A pecuária ilegal é a principal causa do desmatamento na Amazônia, devastando áreas que deveriam ser protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação. A criação de gado está ligada a diversas ilegalidades, como a grilagem de terras públicas, a falta de fiscalização e a comercialização de carne com origem clandestina.
Documentário destaca a relação da indústria pecuária com o desmatamento da Amazônia
Causas
do problema
Expansão
da pecuária: A busca por novas áreas de pastagem, impulsionada pelo mercado de
carne, leva à ocupação ilegal de terras públicas, derrubada da floresta e
expulsão de comunidades tradicionais. O Instituto do Homem e Meio Ambiente da
Amazônia (Imazon) estima que a pecuária ilegal possa causar o desmatamento de 3
milhões de hectares até 2025.
Grilagem
e conivência: Há um histórico de impunidade, onde grileiros e investidores se
beneficiam da apropriação ilegal de terras. Denúncias revelam a venda
clandestina de lotes recém-desmatados em redes sociais e a conivência de
empresas e bancos que financiam a cadeia produtiva.
Fiscalização ineficaz: Órgãos como o Ibama enfrentam dificuldades para fiscalizar efetivamente a vastidão da Amazônia. Falta de recursos, equipes reduzidas e a dificuldade de acesso a áreas remotas prejudicam a atuação, permitindo que os crimes ambientais fiquem impunes.
Pecuária é responsável por 80% do desmatamento na Amazônia
Consequências
ambientais e sociais
Impacto
ambiental: A destruição da floresta para a criação de gado resulta na perda de
biodiversidade, na emissão de gases de efeito estufa que contribuem para o
aquecimento global e na alteração do ciclo hidrológico da região.
Violência
e ameaças: As populações tradicionais e pequenos agricultores que denunciam as
invasões sofrem com ameaças e violência. Em 2025, um relatório da Human Rights
Watch (HRW) destacou a devastação causada pela pecuária ilegal em territórios
de agricultores e indígenas no Pará.
Ameaça à subsistência: A pecuária ilegal em terras indígenas compromete a caça, a pesca e a coleta, atividades essenciais para a sobrevivência e a cultura local. O medo de circular fora das aldeias também dificulta a transmissão de saberes tradicionais.
Possíveis soluções
Rastreabilidade:
A criação de um sistema de rastreabilidade do gado que impeça a comercialização
de animais criados em áreas desmatadas ilegalmente é uma medida urgente e
necessária para combater o problema.
Modelos
sustentáveis: Incentivos para modelos de pecuária que não demandem a derrubada
da floresta são alternativas viáveis. Iniciativas como a recuperação de
pastagens degradadas mostram que é possível aumentar a produtividade sem
devastar novas áreas.
Ações do governo: O fortalecimento da fiscalização, a regularização fundiária e a conexão entre políticas econômicas e metas climáticas são ações defendidas por organizações e pesquisadores para enfrentar a crise ambiental.
De uma perspectiva indígena e da população tradicional, um ponto de não retorno ecológico e social já está acontecendo
A
pecuária em fazendas ilegais devastou áreas da Amazônia, localizadas no estado
do Pará, que deveriam ser protegidas para garantir a subsistência de pequenos
agricultores e dos povos indígenas. É o que revela o relatório Gado Sujo,
lançado neste mês de outubro pela Human Rights Watch (HRW). A análise de
documentos oficiais mostrou ainda que as fazendas conseguiram comercializar o
gado ilegal, colocando-o na cadeia produtiva de carne no país.
O
documento detalha ainda como fazendeiros se apropriaram ilegalmente de terras,
segundo a legislação brasileira, e devastaram os meios de subsistência dos
agricultores do projeto Terra Nossa e da Terra Indígena Cachoeira Seca,
afetando seus direitos à moradia, à terra e à cultura. De acordo com a
entidade, o resultado é uma enorme pressão da pecuária ilegal sobre as
comunidades locais.
“Por meio da análise de diversos documentos oficiais, descobrimos que as fazendas ilegais no Terra Nossa e na TI Cachoeira Seca estão vendendo gado para fazendas intermediárias”, relatou Luciana Téllez Chávez, pesquisadora da HRW.
As intermediárias, por sua vez, vendem para grandes frigoríficos.
Quando
foi criado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em
2006, o PDS Terra Nossa tinha uma vasta floresta tropical, onde os pequenos
agricultores colhiam castanhas e frutas para vender nos mercados locais.
“Agora,
quase metade do projeto foi transformado em área de pastagem por grileiros. No
total, três quartos da área do assentamento são ocupados ilegalmente”.
Os
pequenos agricultores tentaram resistir, mas sofreram retaliações violentas por
parte dos grileiros denunciados pelas atividades ilegais. “Desde 2019, quatro
pessoas foram mortas, logo depois de se expressarem contra as invasões e uma
liderança comunitária sobreviveu a uma tentativa de assassinato”, contou
Luciana, afirmando que o governo federal está ciente das fazendas ilegais
dentro do território de Terra Nossa, mas ainda não as removeu.
