Proteger a
saúde humana dos impactos das mudanças climáticas é mais urgente do que nunca,
mas a maioria dos países não está fazendo o suficiente para atingir essa meta.
É o que afirma
o primeiro Panorama Global do Progresso nas Mudanças Climáticas e a Saúde,
divulgado dia 03/12/20 em Genebra e Madri, onde ocorre a Conferência das Nações
Unidas sobre Mudança Climática, COP 25.
O novo estudo
baseia-se em dados de 101 países pesquisados pela Organização Mundial da Saúde,
OMS, listados no relatório da Pesquisa de Saúde e Mudança Climática da
Organização Mundial de Meteorologia de 2018. A relação inclui Brasil, São Tomé
e Príncipe e Timor-Leste.
Riscos
De acordo com o
relatório, os riscos mais comuns à saúde sensíveis ao clima foram identificados
pelos países como estresse térmico, lesões ou morte provocadas por eventos
climáticos extremos, alimentos, água e doenças transmitidas por vetores como
cólera, dengue ou malária.
A diretora do
Departamento de Saúde Pública, Meio Ambiente e Determinantes Sociais da Saúde
da OMS, Maria Neira, disse à ONU News, de Madri, que a mensagem é clara e
forte.
“Quando se
atacam as causas do aquecimento global, o que também se faz é proteger a saúde
das pessoas, porque a cada ano, essas mesmas causas que são responsáveis pela
mudança climática, são também responsáveis pela poluição do ar. E essa poluição
do ar que estamos respirando está matando mais de 7 milhões de pessoas a cada
ano. Isso é inaceitável. Então, a gente quer explicar aqui na COP que o
argumento da saúde pode ser uma grande motivação para os países, que estão aqui
negociando, saberem que se eles tomarem as ações adequadas eles vão proteger e
reduzir muito o número de mortes causadas pela poluição de ar e aquecimento
global.”
Finanças
Cerca de 60%
dos países avaliados relataram que os resultados da pesquisa em relação aos
riscos à saúde tiveram pouca ou nenhuma influência na alocação de recursos
humanos e financeiros para atender às suas prioridades de adaptação para
proteger a saúde.
Dificuldades
O estudo diz
que os países têm dificuldades em acessar financiamento climático internacional
para proteger a saúde das pessoas. Mais de 75% relataram falta de informações
sobre financiamento climático, outros 60% disseram que existe falta de conexão
dos agentes de saúde com os processos de financiamento e mais de 50% não sabem
preparar propostas.
O diretor-geral
da OMS Tedros Ghebreyesus afirmou que “a mudança climática não está apenas
cobrando a conta para as gerações futuras, as pessoas já estão pagando agora
com saúde.” Para ele, “é obrigação dos países terem recursos para agir contra
as mudanças climáticas e preservar a saúde agora e no futuro”.
Emissões
O valor dos
ganhos em saúde com a redução das emissões de dióxido de carbono seria quase o dobro
do custo de implementação dessas ações em nível global. Fora isso, o
cumprimento das metas do Acordo de Paris poderia salvar cerca de um milhão de
vidas por ano até 2050 apenas através da redução da poluição.
No entanto,
segundo a OMS, muitos países não conseguem tirar proveito desse potencial. A
pesquisa mostra que menos de 25% deles têm colaborações claras entre a saúde e
os principais setores responsáveis pelas mudanças climáticas e poluição do ar,
transporte, geração de eletricidade e energia doméstica.
A agência da
ONU destaca que os ganhos em saúde que resultariam no corte de emissões de
carbono raramente são refletidos nos compromissos climáticos nacionais.
A declaração
provisória da OMM sobre O Estado do Clima Global, também divulgada nesta terça-feira,
diz que a temperatura média global em 2019, no período de janeiro a outubro,
foi de cerca de 1,1ºC acima do período pré-industrial.
Segundo a
agência, o ano conclui uma década de calor global excepcional, recuo do gelo e
níveis recordes do mar impulsionados por gases de efeito estufa de atividades
humanas. As temperaturas médias para os períodos de cinco anos, 2015 a 2019, e
de dez anos, de 2010 a 2019, devem ser as mais altas já registradas.
Oceanos
A OMM alerta
que o oceano, que age como um amortecedor absorvendo calor e dióxido de
carbono, está pagando um preço muito alto. O calor do oceano atingiu níveis
recordes e houve ondas de calor marinhas generalizadas.
A água do mar
está 26% mais ácida do que no início da era industrial e ecossistemas marinhos
vitais estão sendo degradados.
O
secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, disse que se medidas urgentes não
forem tomadas agora, a temperatura deve ter um aumento “de mais de 3°C até o
final do século, com impactos cada vez mais prejudiciais ao bem-estar humano.”
Ele acrescentou que o mundo não está “nem perto de cumprir a meta do Acordo de
Paris”.
Taalas enfatizou que ondas de calor e inundações severos que costumavam ser eventos raros estão se tornando mais regulares. Ele lembrou que países que vão “das Bahamas ao Japão e Moçambique sofreram o efeito de ciclones tropicais devastadores” e que “incêndios florestais se alastraram pelo Ártico e a Austrália”.
Escola 25 de Junho, na cidade da Beira, em Moçambique, foi danificada durante o ciclone Idai.
O estudo indica
que a atividade de ciclones tropicais em todo o mundo em 2019, por exemplo,
ficou um pouco acima da média. O Hemisfério Norte, até o momento, teve 66
ciclones tropicais, em comparação com a média nessa época do ano de 56, embora
a energia acumulada do ciclone esteja apenas 2% acima da média. A temporada de
2018-19 no Hemisfério Sul também ficou acima da média, com 27 ciclones.
Na costa leste
da África, o ciclone tropical Idai chegou a Moçambique em 15 de março como um
dos mais fortes já registrados na região, resultando em muitas mortes e
devastação generalizada. O Idai contribuiu para a destruição completa de cerca
de 780 mil hectares de plantações no Malauí, Moçambique e Zimbábue,
prejudicando ainda mais a situação precária de segurança alimentar.
O ciclone
também deslocou pelo menos 77.019 em Moçambique, 53.237 no sul do Malauí e
50.905 no Zimbábue.
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