quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Envelhecimento populacional e 3º bônus demográfico chinês

Envelhecimento populacional e terceiro bônus demográfico na China.
População da China: bônus demográfico e envelhecimento.

“Em termos simples, embora não seja a solução completa, a estabilização ou declínio das populações nacionais em todo o planeta tornarão muito mais fácil para os países reduzirem a queima de combustíveis fósseis e as emissões de gases de efeito estufa, bem como abordar de forma mais eficaz a degradação ambiental, a perda de biodiversidade, a poluição e o esgotamento dos recursos naturais” Joseph Chamie.

Depois de milhares de anos de crescimento, a população chinesa vai apresentar decrescimento no século XXI. O número de habitantes na China era de 582,6 milhões de habitantes no censo de 1953, pulou para 1,34 bilhão em 2010 e chegou a 1,41 bilhão de habitantes em 2020, segundo os dados do 7º recenseamento geral realizado ano passado. A China ainda tem apresentado crescimento demográfico, mas com taxas cada vez menores. Em breve o número de habitantes vai começar a diminuir. A população em idade ativa (PIA) já está diminuindo desde 2015.

Nesta situação, muitos analistas dizem que a China vive uma “crise demográfica” e que a diminuição do número de trabalhadores vai prejudicar a economia e que o envelhecimento populacional vai inviabilizar o crescimento da renda per capita. Reforça isto que o governo chinês deixou para trás de vez a política de filho único. Desde 2015 já era possível os casais terem 2 filhos e agora é possível ter o 3º filho.

Contudo, não é esperado uma recuperação expressiva da taxa de fecundidade. Mesmo que a fecundidade suba, o mais provável é que o número médio de filhos permaneça abaixo do nível de reposição. Como a China não apoia uma imigração em massa, a tendência de decrescimento populacional deve ser o “novo normal” ao longo do atual século.

Todavia, a China está se preparando para lidar com a nova dinâmica demográfica do país. O gráfico abaixo, com base nos dados do FMI, mostra que a China mantém elevadíssimas taxas de poupança e investimento, bem superiores às do Brasil. Mesmo quando a renda per capita (em termos constantes em paridade de poder de compra – ppp) da China era bem menor que a brasileira, as taxas de poupança já eram maiores. Atualmente são mais do dobro.

Com o enriquecimento da China as taxas de poupança e investimento aumentaram ainda mais, ficando acima de 40% do PIB. Outra característica é que a China é exportadora de poupança (capitais) e o Brasil é importador. Isto significa que a China aproveitou o 1º bônus demográfico e está aproveitando, também, o 2º bônus demográfico, enquanto o Brasil parece preso na armadilha da renda média. Agora que a população ativa (15-64 anos) da China já está diminuindo, o gigante asiático se prepara para aproveitar o terceiro bônus demográfico.

O artigo “Population Aging and the Three Demographic Dividends in Asia”, de Ogawa e colegas (2021), mostra que é possível aproveitar o 3º bônus demográfico em função do aproveitamento do potencial de inserção da população idosa no mercado de trabalho, que tem o efeito de contrabalançar a diminuição da PIA. Assim, o processo de envelhecimento não implica necessariamente em cair na armadilha da renda média como no Brasil atual. Com altas taxas de investimento a China cria empregos e avança com a tecnologia permitindo que o conjunto da força de trabalho fique mais produtiva, especialmente a população idosa.

O artigo de Bert Hofman (East Asia Forum, 6/06/2021) mostra que os novos números da população da China não condenarão seu crescimento econômico. Embora a demografia apresente diversos desafios, é improvável que o ímpeto econômico da China nas próximas duas décadas seja desviado do curso e suas redefinições de políticas são projetadas para enfrentar o obstáculo ao crescimento no longo prazo. Por exemplo, a China, com uma estrutura etária mais envelhecida do que a brasileira, mantém taxas de crescimento econômicos muito superiores.

A questão demográfica não é o tema mais controverso na China atual e espera-se que os erros da “política de filho único” não se repitam. O presidente Xi Jinping – que já está com uma nova “reeleição” garantida em 2022 – tem promovido uma onda de regulação, afetando as maiores empresas de tecnologia da China, como Alibaba e Tencent, o setor educacional, cultural, etc. O perigo é o governo adotar medidas autoritárias que inviabilizem o espírito inovador do povo chinês.

As medidas regulatórias da China ocorrem quando o país muda de foco, passando do crescimento econômico desregrado para o objetivo da “prosperidade comum”, isto é, com o foco na redução da desigualdade social.

Assim, ao invés de pensar em manter o crescimento populacional a China está se preparando para crescer economicamente com menor desigualdade, na perspectiva de uma população menor e com uma estrutura etária mais envelhecida ao longo do século XXI.

Maior prosperidade contribui para manter as taxas de fecundidade em níveis baixos. Além de tudo, menor proporção de jovens e adultos contribui para a descarbonização da produção e do consumo. A prática de fazer uma jornada de trabalho 996, ou seja, das 9 horas da manhã às 9 horas da noite, seis dias por semana, deve ceder espaço para uma jornada menos estressante e com mais qualidade de vida.

Desta forma, o caminho para o enriquecimento do país parece ser avançar com a tecnologia, a educação e a produtividade, para aproveitar o segundo e o terceiro bônus demográfico e aumentar o bem-estar (“prosperidade comum”).

A perspectiva para as próximas décadas é de um panorama de decrescimento populacional, menor crescimento econômico, descarbonização da economia e uma desejada redução da poluição e da degradação ambiental. (ecodebate)

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