De veículos a faxina: saiba
como você está exposto à poluição em casa.
Você provavelmente já deve
ter visto as fotos do antes e depois do lockdown em grandes cidades que
pareceram apresentar uma grande mudança na qualidade do ar. Em uma das fotos, o
Portão da Índia — um memorial de guerra em Nova Delhi — mal pode ser visto em
meio à névoa da poluição. Depois, durante o lockdown, ele fica perfeitamente
visível com toda a grandiosidade de suas pedras vermelhas de Bharatpur.
Remover os carros das ruas
pode fazer maravilhas em relação à fumaça, mas a poluição do ar é muito mais do
que isso. A queda na utilização de carros movidos a combustíveis fósseis e a
melhora na qualidade do ar externo em áreas urbanas, combinadas com as mudanças
nas construções e estilos de vida, significa que a poluição do ar dentro de
casa se tornará uma preocupação maior no futuro. Ainda não existem muitas
respostas para o risco que isso trará — ou como lidar com eles.
Os veículos têm sido uma
fonte dominante de poluentes atmosféricos por décadas. Mas o reinado de um
século dos combustíveis à base de petróleo está chegando ao fim com o lançamento
cada vez mais rápido de veículos elétricos. Uma consequência disso será uma
queda nas concentrações de gases altamente reativos chamados óxidos de
nitrogênio, que na verdade neutralizam um outro poluente de fontes industriais,
o ozônio. Portanto, menos carros movidos a gasolina e diesel, juntamente com
emissões mais baixas daqueles que restarem, podem realmente resultar em maiores
concentrações de ozônio nas áreas urbanas.
Ao contrário da estratosfera,
onde o ozônio desempenha um papel importante na proteção contra a radiação
ultravioleta prejudicial, na superfície, ele pode atuar como um poluente
respiratório. Essa propriedade torna a vida difícil para pessoas com doenças
respiratórias, como asma e bronquite.
Mas não estamos apenas
expostos ao ozônio ao ar livre. Ele também pode entrar em edifícios através de
janelas, portas e rachaduras nas paredes. Portanto, se as concentrações de
ozônio aumentam em ambientes externos, também aumentam em ambientes internos.
Modelos de computador previram que, durante o lockdown, as concentrações de
ozônio interno aumentariam em 50%.
Uma vez dentro de casa, o
ozônio reage com muitos produtos químicos emitidos por atividades comuns, como
a faxina, para formar novos poluentes atmosféricos, alguns dos quais são
prejudiciais à saúde.
No entanto, o ozônio interno
não é o único problema. Existem muitas fontes de poluição do ar dentro de casa.
Quando cozinhamos, principalmente com gás natural, e quando fritamos carne em
altas temperaturas, produzimos óxidos de nitrogênio e materiais particulados. A
limpeza pode produzir compostos de fragrância (chamados de compostos orgânicos
voláteis), bem como materiais particulados. Velas acesas também podem produzir
óxidos de nitrogênio, materiais particulados e compostos orgânicos voláteis.
Alguns destes compostos são
emitidos diretamente e outros podem reagir posteriormente — com o ozônio — para
formar novos poluentes atmosféricos. Consequentemente, a qualidade do ar
interno depende muito das atividades internas e de quão bem ventilado um edifício
é.
Nos últimos 50 anos ou mais,
os edifícios se tornaram mais herméticos com o aumento das medidas de
eficiência energética — uma tendência que provavelmente continuará. No mesmo
período, as pessoas em muitos países passaram cada vez mais tempo em ambientes
fechados — em casa, no trânsito ou no trabalho. Estimou-se recentemente que as
crianças no Reino Unido gastam apenas pouco mais de uma hora ao ar livre por
dia. Como resultado, a maior parte da nossa exposição à poluição acontece em
ambientes internos, mesmo que os poluentes se formem em ambientes externos.
No entanto, embora a ventilação dilua as emissões de fontes internas, também permite a entrada de mais ozônio em ambientes fechados, o que pode iniciar reações químicas. É claramente um quadro complexo.
A exposição à poluição do ar é complexa e dinâmica
As alterações das fontes de
poluição do ar podem reduzir a concentração de alguns poluentes, mas podem
aumentar a de outros, como o ozônio. Estamos expostos à poluição do ar em
ambientes internos e externos e às misturas de diferentes poluentes
atmosféricos em cada um. Em casas idênticas numa mesma rua, é provável que a
exposição seja diferente devido ao comportamento de cada uma delas.
Os principais efeitos sobre a
saúde associados aos poluentes atmosféricos são decorrentes da exposição de
longo prazo, como doenças cardiovasculares e respiratórias, câncer de pulmão,
ou decorrem da exposição de curto prazo, como danos aos pulmões ou agravamento
da asma. Embora entendamos razoavelmente bem os efeitos de alguns poluentes do
ar, como o dióxido de nitrogênio e materiais particulados, para muitos
poluentes transportados pelo ar há pouca ou nenhuma informação sobre como eles
afetam nossa saúde.
Essa ausência de informações é particularmente aguda para ambientes internos, onde há menos pesquisas sobre a qualidade do ar. Por exemplo, partículas de ar interno são formadas ou emitidas durante o cozimento, e seria útil saber se a toxicidade dessas partículas é maior ou menor do que as fontes comuns, como veículos motorizados.
Tudo isso significa que a melhoria da qualidade do ar externo não reduzirá necessariamente nossa exposição geral à poluição. Um próximo passo importante é obter uma melhor compreensão de nossa exposição total à poluição do ar, especialmente em ambientes fechados, e seus efeitos em nossa saúde. (revistagalileu)
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