Melhor cobertura arbórea evita alagamentos e melhora
qualidade microclimática das áreas urbanas
Distribuição da
vegetação na bacia do córrego Judas é desigual
A incorporação da
infraestrutura verde - rede de espaços naturais ou construídos que desempenham
serviços ambientais - ao planejamento urbano pode trazer uma série de
benefícios a cidades como São Paulo, entre eles controle de alagamentos,
criação de áreas de lazer para a população e melhoramento microclimático das
regiões metropolitanas. Com esses objetivos, o urbanista Renier Marcos
Rotermund desenvolveu uma proposta de planejamento da Floresta Urbana - conjunto
de árvores e vegetação presentes no ambiente urbano - para a bacia do córrego
Judas / Maria Joaquina, na região de Santo Amaro, zona sul de São Paulo. O
mestrado Análise e planejamento da Floresta Urbana enquanto elemento da
Infraestrutura Verde: estudo aplicado à Bacia do Córrego Judas / Maria
Joaquina, São Paulo foi desenvolvido na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo (FAU) da USP.
“O trabalho procurou
analisar a vegetação e seu papel na área da bacia do córrego Judas, e como a
cobertura de árvores poderia ajudar no melhoramento ambiental dessa bacia”, diz
o pesquisador. O planejamento foi antecedido pela análise da cobertura arbórea
e outros elementos da bacia a partir da observação de imagens de satélite e
análise em campo. O espaço foi dividido em setores, de acordo com o uso e
ocupação do solo - residencial, misto de residências e comércio, área
industrial, etc. “A análise se deu para determinar como se relacionavam esses
espaços e, a partir disso, determinar políticas de manejo dessa cobertura
arbórea em cada um desses setores”, conta.
Também foi realizada
uma análise pontual do sistema viário da região, “para verificar sua relação
com a cobertura arbórea, se existe espaço para mais arborização nessas vias, se
esse aspecto pode ser melhorado e como pode se relacionar melhor com as funções
da vida urbana - mobilidade de carros, pessoas e demais usos da via pública”,
detalha Rotermund.
Bacia do córrego
Judas
Embora a região conte
com uma cobertura arbórea próxima a 30%, o que, segundo o pesquisador é algo
encontrado em poucos pontos da cidade, quando se analisa separadamente cada
setor, percebe-se que a distribuição dessa vegetação é desigual. O urbanista
esclarece: “Há uma área de parques, que contribui com uma cobertura muito
grande. As zonas exclusivamente residenciais, com residências de alto padrão,
também têm uma vegetação arbórea bastante desenvolvida. Mas o setor industrial
e a zona mista (comércio e residências) não possuem”.
Por esse motivo, cada
setor foi trabalhado de maneira diferenciada no planejamento da infraestrutura
verde. “Naqueles que têm uma cobertura arbórea bastante desenvolvida, o
trabalho é principalmente de conservação. Ao passo que nos setores onde se tem
uma cobertura menor, como o industrial, que está se transformando, o objetivo é
fazer com que ela possa se desenvolver melhor”, diz Rotermund. O plano também
mostrou ser possível melhorar a arborização mesmo em vias bastante estreitas,
onde aparentemente não há possibilidade de plantio. “Há a possibilidade de se
ter mais árvores e com melhor qualidade, associadas inclusive a outras questões
ambientais, como a drenagem”, completa.
A drenagem foi, além
do aumento das áreas verdes, um aspecto de grande importância para o trabalho.
Entre as propostas está, inclusive, a descanalização de alguns trechos do
córrego, o que possibilitaria a criação de novas áreas verdes para lazer da
população, além de contribuir para minimizar problemas de enchentes e promover
a melhora da qualidade da água do rio. O planejamento também inclui a
interligação das áreas verdes dentro da bacia possibilitando não apenas o
deslocamento dos habitantes entre elas, mas a preservação da biodiversidade
local.
Para o urbanista, no
entanto, o grande desafio para que planos de infraestrutura verde sejam
colocados em prática é a incorporação do conceito pelo poder público, ao
planejamento urbano, unindo-a aos demais aspectos da urbanização, como a
construção de vias públicas. “É preciso permear todas as áreas com a
arborização. É claro que não se conseguirá fazer isso da mesma maneira, mas as
áreas verdes e a arborização tem uma função muito importante, fazem parte
efetivamente da infraestrutura da cidade. Sem elas, tem-se prejuízos ambientais
imensos”. (EcoDebate)
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