sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Mudanças Climáticas já matam milhares na Europa

Mudanças Climáticas já matam milhares na Europa: Pesquisadores desenvolvem estratégias de proteção.
Onda de calor na Europa, em 09/08/2025.

Cluster Clima-Saúde desenvolve alertas personalizados e protocolos de emergência para grupos vulneráveis enfrentarem temperaturas extremas

Pesquisadores estão desenvolvendo estratégias para proteger as pessoas do aumento das temperaturas, com foco em grupos vulneráveis e em uma comunicação mais clara sobre clima e saúde

Europa se prepara para proteger a saúde num mundo em aquecimento

O impacto ambiental das mudanças climáticas — mudanças nos padrões climáticos ou desaparecimento da biodiversidade — é amplamente reconhecido. Mas será que realmente compreendemos o impacto que o aumento das temperaturas está causando na saúde humana?

Membros do Cluster Clima-Saúde, uma rede de pesquisadores europeus, não acreditam. Sua missão é mensurar esses riscos à saúde e desenvolver estratégias para proteger as pessoas à medida que o planeta se aquece.

Para isso, eles estão criando protocolos para proteger pessoas vulneráveis durante ondas de calor extremo e oferecendo recomendações para tornar os sistemas de saúde mais responsivos às ameaças crescentes representadas pelas mudanças climáticas.

Por que focar na saúde?

Uma parte importante do trabalho deles consiste em encontrar maneiras eficazes de comunicar esses riscos. Segundo a Professora Cathryn Tonne, epidemiologista ambiental do Instituto de Saúde Global de Barcelona, muitas pessoas permanecem indiferentes à crise climática global.

“Conceitos como zero líquido, elevação do nível do mar ou derretimento das calotas polares podem parecer distantes e abstratos. Para tornar essas questões mais identificáveis e urgentes, precisamos destacar sua importância para a saúde”, disse Tonne, que coordena o CATALYSE, uma iniciativa de pesquisa de cinco anos que vai até setembro/2027.

“As mudanças climáticas têm implicações sérias para a saúde, mas não temos sido muito eficazes em explicá-las ao público, nem em explicar os benefícios para a saúde da ação climática”.

Onda de calor na Europa matou 2,3 mil em 10 dias.

Mensagens claras e consistentes

CATALYSE, um dos 6 projetos de pesquisa sobre clima e saúde, reúne uma equipe de pesquisadores de 10 países da UE, além da Suíça e do Reino Unido. Uma das áreas que eles estudam é como os impactos das mudanças climáticas são comunicados ao público.

Tonne destacou que as mensagens climáticas mudaram ao longo do tempo, criando confusão.

“O aquecimento a lenha já foi promovido como uma opção favorável ao clima, mas evidências posteriores revelaram seu impacto negativo na qualidade do ar”, disse ela. Da mesma forma, a troca de veículos a gasolina por veículos a diesel foi inicialmente vista como algo positivo para o clima, até que surgiram os dados sobre a poluição do ar.

As mudanças climáticas como um problema de saúde

Tonne acredita que reformular a mudança climática como uma questão de saúde é fundamental para mobilizar pessoas e formuladores de políticas.

“Acreditamos que isso levaria, em última análise, a um maior engajamento político, idealmente com os países da UE acelerando a implementação das políticas climáticas da UE”.

A ideia subjacente é simples. Quanto mais as pessoas perceberem que as mudanças climáticas colocam vidas em risco, mais dispostas estarão a tomar medidas, o que, em última análise, beneficiará tanto o meio ambiente quanto a saúde. Mas nem sempre é simples.

Por exemplo, a equipe do CATALYSE está analisando os benefícios ambientais das bicicletas e sente que o aspecto da saúde não é suficientemente destacado.

