O ano de 2023 foi o mais
quente do Holoceno (últimos 12 mil anos) e a anomalia anual deve registrar algo
em torno de 1,5ºC em relação ao período pré-industrial.
Os últimos 10 anos (2014 a
2023) formaram o decênio mais quente desde que começaram os registros. O ano de
2023 foi marcado pelo início do El Niño, fenômeno que deve se prolongar durante
o primeiro semestre de 2024, com temperatura nas alturas.
Os últimos 7 meses bateram
todos os recordes históricos e dezembro de 2023 foi o mês mais quente para esta
época do ano, assim como se estima que janeiro deve também bater novos
recordes. Os registros indicam que a virada de ano de 2023 para 2024 marcou o
réveillon mais quente desde os tempos imemoráveis.
O gráfico abaixo mostra a anomalia da temperatura global, dia a dia, entre 2014 e 2023. Nota-se que os valores da virada de ano de 2023 para 2024 foram os mais elevados dos 10 anos, sendo que o último decênio foi o mais quente do Holoceno. O réveillon 2023/2024 apresentou temperaturas bem mais elevadas do que o recorde anterior, que pertencia ao réveillon de 2015/2016.
O gráfico abaixo mostra a temperatura diária dos oceanos entre 1981 e 2023. Percebe-se que a temperatura média do período do final de ano foi de 20,1ºC. Sendo que o recorde anterior da temperatura global foi de 20,7ºC, em 31/12/2015 e 01/01/2016. No último réveillon, no dia 31/12/2023, a temperatura dos oceanos atingiu o máximo de 20,9ºC, um recorde que remonta ao período interglacial Eemiano que ocorreu entre 130 mil anos e 115 mil anos atrás.
O gráfico abaixo mostra a variação mensal da temperatura nos últimos 10 anos – entre 2014 e 2023 – registrando as maiores temperaturas da série histórica iniciada em 1850, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (em inglês: National Oceanic and Atmospheric Administration – NOAA). O ano de 1998 foi o mais quente do século passado e apresentou temperatura 0,63ºC acima da média do século XX. O ano de 2010 registrou 0,73ºC, mas em 2011 a temperatura ficou em 0,58ºC acima da média do século passado, portanto, abaixo daquela registrada em 1998.
Contudo, o quadro mudou de
figura e, a partir de 2014, todos os anos apresentam variações de temperatura
acima do registrado em 1998 e 2010. Em 2014 a temperatura foi 0,76ºC acima da
média do século XX. Em 2016 e 2020 ficou 1ºC acima da média do século XX. Em
2021 e 2022 ficou pouco abaixo de 1ºC em relação à média do século XX.
Mas em 2023, a anomalia deve ficar em torno de 1,2ºC em relação à média do século XXI. Considerando o período pré-industrial a anomalia deve ficar em torno de 1,5ºC (os dados oficiais serão divulgados em meados de janeiro). De janeiro a maio/2023 a temperatura não apresentou nenhum destaque especial. Mas a partir de junho/2023 houve sucessivos recordes da anomalia, com larga margem de diferença em relação aos anos anteriores.
O gráfico abaixo, da NASA, mostra as temperaturas médias mensais de 1880 a 2023, evidenciando que o segundo semestre de 2023 apresentou temperaturas bem superiores aos anos anteriores para a mesma época do ano.
O gráfico abaixo, também da NOAA/NASA, mostra as anomalias de janeiro a novembro de cada ano, entre 1850 e 2023. Observa-se que no ritmo de aquecimento de 1850-1979 (0,02ºC por década) o mundo gastaria 1.000 anos para esquentar 2ºC. No ritmo de 1980-2010 (0,16ºC por década) gastaria 125 anos e no ritmo de aquecimento de 2011-2023 (0,32ºC por década) o mundo gastaria 62,5 anos para aquecer em 2ºC. Como já esquentamos cerca de 1,4ºC, em relação ao período pré-industrial, devemos chegar aos 2ºC em relação ao período pré-industrial em menos de 20 anos (por volta de 2040).
As temperaturas recordes deste ano impulsionaram o debate sobre a aceleração do aquecimento global. Ou seja, todos concordam que existe o aquecimento global, mas alguns pesquisadores estão preocupados com a aceleração do ritmo do aquecimento. Embora nem todos concordam.
Num artigo publicado o cientista climático James Hansen e um grupo de colegas argumentaram
que o ritmo do aquecimento global deverá aumentar 50% nas próximas décadas, com
uma escalada concomitante de impactos. Segundo Hansen, uma quantidade crescente
de energia térmica presa no sistema planetário – conhecida como o
“desequilíbrio energético” do planeta – acelerará o aquecimento, pois se há mais energia
entrando do que saindo, o planeta fica mais quente e se dobrar esse
desequilíbrio, ficará mais quente mais rápido.
O cientista climático do
Instituto Berkeley Earth, Zeke Hausfather, também acredita que há evidências
crescentes de que o aquecimento global se acelerou nos últimos 15 anos. Mas o
cientista climático da Universidade da Pensilvânia, Michael Mann, argumenta que
ainda não há aceleração visível. Ele concorda que há um aumento do aquecimento
global, mas dentro do esperado e não vê uma tendência à aceleração.
Evidentemente, existem
dúvidas quanto à evolução futura da crise climática. Um ponto que reforça a
hipótese da aceleração são os efeitos de retroalimentação, uma vez que o
aquecimento aumenta o degelo dos polos e da Groenlândia aumentando o efeito
albedo.
O albedo representa a relação
entre a quantidade de luz refletida pela superfície terrestre e a quantidade de
luz recebida do Sol, afetando diretamente a temperatura de equilíbrio da Terra.
O degelo do permafrost também libera grande quantidade de CO2 e de
metano. O desmatamento das florestas tropicais e as queimadas das florestas
boreais também são fontes de emissão de gases de efeito estufa.
A aceleração do aquecimento global tem como consequências: eventos climáticos extremos, ondas letais de calor, tempestades e furacões mais intensos, inundações, secas prolongadas, perdas na produção agropecuária, maior insegurança alimentar, aumento da desertificação e do estresse hídrico, aceleração do degelo dos polos e glaciares, acidificação dos oceanos, perda de vida marinha, elevação do nível do mar e deslocamento de populações e de refugiados do clima.
Mundo vive colapso climático e 2023 será o ano mais quente da história.
Toda a população mundial será
afetada e bilhões de pessoas vão ter o padrão de vida reduzido pelos efeitos da
emergência climática. Quanto maior for o ritmo do aquecimento global maior será
o sofrimento humano e o sofrimento das demais espécies vivas da Terra.
(ecodebate)
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