“Em termos simples, embora
não seja a solução completa, a estabilização ou declínio das populações
nacionais em todo o planeta tornarão muito mais fácil para os países reduzirem
a queima de combustíveis fósseis e as emissões de gases de efeito estufa, bem
como abordar de forma mais eficaz a degradação ambiental, a perda de
biodiversidade, a poluição e o esgotamento dos recursos naturais” Joseph
Chamie.
Depois de milhares de anos de
crescimento, a população chinesa vai apresentar decrescimento no século XXI. O
número de habitantes na China era de 582,6 milhões de habitantes no censo de
1953, pulou para 1,34 bilhão em 2010 e chegou a 1,41 bilhão de habitantes em
2020, segundo os dados do 7º recenseamento geral realizado ano passado. A China
ainda tem apresentado crescimento demográfico, mas com taxas cada vez menores.
Em breve o número de habitantes vai começar a diminuir. A população em idade
ativa (PIA) já está diminuindo desde 2015.
Nesta situação, muitos
analistas dizem que a China vive uma “crise demográfica” e que a diminuição do
número de trabalhadores vai prejudicar a economia e que o envelhecimento
populacional vai inviabilizar o crescimento da renda per capita. Reforça isto
que o governo chinês deixou para trás de vez a política de filho único. Desde
2015 já era possível os casais terem 2 filhos e agora é possível ter o 3º
filho.
Contudo, não é esperado uma
recuperação expressiva da taxa de fecundidade. Mesmo que a fecundidade suba, o
mais provável é que o número médio de filhos permaneça abaixo do nível de
reposição. Como a China não apoia uma imigração em massa, a tendência de
decrescimento populacional deve ser o “novo normal” ao longo do atual século.
Todavia, a China está se preparando para lidar com a nova dinâmica demográfica do país. O gráfico abaixo, com base nos dados do FMI, mostra que a China mantém elevadíssimas taxas de poupança e investimento, bem superiores às do Brasil. Mesmo quando a renda per capita (em termos constantes em paridade de poder de compra – ppp) da China era bem menor que a brasileira, as taxas de poupança já eram maiores. Atualmente são mais do dobro.
Com o enriquecimento da China as taxas de poupança e investimento aumentaram ainda mais, ficando acima de 40% do PIB. Outra característica é que a China é exportadora de poupança (capitais) e o Brasil é importador. Isto significa que a China aproveitou o 1º bônus demográfico e está aproveitando, também, o 2º bônus demográfico, enquanto o Brasil parece preso na armadilha da renda média. Agora que a população ativa (15-64 anos) da China já está diminuindo, o gigante asiático se prepara para aproveitar o terceiro bônus demográfico.
O artigo “Population Aging
and the Three Demographic Dividends in Asia”, de Ogawa e colegas (2021), mostra
que é possível aproveitar o 3º bônus demográfico em função do aproveitamento do
potencial de inserção da população idosa no mercado de trabalho, que tem o
efeito de contrabalançar a diminuição da PIA. Assim, o processo de
envelhecimento não implica necessariamente em cair na armadilha da renda média
como no Brasil atual. Com altas taxas de investimento a China cria empregos e
avança com a tecnologia permitindo que o conjunto da força de trabalho fique
mais produtiva, especialmente a população idosa.
O artigo de Bert Hofman (East
Asia Forum, 6/06/2021) mostra que os novos números da população da China não
condenarão seu crescimento econômico. Embora a demografia apresente diversos
desafios, é improvável que o ímpeto econômico da China nas próximas duas
décadas seja desviado do curso e suas redefinições de políticas são projetadas
para enfrentar o obstáculo ao crescimento no longo prazo. Por exemplo, a China,
com uma estrutura etária mais envelhecida do que a brasileira, mantém taxas de
crescimento econômicos muito superiores.
A questão demográfica não é o
tema mais controverso na China atual e espera-se que os erros da “política de
filho único” não se repitam. O presidente Xi Jinping – que já está com uma nova
“reeleição” garantida em 2022 – tem promovido uma onda de regulação, afetando
as maiores empresas de tecnologia da China, como Alibaba e Tencent, o setor
educacional, cultural, etc. O perigo é o governo adotar medidas autoritárias
que inviabilizem o espírito inovador do povo chinês.
As medidas regulatórias da
China ocorrem quando o país muda de foco, passando do crescimento econômico
desregrado para o objetivo da “prosperidade comum”, isto é, com o foco na
redução da desigualdade social.
Assim, ao invés de pensar em
manter o crescimento populacional a China está se preparando para crescer
economicamente com menor desigualdade, na perspectiva de uma população menor e
com uma estrutura etária mais envelhecida ao longo do século XXI.
Maior prosperidade contribui
para manter as taxas de fecundidade em níveis baixos. Além de tudo, menor
proporção de jovens e adultos contribui para a descarbonização da produção e do
consumo. A prática de fazer uma jornada de trabalho 996, ou seja, das 9 horas
da manhã às 9 horas da noite, seis dias por semana, deve ceder espaço para uma
jornada menos estressante e com mais qualidade de vida.
Desta forma, o caminho para o enriquecimento do país parece ser avançar com a tecnologia, a educação e a produtividade, para aproveitar o segundo e o terceiro bônus demográfico e aumentar o bem-estar (“prosperidade comum”).
A perspectiva para as próximas décadas é de um panorama de decrescimento populacional, menor crescimento econômico, descarbonização da economia e uma desejada redução da poluição e da degradação ambiental. (ecodebate)
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