“Temos uma meta de zero emissões líquidas juridicamente vinculativas, mas precisamos questionar quais estratégias provavelmente trarão os maiores benefícios à saúde”, disse Tonne. “Será por meio da geração de energia limpa, de veículos elétricos movidos a eletricidade renovável ou — como acreditamos — tirando as pessoas dos carros e migrando para as bicicletas”?
Incêndios forçam evacuações, escolas foram fechadas e inúmeras pessoas já morreram em meio à onda de calor extremo no continente.

Estresse por calor e programas de alerta

O estresse térmico é outra preocupação crescente, especialmente nos países mediterrâneos. A Europa registrou mais de 61.000 mortes no verão de 2022 e mais de 47.000 em 2023, de acordo com estimativas oficiais e estudos revisados por pares.

Globalmente, a Organização Mundial da Saúde estima que as mudanças climáticas causarão pelo menos 250.000 mortes adicionais por ano entre 2030 e 2050.

Para lidar com isso, os pesquisadores estão coletando dados e trabalhando com agências meteorológicas para desenvolver sistemas de alerta precoce. O objetivo é enviar alertas personalizados a grupos vulneráveis, como mulheres idosas, aconselhando-as a permanecer em ambientes fechados ou a tomar precauções extras nos dias de maior risco.

Trabalhadores ao ar livre em risco

Outro grupo preocupante são os trabalhadores que trabalham ao ar livre. Na Europa, entre 800.000 e 1 milhão de trabalhadores sazonais são contratados a cada ano, principalmente na agricultura, o que os expõe a um risco crescente de doenças relacionadas ao calor. Na maioria dos casos, são trabalhadores migrantes.

Nos últimos três anos, pesquisadores do CATALYSE colaboraram com ONGs da Espanha, Itália e Áustria para coletar dados durante os meses de pico do verão. O objetivo era compreender melhor a extensão do risco de exposição ao calor extremo entre trabalhadores ao ar livre e desenvolver recomendações para protegê-los.

“As condições de trabalho e de vida desses trabalhadores são muitas vezes terríveis, e o calor extremo está piorando ainda mais a situação”, disse Tonne.
Devido a ondas de calor, crianças usam chafariz para se refrescar.

A vida no “pomar da Europa”

Daniel Izuzquiza, diretor do SJM-Jesuit Migrant Service, uma ONG que colabora com a CATALYSE, compartilhou insights da região de Almeria, na Espanha, apelidada de “pomar da Europa”.

“É uma região muito quente no verão e as pessoas trabalham em condições estressantes, agravadas pela precariedade das moradias”, disse ele. “Muitos vivem em barracos ou casas degradadas com pouca ventilação, o que significa que suportam temperaturas perigosamente altas dia e noite”.

Poucas medidas estruturais abordam essa realidade, e as que existem, como a caiação de estufas, parecem estar mais voltadas para o bem-estar das plantações do que das pessoas, de acordo com Izuzquiza.

Talvez a descoberta mais alarmante seja o quão normalizadas essas condições se tornaram. “As pessoas precisam de acesso a água potável e melhores moradias. Precisamos conscientizar empregadores, trabalhadores e consumidores sobre como os trabalhadores migrantes vivem e como as condições precisam melhorar”.

Tornando visíveis as ligações entre clima e saúde

Para Tonne e seus colegas, o desafio não é apenas científico, mas comunicativo: tornar a ligação entre clima e saúde visível, urgente e acionável.

Isso significa elaborar mensagens claras e consistentes e reformular a ação climática como um investimento no bem-estar, não apenas uma necessidade ambiental.

“Quanto mais as pessoas entenderem que as mudanças climáticas colocam vidas em risco, maior será a probabilidade de elas apoiarem políticas que protejam o planeta e a saúde pública”, disse Tonne.

Verão no Hemisfério Norte evidencia as mudanças climáticas catastróficas, onde os países mais pobres da região são os que mais sofrem sem ter estrutura para proteger a sua população que enfrenta eventos cada vez mais extremos.

Ao reconhecer essas conexões, a Europa pode garantir que, ao mesmo tempo em que trabalhamos para proteger o meio ambiente, também salvaguardamos a saúde e o bem-estar de todos. (ecodebate)

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