Dados analisados em “Mata
Atlântica em Debate”, transmitida pelas redes sociais da Fundação SOS Mata
Atlântica em 30/06/21.
Dos 3.429 municípios que
compõem a Mata Atlântica, 439 (15%) desmataram o bioma entre 2019 e 2020 –
somando 13.053 hectares desflorestados. Desse total, no entanto, 70% se
concentram em apenas 100 municípios de nove estados (MS, MG, BA, PI, PR, SC,
SP, SE, RJ).
No Rio de Janeiro, Valença
foi o que mais desmatou (37 hectares). Outras 10 cidades fluminenses aparecem
no ranking: Casimiro de Abreu (10 hectares), Araruama (8), Campos dos
Goytacazes (7), São Pedro da Aldeia (6), Cabo Frio (5), Silva Jardim (4),
Teresópolis (4), Rio Bonito (4) e Cardoso Moreira (4).
Bonito (MS), município famoso
pelo ecoturismo, foi onde houve o maior desmatamento no período analisado: foram
416 hectares. Em seguida vêm Águas Vermelhas/MG, com 369 hectares
desflorestados, e Wanderley/BA, com 350. Em cada um desses três municípios o
ritmo do desmatamento foi o correspondente a mais de um campo de futebol de por
dia. Completam a lista Montalvânia/MG, com 286 hectares; Pedra-Azul/MG, com
286; Cotegipe/BA, com 273; Ponto dos Volantes/MG, com 220; Miranda/MS, com 219;
Encruzilhada/BA, com 175; e Francisco Sá/MG, com 166. Apenas essas dez cidades
somam 21% do total desflorestado e 70% se concentram em apenas 100 municípios
de 9 estados/MS, MG, BA, PI, PR, SC, SP, SE, RJ.
Os dados são do Atlas dos
Municípios da Mata Atlântica, estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica
com a cooperação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, unidade vinculada
ao Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação (INPE/MCTI). As informações
completas podem ser acessadas em www.aquitemmata.org.br.
“O desmatamento afeta diretamente a vida de cada pessoa que habita esses municípios”, explica Luis Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da SOS Mata Atlântica. “Além de fazer com que as cidades se tornem cada vez mais quentes, a redução das áreas verdes ameaça a disponibilidade e a qualidade da água. A crise hídrica que vivemos hoje é um reflexo disso. No caso de Bonito os danos podem ser ainda graves, pois coloca em risco o turismo que move a economia da cidade”, alerta.
A trajetória dos municípios piauienses merece destaque. Ao longo da década passada, dois deles – Manoel Emídio (que se manteve no indesejável primeiro lugar no período anterior) e Alvorada do Gurguéia – apareciam como líderes entre os maiores desmatadores. Mas, este ano, o Piauí reduziu a derrubada em 76% em relação à última análise (somando 372 hectares), com União sendo a cidade do estado a figurar mais alto na lista (11ª posição, com 165 hectares). Além disso, são dois municípios do Piauí os que mantêm a maior área absoluta de mata em todo o bioma: Guaribas (176.477 hectares) e Canto do Buriti (118.411 hectares).
Os dados nacionais e por
estado foram divulgados em maio no Atlas da Mata Atlântica, mostrando que o
desmatamento entre 2019 e 2020 nos 17 estados que compõem o bioma caiu 9% em
relação ao observado no período anterior. Por outro lado, em relação a
2017-2018, quando foi atingido o menor valor da série histórica (11.399
hectares), houve um crescimento de 14%.
Luis Fernando lembra que
praticamente a totalidade dessa devastação é ilegal: o bioma, que hoje mantém
apenas 12,4% da sua vegetação original, é protegido pela Lei da Mata Atlântica,
que proíbe o desmatamento a não ser em raras situações – como a realização de
obras, projetos ou atividades de utilidade pública.
“Qualquer área desmatada na
Mata Atlântica, por menor que possa parecer, é uma perda enorme. Não só
deveríamos ter parado de destruí-la como já precisávamos ter dado um passo
além, que é reverter parte das áreas degradadas por meio do reflorestamento”,
afirma o diretor. Segundo ele, esse trabalho de recuperação é essencial para a
sociedade e a economia brasileiras, já que na região vivem 70% da nossa
população e estão concentrados 80% do PIB. “E também é fundamental para o
planeta como um todo. Restaurar a Mata Atlântica, além de ser importante para
conservar a biodiversidade e mitigar a emissão de gases-estufa, é uma forma de
colaborar para que o mundo alcance o cenário de redução de 1,5°C de aquecimento
global estabelecido no Acordo de Paris”, explica.
Os dados serão analisados e
comentados na live “Mata Atlântica em Debate”, transmitida pelas redes sociais
da Fundação SOS Mata Atlântica na quarta-feira, 30 de junho.
O levantamento, que contou
com a execução técnica da Arcplan, foi realizado por meio de imagens de
satélite e tecnologias na área da informação, do sensoriamento remoto e do
geoprocessamento. O projeto é fruto de um acordo de cooperação técnica pioneiro
com o INPE, estabelecido em 1989, voltado a determinar a distribuição espacial
dos remanescentes florestais e de ecossistemas associados da Mata Atlântica,
monitorar as alterações da cobertura vegetal e gerar informações
permanentemente aprimoradas e atualizadas desse bioma.
Atlas dos Municípios traz informações de todos os remanescentes de vegetação nativa e áreas naturais do bioma acima de três hectares. Em cidades dos estados do Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo é possível obter dados acima de um hectare. “Mapas com a localização geográfica tanto das áreas de remanescentes de Mata Atlântica, como das áreas de desmatamento, oferecem à população de todos os municípios do bioma a oportunidade de cuidar de suas florestas e garantir os serviços ecossistêmicos, como a preservação do solo e a manutenção dos aquíferos. Sabendo onde o desmatamento ocorre, podemos fiscalizar e reivindicar medidas de proteção ou de recuperação de nossas matas” reforça Silvana Amaral, coordenadora técnica do Atlas pelo INPE.
71% do desmate da Mata Atlântica ocorreu em 3% dos municípios.
Todas as informações estão
disponíveis no site www.aquitemmata.org.br
que, de forma prática e lúdica, apresenta mapas interativos e gráficos com as
informações atualizadas sobre o desmatamento e o estado de conservação de
florestas, mangues e restingas nos 3.429 municípios da Mata Atlântica. A SOS
Mata Atlântica preparou ainda a cartilha Aqui Tem Mata, um guia para estimular
nos espaços escolares o diálogo sobre o meio ambiente e a Mata Atlântica – sua
história, situação, biodiversidade e a importância de protegê-la. O relatório
completo do Atlas da Mata Atlântica 2019-2020 pode ser acessado em
www.sosma.org.br e em www.inpe.br. (ecodebate)
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