A emissão de carbono é dez
vezes maior em áreas com mais de 30% de desmatamento, enquanto apenas 18% das
emissões por queimada são absorvidas pela floresta.
O desmatamento diminuiu a
capacidade da floresta amazônica de absorver gás carbônico da atmosfera,
transformando-a em uma fonte de carbono. As áreas do bioma com mais de 30% de
desmatamento apresentaram uma emissão de carbono dez vezes maior do que regiões
com desmatamento inferior a 20%.
Os dados são de estudo
liderado por uma pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) publicado em 14/07/21, na revista britânica Nature. “É o estudo mais
completo e extenso já realizado”, afirma Sir David King, presidente do Grupo
Consultivo para a Crise Climática (CCAG, em inglês), e ressalta a importância
do estudo em descrever como a floresta amazônica passou de consumidora para uma
fonte de emissões de CO2.
De acordo com David, os
resultados da pesquisa se relacionam à pressão por produção de carne bovina e
soja e com a mudança catastrófica, em suas palavras, na direção das políticas
do atual governo brasileiro “Trata-se de uma acusação devastadora de sua
trajetória atual, já que o país passou de um dos mais progressistas em termos
de gestão de emissões para um dos piores. Devemos continuar a pressionar quem
está no poder a reconsiderar, a garantir um futuro melhor não apenas para o
povo do Brasil, mas para a saúde do planeta”, afirma.
Os pesquisadores recolheram
em torno de 8 mil amostras em mais de 600 voos, em nove anos de estudo em
quatro localidades da Amazônia, que representam cada região da floresta. Nas
áreas estudadas foram encontradas diferentes taxas de desmatamento. As regiões
mais desmatadas, com uma taxa de mais de 30% de desmatamento, apresentaram uma
estação seca mais estressante para a floresta: mais seca, mais quente e mais
longa.
De 2010 a 2018, a Amazônia brasileira, território de 4,2 milhões km2, foi responsável por lançar 1,06 bilhões de toneladas de CO2 para a atmosfera por ano em queimadas. O balanço de carbono, ou seja, o saldo final entre absorções e emissões foi de 0,87 bilhão de toneladas por ano, o que significa que apenas 18% das emissões por queimada estão sendo absorvidas pela floresta. Com isso, a pesquisa aponta que, sem queimadas, a Amazônia brasileira retiraria da atmosfera 0,19 bilhão de toneladas de CO2 por ano.
A maior emissão de carbono acontece na localidade leste, nos estados do Pará e Mato Grosso, e ocorre por causa da grande quantidade de queimadas e de menor absorção de CO2 pela própria floresta. “Durante os meses de agosto, setembro e outubro a redução de chuva é muito acentuada nestas regiões, aumentando a temperatura em mais de 2˚C, além da duração da estação seca estar maior. Esta condição promove um aumento da inflamabilidade da floresta e da mortalidade das árvores, que são típicas de uma floresta tropical úmida”, explica a pesquisadora Luciana Gatti, uma das autoras do estudo.
As regiões do sul do Pará e
norte do Mato Grosso apresentaram o pior cenário. Além de constituírem as
maiores extensões de área queimada, nessas áreas a floresta já é uma fonte de
carbono significativa, com emissões para a atmosfera que crescem ano a ano.
“Esta região da Amazônia é a que mais gera preocupação, pois a degradação é
extrema, agravando a crise de mortalidade das árvores”, comenta Luciana.
O desmatamento também altera
a condição climática na Amazônia, afetando também a capacidade da floresta não
desmatada de absorver carbono – além de aumentar sua inflamabilidade. Por isso,
Luciana Gatti é categórica ao afirmar que a redução de emissões de carbono da
floresta passa por uma estratégia de combate ao desmatamento e queimadas. “Com
isso, contribuiríamos também para um aumento da chuva e redução da temperatura
na região, formando um ciclo positivo que também afeta o restante do Brasil, a
América do Sul e o planeta.”
Para Mercedes Bustamante, representante do CCAG no Brasil, o destino da Amazônia é central para a solução das crises climática e de biodiversidade. “Os ecossistemas amazônicos são um dos elementos mais críticos do ciclo global do carbono e do sistema climático. Atualmente, 18% da Amazônia já foi desmatada, e 17% está em processo de degradação. As perturbações também colocam a biodiversidade em risco, afetando o funcionamento e a produtividade dos ecossistemas”, completa.
Com desmatamento, Amazônia perde sua capacidade de absorver carbono.
Dados do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais mostraram que a Amazônia tinha 2.308 focos de queimadas
em junho, o maior número desde 2007 para este mês. “Parar o desmatamento e as
queimadas associadas e investir na restauração de ecossistemas degradados na
região são pontos críticos para travar a espiral de degradação”, afirma
Mercedes. (ecodebate)
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