segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Comunidades já vivenciam as mudanças climáticas

Estudo apresentado na conferência do clima no Catar mostra situação de cinco locais supervulneráveis que sofrem com seca ou enchentes constante
Algumas comunidades espalhadas pelo planeta são tão vulneráveis às mudanças climáticas que nem mesmo tentativas de lidar com os problemas e se adaptar a eles podem ser suficientes. Elas já estão experimentando agora perdas e danos relacionados a secas ou chuvas mais intensas, por exemplo, e podem sucumbir em um cenário mais drástico de aquecimento global.
Dificuldades – Koko Warner, diretora científica da Universidade das Nações Unidas
“As pessoas (que vivem nas cinco comunidades estudadas) estão tentando se ajustar e a adaptação está ocorrendo, mas isso não é o suficiente. Os custos estão ficando cada vez mais caros e perdas e danos continuam ocorrendo independentemente das medidas adotadas”
 

Estudo avaliou comunidades de Bangladesh (foto), Butão, Gâmbia, Quênia e da Micronésia
Essa é a conclusão de um estudo conduzido pela Universidade das Nações Unidas e apresentado durante da 18.ª Conferência das Partes da ONU (CPO-18), que ocorreu no início de dezembro/12 em Doha (Catar).
O trabalho avaliou a situação de cinco comunidades supervulneráveis em Bangladesh, Butão, Gâmbia, Quênia e Micronésia. "O que eles vivenciam vai além dos eventos extremos, é um problema contínuo que afeta as pessoas hoje", afirma Koko Warner, diretora científica da universidade. "O objetivo foi acessar as perdas e os danos com base na perspectiva das comunidades. Não só falar da parte física das mudanças climáticas, mas mostrar como ela já está impactando as pessoas, como elas lidam com as adversidades e o que acontece quando as medidas falham."
Esse conceito de perdas e danos (ou loss and damages, em inglês) ainda é relativamente novo na ciência climática, mas tem como premissa que há limites para ações de adaptação que podem levar a uma inabilidade para responder aos estresses climáticos.
Nas negociações climáticas, apareceu pela primeira vez na COP de Durban. O trabalho foi lançado agora na COP justamente para chamar a atenção dos negociadores para o problema, uma vez que a questão das perdas e danos está no mandato da conferência. Isso significa que se espera que seja encaminhado um tipo de solução para o problema - seja a criação de algum fundo ou a definição se o tema terá de ser mais discutido nas outras conferências ou se vai ser criado um mecanismo internacional.
Casos de estudo
O levantamento mostrou, por exemplo, que em Bangladesh os impactos estão relacionados com a intrusão de salinidade na região de Shyamnagar. Das 360 casas entrevistadas, quase todas (99%) disseram ter percebido um médio ou alto nível de salinidade no solo e o impacto disso na produção de arroz (98%) e na oferta de água para consumo (90%). E, apesar de 81% terem tomado alguma medida - como usar variedades mais tolerantes ao sol (39%), lavar os campos de arroz para tirar o sal (27%), buscar outras formas de renda (60%) e até migrar para outros locais (29%) -, a maioria disse que ainda sofre com a situação (70%).
Nas outras quatro regiões, a situação mais ou menos se repete, de acordo com a ocorrência climática. No Butão, o problema é a mudança no regime de monções; no Gâmbia é a seca; no Quênia, inundações; e na Micronésia, erosão costeira. Em comum a todos os casos, afirma Koko, "as pessoas estão tentando se ajustar e a adaptação está ocorrendo, mas isso não é suficiente. Os custos estão ficando cada vez mais caros e perdas e danos continuam ocorrendo independentemente das medidas adotadas".
As regiões são particularmente sensíveis aos distúrbios climáticos porque em sua maioria o sustento depende de agricultura e pecuária. "Elas já estão à margem de sua sobrevivência."
Para o pesquisador Saleemul Huq, que coordenou a pesquisa em Bangladesh, é preciso sair da conferência algum mecanismo internacional para lidar com as perdas e danos. "Alguma forma de compensação", diz. Para ele, isso poderia estar discriminado no Fundo Verde Climático, que prevê um aporte de US$ 100 bilhões até 2020. O problema é que, ao longo desta primeira semana de negociação, os delegados dos países desenvolvidos não deram nenhum vislumbre de como e quando começarão a alimentar esse fundo. (OESP)

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