na natureza tenham para baixar as temperaturas globais não
ameniza em nada a necessidade de que o mundo atinja o mais rapidamente possível
o pico de emissões
Pesquisadores de Oxford
examinam papel da natureza em planos de emissão zero de empresas e países e
alertam para a necessidade de ações de curto prazo
O papel da natureza no
enfrentamento às mudanças climáticas é quase sempre visto da perspectiva de
remover o carbono da atmosfera, mas um grupo de pesquisadores da Universidade
de Oxford resolveu fazer uma pergunta diferente: qual seu impacto para resfriar
a temperatura global?
Eles descobriram que qualquer habilidade que as soluções baseadas na natureza tenham para baixar as temperaturas globais não ameniza em nada a necessidade de que o mundo atinja o mais rapidamente possível o pico de emissões. Segundo afirmam, há um intervalo bastante amplo entre a proteção e a restauração dos ecossistemas agora e o efeito disso na redução da temperatura global. Isso porque o carbono permanece na atmosfera por décadas – ainda não é possível sentir o impacto do aquecimento das emissões liberadas este ano, por exemplo.
Essa conclusão é preocupante porque muitos planos nacionais e empresariais de emissões zero dão importância central às soluções baseadas na natureza. Proteger e restaurar ecossistemas são medidas vitais para todos os compromissos climáticos, além de tornar as sociedades mais resistentes aos impactos da mudança do clima, mas o que os estudiosos apontam é que o papel da natureza é muitas vezes exagerado e mal comunicado.
Por exemplo, o plano de
emissão zero da Shell exigiria a plantação de uma floresta do tamanho do Brasil
para compensar suas emissões. Claramente não há terra disponível suficiente no
planeta para atender as necessidades de compensação da empresa, sem contar
todos os outros produtores de combustíveis fósseis.
“Nossa análise mostra que
Soluções Baseadas na Natureza – proteger e restaurar ecossistemas e gerir
melhor as terras em uso – têm um impacto real, mas limitado, na redução de
nosso pico de aquecimento até meados do século”, afirma Cécile Girardin, autora
principal da pesquisa e diretora técnica da Oxford’s Nature Based Solutions
Initiative.
Segundo a pesquisadora, essas
soluções podem ter um papel importante no resfriamento das temperaturas globais
até o final do século, mas isso significa que seus efeitos são de longo prazo e
não podem substituir medidas urgentes. “O mundo deve investir agora em soluções
baseadas na natureza que sejam ecologicamente corretas, socialmente justas e
concebidas para proporcionar múltiplos benefícios à sociedade ao longo de um
século ou mais.”
“Metas climáticas ambiciosas nas empresas com planos de médio prazo que dependem de soluções baseadas na natureza como uma alternativa para reduzir as emissões de combustíveis fósseis simplesmente não fazem sentido”, afirma Myles Allen, coautor da pesquisa e professor do Departamento de Física Atmosférica, Oceânica e Planetária da Universidade de Oxford.
“Quanto mais ambiciosa for a meta climática, menor será o prazo para que tais soluções tenham um efeito sobre o pico de aquecimento”, resume o coautor da pesquisa, Yadvinder Malhi, professor de Ciência de Ecossistemas de Oxford. (ecodebate)
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