Indústrias da cidade da Grande São Paulo classificam redução feita pela
Sabesp como injusta e dizem que medida pode afetar linha de produção.
Empresários de
Guarulhos, primeira cidade da Grande São Paulo a sofrer racionamento oficial de
água, classificaram como injusto o corte feito pela Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) apenas para municípios abastecidos pelo
Sistema Cantareira que compram água no atacado e disseram que a medida pode
afetar a linha de produção das indústrias locais.
Torneiras Secas
Costa compra água para lavar a louça e toma banho na casa da sogra, na
zona norte da capital.
"É um absurdo
racionar água apenas para uma cidade. Independente de ser do Cantareira ou não,
o governo deveria adotar a medida para todos, de forma equitativa",
afirmou Maurício Colin, o diretor do Centro das Indústrias do Estado de São
Paulo (Ciesp) na cidade. "O racionamento pode provocar a paralisação das
linhas de produção de várias indústrias", disse o representante de 3 mil
empresários de Guarulhos.
O município começou
com o rodízio de um dia com água e um dia sem para cerca de 850 mil pessoas em
15/03/14. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Guarulhos (Saae) disse que o
racionamento foi "imposto" pela Sabesp, que cortou em 15% o volume de
água vendido à cidade. A companhia, por sua vez, informou que o corte foi
determinado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Água e
Energia Elétrica (DAEE).
Embora 17/03/14
tenha sido o primeiro dia útil de racionamento oficial na cidade, o presidente
da Associação dos Empresários de Cumbica (Asec), Aarão Ruben de Oliveira, disse
que muitas empresas do polo industrial na região do aeroporto já tinham
começado a comprar água de caminhões-tanque por causa de frequentes cortes no
abastecimento nas últimas semanas.
"Nós já
vínhamos sofrendo constantemente com redução velada do fornecimento de água.
Algumas empresas passaram a usar água de reuso, abriram poço, ou compraram dos
caminhões-tanque. Agora, vamos ver como ficará com esse corte efetivo, que
consideramos injusto porque os impostos que geramos aqui vão para todo o
Estado", disse Oliveira.
Rodízio
Quem não tem condições
de comprar água do caminhão se vira como pode. É o caso do aposentado Roberto
Ferreira, de 74 anos, que passou a fazer "rodízio de banheiro" em
casa para evitar que as caixas d’água sequem. "Tenho três caixas de 500
litros. Uma fica só para tomar banho no banheiro do quarto. A outra a gente
deixa para fazer as necessidades no banheiro de baixo. E a terceira é a da
cozinha", disse Ferreira, que mora na Vila São Jorge.
Já o vendedor
autônomo Willians Rodrigues Costa, de 34 anos, tem sido obrigado a tomar banho
na casa da sogra, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte da capital, desde
14/03/14 porque não tem água suficiente na sua rua, na Vila Mena. "Aqui
sempre foi um problema para chegar água. Agora, então, não vem mesmo."
Com as torneiras
secas, Costa chega a usar água comprada em galões de 20 litros para consumo
próprio para lavar a louça. "Já não lavamos mais o quintal e uso água da
chuva para limpar o xixi do cachorro. E mesmo sem água a conta continua vindo
alta", afirmou o autônomo.
Segundo a Saae, a
Sabesp reduziu a oferta de água para a cidade em 390 litros por segundo, do
total de 2,5 mil litros por segundo comprados. A empresa informou ainda que
além dos 850 mil moradores que são atendidos com água do Cantareira, outros 210
mil moradores de seis bairros já convivem com problema de desabastecimento
desde o início de fevereiro por causa da redução do volume de água fornecido
pela Sabesp pelo reservatório de Vila Industrial, em Itaquaquecetuba,
pertencente ao Sistema Alto Tietê.
Ao todo, o Saae
compra por atacado da Sabesp cerca de 87% da água que distribui aos 1,2 milhão
de moradores; o Cantareira é responsável por 62% e o Alto Tietê por 25%. Os 13%
restantes equivalem à produção própria do município.
Em baixa
14,1 mil litros por
segundo é a vazão de água que entrou até 17/03/14 no Sistema Cantareira. Em
1953, que era o pior da história, o índice foi de 26,7 mil litros por segundo.
Em 17/03/14, por exemplo, o volume retirado do sistema foi de 28,5 mil litros
por segundo. (OESP)
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