Lixo de fast food
despejado em rua de São Paulo
Alimentos são todas as substâncias
ou misturas naturais ou processadas que ingeridas pelos organismos biológicos
garantem a estes organismos a energia, a água, os micro e os macronutrientes
necessários ao desenvolvimento dos processos indispensáveis à vida e
reprodução. Uma das formas atuais dos seres humanos ingerirem alimentos é
através da ingestão de pratos de preparo e consumo rápidos, ricos em sódio,
gorduras e carboidratos servidos em locais exclusivos para este tipo de
alimentação, seja em shoppings centers onde se concentram vários
restaurantes que utilizam uma única área de alimentação, ou em lugares específicos
distribuídos no espaço urbano de acordo com os diversos empreendimentos e/ou
franquias específicas. Os maiores consumidores de fast food são as classes média
e alta e este hábito de consumo aumenta com a melhoria do poder aquisitivo e da
capacidade de consumo da população, mas mesmo em crises econômicas ainda mantém
um mercado expressivo.
As atividades de recebimento de mercadorias, armazenamento,
preparo e comercialização dos alimentos geram resíduos sólidos orgânicos e
inorgânicos durante os processos necessários aos ciclos de consumo pelas
empresas e clientes que utilizam seus produtos. Estes resíduos possuem
características específicas que podem ser associadas ao consumo de alimentos
rápidos, sendo necessário considerarem-se estas especificidades nas atividades
de gerenciamento dos resíduos sólidos produzidos por estes empreendimentos, que
de acordo com a Lei 12.305/2010, artigo 20, inciso II, b, é responsabilidade
dos geradores, ou seja, das empresas que preparam e comercializam alimentos tipo
fast food.
Os resíduos inorgânicos das praças de alimentação são
compostos por embalagens de papelão, vidro, isopor ou poli estireno (PS), copos
e garrafas descartáveis de poli tereftalato etileno (PET) e outros plásticos
utilizados na conservação e embalagem dos alimentos como o polietileno (PE),
propileno (PP), poli cloreto de vinila (PVC), papéis como toalhas e
guardanapos. Dos plásticos, o PET representa a maior quantidade descartada. Os
resíduos orgânicos originam-se durante os processos de preparação dos alimentos
e nas sobras do consumo pelos clientes. Importante destacar que os
estabelecimentos de fast food também produzem alimentos embalados para consumo
longe das praças próprias, em viagens ou por consumidores que se deslocam nos
espaços urbanos. Estes também produzem resíduos que geralmente são descartados
em territórios amplos e nem sempre de modo adequado. O planejamento da gestão
dos resíduos deve considerar esta característica específica destes produtos.
Em um estudo de caso realizado na cidade de São Paulo/SP em
2007 em uma franquia da McDonald’s foram identificadas as quantidades
percentuais e a composição gravimétrica dos resíduos sólidos gerados nas
atividades durante o período de uma semana.
Material - Tipo
- Peso (cozinha) - Peso (salão) - Peso (total) - Peso (%)
Caixas em geral - Papelão - 42 kg - 42 kg - 19
%
Embalagens, bandejas - Papel misto - 8 kg - 50 kg - 58
kg - 26 %
Copos de refri, sucos - Papel - 2 kg - 9 kg - 11
kg - 5 %
Latas de molho - Papel
- 2 kg -_ - _ - 1 %
Copos e canudos - Plástico PP - _ - 2 kg - 2
kg - 1 %
Talheres e tampas - Plástico
PS - 1 kg - 4 kg - 5 kg - 3 %
Outros plásticos - Aparas, sacos de lixo - 3 kg - 8 kg - 11
Kg - 5%
Resíduos orgânicos - Restos de alimentos - 49 kg - 38 kg - 87 kg - 40
%
Total - Todos - 65
kg - 154 kg - 219 kg – 100%
Porcentagem dos materiais coletados para análise
gravimétrica, McDonald’s,
2007 – São Paulo/SP.
Observa-se que os resíduos inorgânicos são gerados
principalmente nas atividades de consumo dos alimentos na praça de alimentação,
enquanto que os orgânicos têm como principal fonte de geração a cozinha onde
são preparadas as refeições com uma expressiva contribuição das sobras de
alimentos descartadas pelos clientes. Outro destaque é a diminuição dos
resíduos orgânicos e aumento dos inorgânicos em relação à composição
gravimétrica do conjunto dos resíduos produzidos no país que é de
aproximadamente 51,4% de orgânicos, 31,9% de inorgânicos recicláveis e 16,7%
com outras tipologias.
A gestão dos resíduos de fast food requer a
capacitação dos trabalhadores para o aproveitamento máximo dos alimentos
durante a preparação, planejando-se inclusive a diminuição dos excessos que
serão descartados pelos consumidores. Neste sentido, estes podem ser informados
sobre as políticas de responsabilidade ambiental e social da empresa através de
programas de educação ambiental direcionados, sendo incentivados a colaborarem
com o destino ambiental correto dos restos de alimentos e embalagens. A disponibilidade
de locais adequados e identificados para a disposição dos resíduos também é
essencial para que os consumidores colaborem, inclusive retornando as
embalagens e outros itens que são levados para consumo fora dos
estabelecimentos principais.
As parcerias com cooperativas legais, dentro das normas e
padrões ambientais pode ser uma solução interessante para a gestão dos resíduos
destas atividades. A racionalização, redução, reutilização e reciclagem (4 Rs)
é uma metodologia que aplicada nas atividades de fast food permite uma
melhoria na lucratividade dos empreendimentos e nas relações sociais com seus
consumidores e comunidade em geral.
Referências:
- Perfil do Gerenciamento de Resíduos Alimentares dos Fast
Food do Shopping da Cidade de Dourados/MS Josiane Barbosa Dutra
Vidmantas, Cleide Adriane Signor Tirlone, Perla Loureiro, Regina Aparecida do
Nascimento. III Simpósio Brasil-Japão em Sustentabilidade. 08-12/10/2010, Campo
Grande/MS.
- Processo de Gestão de Resíduos nas Embalagens de
Pós-Consumo: Estudo de Caso McDonald’s Estudantes das Universidades Castelo
Branco e Paulista, São Paulo, Brasil. 3º International Workshop Advances in Cleaner Production. 18-20/05/2011,
São Paulo/SP.
Antonio Silvio Hendges, Articulista do
Portal EcoDebate, é Professor de biologia, assessoria em resíduos sólidos,
educação ambiental e tendências ambientais. Emails: as.hendges@gmail.com
e cenatecltda@hotmail.com.
(EcoDebate)
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