O
Incra informou, em nota, que está realizando uma “supervisão ocupacional no
assentamento Terra Nossa”. Segundo o órgão, há mais de 50 ações na Justiça
Federal visando à retomada de áreas ocupadas irregularmente, sendo a maioria
com liminar a favor da autarquia.
As
comunidades tradicionais da Terra Indígena (TI) Cachoeira Seca caçam na
floresta, pescam nos rios e coletam produtos florestais para vender nos
mercados locais. No entanto, as atividades foram prejudicadas pelo aumento de
invasões e das fazendas de gado ilegais instaladas naquele território.
“Vários
residentes indígenas nos disseram que não vão muito longe de suas aldeias,
porque são superados em números pelos grileiros. Isso está dificultando sua
capacidade de transmitir seu conhecimento tradicional sobre a floresta às
gerações mais jovens e colocando em risco os seus meios de subsistência”, disse
a pesquisadora.
O governo federal, apontou Luciana, tem a obrigação legal de remover os ocupantes não indígenas da TI Cachoeira Seca. “Mas quase 10 anos desde sua homologação ainda não o fez. As histórias [dessas comunidades] mostram que, sem combater a impunidade por essas ilegalidades, é extremamente desafiador criar espaço para que uma bioeconomia prospere na Amazônia”, disse a pesquisadora.
Desmatamento
Os
dados reunidos no relatório apontam a necessidade e a urgência de zerar o
desmatamento na região amazônica, com estratégias equitativas e que considerem
o saber das pessoas que vivem ali milenarmente. A avaliação é da diretora
adjunta de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam),
Patrícia Pinho.
“Relatório
da Human Rights Watch traz a evidência de que o [PDS] Terra Nossa e a [TI]
Cachoeira Seca não são uma exceção. Infelizmente, é uma realidade que permeia
todo o tecido social e ecológico da floresta”, disse, sobre as violações de
direitos e ilegalidades presentes nos territórios amazônicos.
Ela
ressaltou que a ciência já tem mostrado que, na ausência de ações de mitigação
de impactos e de adaptação global, o que se esperava para acontecer na
Amazônia, a partir de 2040 e 2050, já está sendo materializado na região nos dias
atuais.
“De uma
perspectiva indígena e da população tradicional, um ponto de não retorno
ecológico e social já está acontecendo”, disse Patrícia.
Diretor
da HRW no Brasil, César Muñoz destacou a importância da COP30, que ocorrerá no
Pará, para discussão sobre os combustíveis fósseis e uma transição energética
justa que proteja os direitos humanos. “O aumento da temperatura e as mudanças
do clima estão afetando os direitos à vida, à saúde e à alimentação da
população na Amazônia, no Brasil e no mundo”, disse.
“Precisamos de ação. Na COP29, não houve acordo sobre a eliminação gradual de combustíveis fósseis e não houve progresso significativo em direção à limitação do aumento da temperatura em 1,5°C, que foi a meta estabelecida em Paris”, lembrou. Para ele, os planos climáticos nacionais apresentados na cúpula climática precisam ser concretos, com cronogramas para que atinjam suas metas.
Avanço da pecuária na Amazônia pode desmatar área igual à Irlanda até 2030
Recomendações
O
mecanismo de rastreabilidade para o gado é uma medida fundamental no país,
recomenda a organização. “Isso tornaria muito mais difícil para fazendas
ilegais, como as do Terras Rurais e da TI Cachoeira Seca, cometerem fraudes”,
avaliou Luciana, pesquisadora da organização internacional. Ela ressalta a
importância de que todos os estados adotem a medida, porque “a lavagem de gado
não é limitada por fronteiras estaduais e precisa de uma solução federal”.
O
Ministério da Agricultura anunciou, em 2024, que exigiria de todos os estados
brasileiros a implementação de sistemas de rastreabilidade, mas eles teriam até
2032 para isso. “Considerando os alertas de que estamos próximos de atingir o
ponto de não retorno, é preciso perguntar se a Amazônia brasileira pode esperar
até lá”, alertou a pesquisadora.
Outra
recomendação da entidade é que o governo federal tome medidas rápidas para
retomar as áreas ocupadas ilegalmente dentro do PDS Terra Nossa e da TI
Cachoeira Seca, entre com ações judiciais contra os responsáveis pelas
ocupações e uso ilegais das terras para que reparem o dano causado. Além disso,
que desenvolva projetos para restaurar as florestas e apoiar seus meios de
subsistência sustentáveis.
Além do Incra, a Agência Brasil solicitou posicionamento da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), do Ministério da Agricultura e Pecuária, do Ministério dos Povos Indígenas e do Ministério do Meio Ambiente, mas ainda aguarda retorno.
Agropecuária impulsiona mais de 90% do desmatamento no mundo
O
Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Ministério do Desenvolvimento
Agrário e Agricultura Familiar, informou que a demanda deveria ser direcionada
a outras pastas. (ecodebate)








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