Entenda
o inequívoco papel humano na mudança climática.
A
comunidade científica não tem mais dúvida sobre a mudança climática causada por
atividades humanas.
É
verdade que, dentro de sua história de 4,5 bilhões de anos, o planeta Terra
experimentou eras de menor e maior calor.
Numa
alternância de milhares de anos, essas mudanças foram determinadas por
variações na órbita da Terra ao redor do Sol. Enquanto distâncias maiores
resultaram em ciclos mais frios, a proximidade gerou eras mais quentes e
interglaciais.
Para
calcular temperaturas tão antigas, eles estudaram os chamados registros
naturais – medições de núcleos de gelo, anéis de árvores e corais.
O
resultado mostrou pouca variação durante muitas centenas de anos até o século
20, quando subitamente houve um aumento acentuado.
Em
2013, uma pesquisa publicada na revista Science analisou temperaturas ainda
anteriores, datando de 11 mil anos atrás. A conclusão foi a mesma: o planeta
aqueceu mais rápido no século passado do que em qualquer outra época desde o
final da última era glacial.
O
estudo também revelou que, nos últimos 2 mil anos, a Terra vem enfrentando um
período de resfriamento natural em termos de sua posição em relação ao Sol.
Mas,
como explica o estudo, esse resfriamento natural praticamente não foi notado
devido ao aquecimento sem precedentes causado pelas emissões humanas de gases
de efeito estufa.
O que
as emissões de CO2 têm a ver com a mudança climática?
O
efeito estufa – um processo natural que aquece a Terra – é necessário para
sustentar a vida no planeta. Ele acontece quando certos gases em nossa
atmosfera capturam o calor emitido pela Terra e atuam como o próprio efeito
estufa do planeta. Os gases naturais que retêm o calor em nossa atmosfera, que
incluem dióxido de carbono/CO2, metano e óxido nitroso, são
necessários para manter a temperatura da superfície da Terra quente.
Sem o
efeito estufa, a temperatura da superfície cairia 33°C, de acordo com a
Organização Meteorológica Mundial (OMM). Isso tornaria o planeta um lugar
congelado e inabitável.
Durante
milhares de anos, a natureza regulou bem a concentração desses gases. Mas isso
começou a mudar quando os seres humanos passaram a queimar combustíveis fósseis
para criar energia, o que desencadeou um aumento acentuado das emissões não
naturais de CO2. Isso interferiu no equilíbrio atmosférico do
planeta e, como resultado, a Terra começou a aquecer mais rapidamente.
De
acordo com o relatório da OMM sobre o Estado do Clima Global 2020, a
temperatura média no ano passado foi 1,2°C mais alta do que os níveis
pré-industriais. Isso se refere ao período entre 1850-1900, quando os
combustíveis fósseis não eram amplamente utilizados como meio para gerar energia.
O relatório descreveu os níveis crescentes de gases de efeito estufa na atmosfera resultantes das atividades humanas como “um dos principais motores das mudanças climáticas”.
Em 2001, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estimou que a concentração de CO2 na atmosfera havia sido de 280 partes por milhão (ppm) por vários milhares de anos antes da era industrial. Em 1999, havia aumentado para 367 ppm.
Criado
como um órgão da ONU em 1988, o IPCC tem 195 países-membros e se ocupa da
ciência relacionada à mudança climática. Ele atribuiu o aumento de CO2
atmosférico às emissões geradas pelo homem, três quartos delas provenientes da
queima de combustíveis fósseis, e o restante da mudança no manejo da terra.
Maio/2021
o nível médio global de CO2 atmosférico atingiu 415 ppm. A última
vez em que os níveis de CO2 haviam sido tão elevados foi há cerca de
3 milhões de anos, quando o nível do mar era cerca de 30 metros mais alto, e os
humanos modernos nem sequer existiam.
O cientista
climático Benjamin Cook, do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da Nasa,
explica que, no final do século 20, quando os pesquisadores começaram a
procurar respostas para explicar a tendência de aquecimento, eles examinaram
diferentes fatores, incluindo gases de efeito estufa, energia solar, circulação
oceânica e atividade vulcânica.
“Somente
as emissões de gases de efeito estufa dos combustíveis fósseis e a
industrialização nos deram uma previsão que se alinha com o aquecimento que
estamos vendo”, disse Cook à DW.
Ele
afirma que a comunidade científica está tão confiante na mudança climática
causada pelo homem hoje quanto na compreensão da teoria da gravidade.
“Há
incertezas e nuances a serem discutidas na ciência climática”, comenta Cook.
“Mas a única coisa em que praticamente todo cientista concorda hoje é que o
aquecimento que estamos vendo é impulsionado pela queima de combustíveis
fósseis.”
Por que
demorou para se chegar a essa conclusão?
Uma
análise amplamente discutida sobre a evolução do consenso científico sobre o
aquecimento global antrópico foi publicada em 2013.
Liderado
por John Cook, pesquisador do Centro de Pesquisa de Comunicação sobre Mudanças
Climáticas da Universidade de Monash, na Austrália, pesquisadores americanos,
britânicos e canadenses examinaram 11.944 textos relacionados ao clima
publicados na literatura científica revisada por pares entre 1991 e 2011.
Menos
de 1% dos trabalhos de pesquisa examinados rejeitavam a ideia da influência
humana sobre o clima da Terra. Dos textos, 66,4% não expressaram nenhuma
posição sobre o fator antrópico, e 32,6% o endossaram. Uma análise mais
aprofundada desse último número revelou um consenso de 97,1% sobre a mudança
climática causada pelo homem.
Os
críticos, no entanto, atacaram as conclusões com base no fato de que o consenso
de 97,1% foi derivado de menos de um terço (32,6%) de todos os artigos
revisados. A maioria (66,4%), argumentaram eles, não havia expressado um ponto
de vista.
O
consenso científico não pode ser alcançado através de votação, mas evolui com o
tempo à medida que mais pesquisas são feitas.
Um
estudo mais recente conduzido por um grupo de autores internacionais confirmou
que mais de 90% dos cientistas climáticos compartilham o consenso de que a
mudança climática é causada pelo homem.
E uma
análise de 2019 de 11.602 artigos revisados por pares sobre mudança climática
publicados nos primeiros sete meses de 2019 constatou que os cientistas
chegaram a um acordo de 100% sobre o aquecimento global causado pelos humanos.
Essa pesquisa foi realizada por James Lawrence Powell, geólogo americano e
autor de 11 livros sobre mudanças climáticas e ciência da Terra.
“Se uma
teoria alternativa do que está impulsionando a mudança climática em vez de
gases de efeito estufa fosse apoiada por pesquisas e evidências, tal trabalho
seria inovador”, diz Benjamin Cook. “Seria um estudo de nível de prêmio Nobel.
Mas nós não temos ainda essa pesquisa.”
A mudança climática de origem humana é endossada pelo IPCC. Já em 1995, o órgão intergovernamental disse: “O equilíbrio das evidências sugere que existe uma influência humana discernível sobre o clima global”.
A comunidade científica não tem mais dúvida sobre a mudança climática causada por atividades humanas. A DW explica como o estudo do clima evoluiu para o consenso científico sobre o aquecimento global.
“Uma
abordagem científica significa olhar para os dados, observações e resultados
para tirar conclusões”, afirma Helene Jacot Des Combes, climatologista da
Universidade do Pacífico Sul, autora do IPCC e assessora do governo das Ilhas
Marshall. “E tudo isso nos diz que a atual mudança climática é causada pelas
atividades humanas”. (ecodebate)
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