Em 2023, evento histórico
registrou temperaturas acima de 40ºC, com sensação térmica que ultrapassou os
50ºC. Mudanças climáticas são a principal causa, agravadas pela queima de
combustíveis fósseis e pelo desmatamento.
Uma pesquisa divulgada na
União Europeia de Geociências (EGU) examinou o impacto das mudanças climáticas
na onda de calor que afetou o Rio de Janeiro em novembro de 2023, quando os
termômetros passaram de 40°C e a sensação térmica chegou perto de 50°C.
Pesquisadores da Universidade
Complutense de Madrid, na Espanha, concluíram que as temperaturas observadas
seriam inviáveis no período pré-industrial e alertam que, em um cenário de
aquecimento global de 2°C, a chance de ondas de calor semelhantes ou ainda mais
intensas triplicaria, resultando em uma nova onda de calor extrema a cada
quatro anos.
O estudo indicou que as
temperaturas registradas entre setembro/2023 e março/2024 estavam
significativamente elevadas em relação à média histórica. Foi a época mais
quente em 63 anos, com picos em novembro chegando a 9°C acima da média e
temperaturas alcançando 43°C em vários bairros. Embora o calor intenso tenha
ocorrido durante o fenômeno El Niño, que modifica os padrões de circulação
atmosférica e pode afetar as temperaturas, os modelos climáticos apontam que o
principal motivo para a gravidade desse evento foi o aquecimento global gerado
pelas ações humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis.
“Embora o El Niño também influencie o calor extremo, seu papel é mais regional e secundário em comparação às mudanças climáticas”, afirma Soledad Collazo, autora principal do estudo. “Em conjunto, esses fatores apontam para um futuro em que o calor extremo será um desafio recorrente, exigindo medidas de adaptação mais robustas para proteger a saúde, a infraestrutura e os ecossistemas”.
Os pesquisadores examinaram dados de 1971 a 2024 das estações meteorológicas de Alto da Boa Vista, Itaperuna, Campos, Cordeiro e Resende, definidas por sua localização estratégica e pela consistência dos registros ao longo do tempo.
Para entender como as
mudanças climáticas e o fenômeno meteorológico poderiam afetar o aumento das
temperaturas, eles compararam esses dados com o Índice de Aquecimento Global
(GWI) e o El Niño 3.4. A partir do cruzamento dessas informações com registros
de óbitos no estado do Rio de Janeiro, no período de 2000 a 2024, excluindo os
anos da pandemia, foi feita uma avaliação dos impactos das altas temperaturas
na saúde.
O aumento contínuo da
temperatura no Brasil nas últimas décadas tem agravado os riscos à saúde,
especialmente para idosos, indivíduos com doenças crônicas e grupos mais
vulneráveis. O calor extremo intensifica o estresse gerado e aumenta a
mortalidade por condições cardíacas e respiratórias.
Um exemplo crítico ocorreu em
18/11/2023, quando a cidade do Rio de Janeiro registrou mais de 600 óbitos em
um único dia, número que representa um aumento de quase 50% em relação à média
diária anual. Idosos e mulheres foram os mais impactados. Estima-se que 22,6%
das mortes, aproximadamente 143 pessoas, foram diretamente relacionadas à
exposição ao calor, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de
Janeiro.
A pesquisa alerta que o Rio
de Janeiro deve se preparar para os efeitos da maior incidência de eventos
extremos de calor, como a interrupção de serviços e falta de recursos, além do
crescimento dos riscos à saúde pública e à infraestrutura.
Segundo os autores, para lidar com os desafios crescentes e diminuir a vulnerabilidade da população e de setores críticos em relação às mudanças climáticas, será fundamental adotar medidas de mitigação e adaptação, como um planejamento urbano adequado, ações de saúde pública e fortalecimento da resiliência urbana. “A principal mensagem que o estudo deixa para formuladores de políticas e para o público é que as mudanças climáticas já não são uma ameaça distante: elas já estão intensificando o calor extremo no Brasil e custando vidas”, conclui Collazo.
Rio 40°C será cada vez muito mais frequente!!! (ecodebate)



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