terça-feira, 27 de julho de 2010

inSustentabilidade! Eis o ‘momentum’

A mídia traz a todo o momento informações sobre aquecimento global, emissão de gases nocivos, exaustão dos recursos naturais, vazamentos de óleo, desmatamentos, conflitos armados. Um cenário áspero. Preservar a vida com alguma dignidade é uma questão de interesse global e envolve o nosso futuro e o das próximas gerações. No entanto as questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável e habitabilidade da terra por serem mais recentes e menos conhecidas pouco ou quase nunca abordadas pela maioria das pessoas. E isto deveria ser diferente. Com o intuito de fomentar a discussão e articular os argumentos necessários à reflexão introduzo um tema que vejo ser um dos mais críticos e complexos quando tratamos de humanidade e dos ecossistemas garantidores de sua existência: o modelo de produção e a forma como consumimos. O esgotamento do atual modelo socioeconômico. O sistema vigente resulta num pesado ônus político e socioambiental. E tende a se agravar em médio e longo prazo comprometendo, sobretudo a qualidade de vida no futuro. A ameaça de exaustão dos recursos naturais por conta da elevada e crescente demanda por alimentos e bens de consumo aliada à deterioração das relações de troca entre trabalho e capital resultou num perverso enriquecimento de minorias relegando à maioria a condição de pobreza. Isto levou ao enorme distanciamento socioeconômico entre classes sociais entre as nações. E nesta cadencia o cenário inexoravelmente se agravará. No âmbito climático rios transbordam na Suíça, no Brasil, nos EUA, na Alemanha e na China com freqüências cada vez maiores. Estudos do IPCC apontam para uma diminuição da quantidade de “dias frios” e aumento dos “dias quentes”. No Ártico, na Cordilheira dos Andes e na Europa central as camadas de gelo e neve estão derretendo. No econômico, o cientista inglês Nicholas Stern relata em seu estudo que cuidar do clima do planeta custaria entre 1 ou 2% do PIB mundial, mas os países ricos, principais poluidores ainda hesitam em agir. O grupo dos “economicamente desenvolvidos” atravessa a pior crise financeira dos últimos 70 anos, com elevados índices de desemprego. Países vão à falência e ameaçam arrastar junto boa parte da zona do euro. Enquanto lemos este artigo centenas de pessoas morrem em decorrência de conflitos armados ou da pobreza extrema na África, Oriente Médio e Ásia. Vetores que tendem a evoluir sem exceção, sejam em países ricos ou pobres. Estudos recentes elaborados por instituições acreditadas apontam que considerando-se os atuais padrões de consumo da população mundial hoje exige 2.5 planetas Terra adicionais para que dê conta de sua demanda por alimento, lazer e conforto.Estamos falando de Pegada Ecológica,assim é conhecido o indicador que aponta o esforço do planeta para sustentar a atual civilização.Procure na web por Footprint ou então no site www.wwf.org.br/pegadaecologica. Para se ter uma boa noção do impacto sobre o planeta é interessante observar que levamos 300 mil anos para nos tornarmos 2.5 bilhões de pessoas em 1950. E desde então até os dias de hoje, aumentamos e somos mais de 6,7 bilhões de seres humanos, consumindo muito de tudo. Portanto em apenas 60 anos a população mundial mais que dobrou e a velocidade do consumo destes recursos também cresceu de forma vertical. Não é a toa que o planeta aqueceu. Vamos considerar que apenas uma parte significativa da população mundial, pertencente aos países conhecidos por “economias emergentes”, formada por chineses, indianos e brasileiros desejem, por exemplo, adquirir um automóvel, uma geladeira, um forno de microondas, viajar de avião, ou ainda comer carne ou pescado. Anseios, originais e meritórios, que representam alguns itens de consumo e conforto no mundo contemporâneo mediano. Discorrendo de modo singular sobre as conseqüências ambientais para atender esta demanda, veja o que poderia acontecer. • Haveria aumento da demanda por combustível fóssil. Maior extração e refino para produzir os combustíveis para viabilizar toda a logística envolvida. Impacto gerado: aumento das emissões de gases efeito estufa (gee) e por conseqüência do aquecimento global, contaminação do solo e dos recursos hídricos. Vazamentos de óleo durante a extração (BP/Golfo do México) ou armazenamento (Petrobras/Baia da Guanabara-2000) acontecem • Crescimento da extração de minério para fabricação do aço necessário para a manufatura dos bens. Impacto gerado: degradação do solo, açoreamento de rios e lagos, desmatamento, demandam adicional de energia e por conseqüência maior emissão de gases efeito estufa além de outros poluentes pesados na atmosfera, nos rios e oceanos. • Intensificação do uso de energia para operação dos equipamentos de produção de bens duráveis e de consumo. Impacto gerado: sobrecarga na temperatura global por conta da queima do combustível fóssil e pelo alagamento de novas áreas, hoje florestadas, para produção de mais energia hidrológica; aumento de resíduos tóxico e nucleares. • Aumento da demanda em toda a cadeia da matéria–prima, mão de obra e insumos secundários para a manufatura, logística de entrega e emprego de componentes agregados como papel, plástico, aço. Impacto gerado: superexploração dos recursos naturais e maior exposição dos biomas ao risco de exaustão e extinção • Aumento na demanda por alimentos. Impacto gerado: intensificação do desmatamento e da degradação da terra pela cadeia do agrobusiness, exaustão dos aqüíferos por conta de métodos inadequados de plantio e irrigação. Só para citarmos alguns. Contudo, para que a exposição não pareça parcial há que se considerar que não se trata apenas de uma cadeia de destruição e ônus que se impõe. Há também uma corrente paralela de construção e de benefícios e isto nos permite uma reflexão comparativa sobre a relação. Infelizmente esta relação é marcada por um profundo desequilíbrio, pois o regime socioeconômico vigente, excludente, não permite que a maior parte das populações possa usufruir de benefícios como alimentos, medicamentos, tecnologia e o que é pior, aqueles que podem, em sua maioria o fazem de forma perdulária. Em 2030 seremos 9 bilhões de habitantes. Seria este o momento da profunda e extensa reavaliação necessária dos princípios e valores vigentes, uma vez que civilização atual se encontra próxima do limite de esgotamento de seus recursos naturais? Grande parte das fronteiras à sobrevivência estão mapeadas. Já sabemos quais são e onde estão. Resta agora o mais complexo que é conceber quais serão os novos fundamentos socioambientais para uma inovadora hegemonia global e quais os paradigmas econômicos viáveis para esta nova era. Como conciliar os anseios de uma sociedade que aprendeu a cultuar e adorar a imagem do excesso de oferta á um cenário de limitação e escassez no futuro? Kant e o Iluminismo A última grande revolução de idéias que efetivamente transformou o mundo foi na primeira metade do século XVIII com o Iluminismo, quando houve uma convergência de tendências filosóficas, sociais, políticas,intelectuais e religiosas. Resultando num vasto conjunto de valores e de novos princípios estruturais e pragmáticos que nos nortearam até os dias de hoje. Nos tornamos a evolução daquele momento e agora nos damos conta de que precisamos de outra grande era de transformação. Como definiu o grande pensador Immanuel Kant: “O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento, mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! – esse é o lema do Iluminismo”. E é disso que precisamos. (EcoDebate)

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