As mudanças
climáticas provocadas pela ação humana são a causa mais provável para explicar
a recente onda de calor registrada no Brasil e em outros países da América
Latina, entre agosto e setembro deste ano.
Segundo estudo rápido
da World Weather Attribution (WWA), embora o El Niño possa ter tido alguma
influência sobre as altas temperaturas, é pelo menos 100 vezes mais provável
que a mudança climática tenha sido a principal causa do calor.
Em agosto e setembro,
grandes regiões da América do Sul foram afetadas por um calor excepcionalmente
extremo. No Brasil, o final do inverno e o início da primavera foram marcados
por ondas de calor em grande parte do país, com temperaturas ultrapassando os
40°C em alguns municípios do centro-Norte. Segundo o Instituto Nacional de
Meteorologia, as cidades de Cuiabá (MT) e São Paulo (SP) tiveram o inverno mais
quente dos últimos 63 anos.
O estudo foi conduzido
por 12 pesquisadores como parte do grupo World Weather Attribution, incluindo
cientistas de universidades e agências meteorológicas do Brasil, Holanda, Reino
Unido e Estados Unidos, e analisou os dez dias consecutivos mais quentes de
agosto e setembro em uma região abrangendo Paraguai, Brasil e regiões da
Bolívia e da Argentina, onde o calor foi mais extremo.
Para quantificar o efeito da mudança climática sobre as altas temperaturas sustentadas, os cientistas analisaram dados meteorológicos e simulações de modelos para comparar o clima atual, após cerca de 1,2°C de aquecimento global desde o final do século XIX, com o clima do passado, seguindo métodos revisados por pares. A análise também considerou o efeito do El Niño, um fenômeno natural que tem como consequência a elevação das temperaturas na América do Sul e em outras partes do mundo, e que está afetando a região este ano.
Os cientistas concluíram que esses episódios de calor extremo na América do Sul fora dos meses de verão teriam sido extremamente improváveis sem as mudanças climáticas causadas pelo homem, e constataram que a mudança climática tornou o calor 100 vezes mais provável. No clima atual, as temperaturas quentes muito incomuns no início da primavera podem ser esperadas aproximadamente uma vez a cada 30 anos na região. A mudança climática também tornou o episódio de calor entre 1,4 e 4,3°C mais quente do que teria sido se os seres humanos não tivessem aquecido o clima.
Lincoln Muniz Alves,
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), é um dos autores do
estudo, e reforça que, embora muitas pessoas tenham apontado o El Niño para
explicar a onda de calor, essa análise demonstra que a mudança climática é a
principal causa. “Queremos deixar claro que um El Niño em desenvolvimento teria
contribuído com um pouco de calor, mas sem a mudança climática, uma onda tão
intensa na primavera teria sido extremamente improvável”.
Episódios de calor
como esse se tornarão ainda mais frequentes e extremos se as emissões de gases
de efeito estufa não forem rapidamente reduzidas a zero, alertam os cientistas.
Se o aquecimento global atingir 2°C, ondas de calor semelhantes se tornarão
ainda mais prováveis, ocorrendo uma vez a cada 5 ou 6 anos, e um adicional de
1,1-1,6°C mais quente em comparação com o clima atual.
“Temperaturas acima de 40°C na primavera estão se tornando comuns em muitas partes do mundo. Essa é a realidade do nosso clima, que está se aquecendo rapidamente”, complementa Izidine Pinto, pesquisadora no Royal Netherlands Meteorological Institute. “A menos que tomemos medidas ambiciosas para reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa, essas ondas de calor só se tornarão mais intensas, afetando pessoas vulneráveis e perturbando os ecossistemas que são vitais para a regulação do nosso clima”.
A World Weather Attribution (WWA) é uma colaboração internacional que analisa e divulga a possível influência das mudanças climáticas em eventos climáticos extremos, como tempestades, chuvas extremas, ondas de calor, períodos de frio e secas. Já concluiu mais de 50 estudos sobre uma série de eventos climáticos extremos em todo o mundo usando métodos revisados por pares. (ecodebate)
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