Governo precisa de plano nacional de adaptação às mudanças climáticas, diz Observatório do Clima
Governo precisa de plano nacional de adaptação às mudanças
climáticas, diz Observatório do Clima
O coordenador-geral
do Observatório do Clima (OC – rede de organizações não governamentais e
movimentos sociais brasileiros que atuam na agenda de mudanças climáticas no
país), André Ferretti, disse em 31/03/14 à Agência Brasil que o governo federal
necessita ter um plano nacional de adaptação para enfrentar as consequências do
aquecimento global.
Segundo Ferretti, o
novo relatório do Painel Intergovernamental da Organização das Nações Unidas
sobre Alterações Climáticas (IPCC), divulgado hoje e que trata dos impactos,
adaptação e vulnerabilidade às mudanças climáticas, mostra de forma clara que o
mundo ainda não consegue calcular quanto isso vai custar aos países. A
estimativa é que os custos oscilem entre US$ 4 bilhões e mais de US$ 100
bilhões nos 40 anos compreendidos entre 2010 e 2050. “Essa variação mostra a
grande dificuldade de se calcular, porque são muitos fatores envolvidos”,
disse.
Ferretti sublinhou
que, quando se fala em impactos e adaptação, é preciso que o país saiba quais
são as suas vulnerabilidades, “mapeá-las e traçar planos para reduzi-las”. Ele
explicou que como o mundo ainda não traçou esse mapa, fica difícil estimar
quanto vai custar para se adaptar às mudanças que estão em curso e àquelas que
virão.
Por isso, Ferretti
indicou que o Observatório do Clima (OC) considera fundamental que o Brasil
tenha um plano nacional de adaptação. A demanda da ONG é antiga e ganha cada
vez mais força, destacou. “O relatório [do IPCC] evidencia que é urgente a
necessidade de um plano e é estratégico para qualquer país, conhecendo os seus
pontos mais vulneráveis, se preparar para essa adaptação”. Segundo Ferretti, é
em função da qualidade dessa adaptação que o governo poderá saber se haverá
mais prejuízos sociais, econômicos e ambientais em decorrência das mudanças do
clima.
Ferretti sugeriu que
uma das estratégias mais eficientes e baratas é a adaptação baseada em
ecossistemas. Isso significa manter os ecossistemas funcionando em boa
qualidade, para que os serviços ambientais essenciais continuem sendo providos.
No caso brasileiro, em especial, ele destacou a energia hidrelétrica, da qual o
país é dependente e está enfrentando problemas de falta de água nos
reservatórios em um período que deveria ser de chuvas abundantes. ”Eventos como
esse vão ser cada vez mais frequentes e intensos, segundo as previsões do
segundo relatório do IPCC. E a gente sabe que além de sofrer com a falta de
água em algumas épocas, a água que é usada para o abastecimento vai gerar
também problemas de abastecimento de energia”, acredita.
O coordenador-geral
do OC indicou que no plano nacional de adaptação, o governo precisa identificar
os principais mananciais que estão sendo usados atualmente pela população, mas
também os mananciais que serão usados no futuro próximo, devido à demanda crescente,
“e protegê-los, conservá-los, também com isso melhorando a qualidade e a vida
útil das nossas represas”. Dessa forma, ele diz que o país consegue ter um
sistema de fornecimento de água e de energia mais eficiente.
Ferretti ponderou,
entretanto, que, mesmo assim, o país estará vulnerável e não poderá focar os
investimentos somente em energia hidrelétrica, mas deve investir também, com
mais intensidade, em outras fontes renováveis que não agravem as mudanças
climáticas, entre as quais a energia solar e a eólica (dos ventos). Ele lembrou
que no ano passado, o governo federal apresentou o seu plano setorial de
mitigação e adaptação às mudanças climáticas para o setor de energia. “E a
gente vê que esse plano investe, basicamente, 70% dos recursos até 2020 em
combustíveis fósseis, o que é uma contradição. Tem que ser justamente o
contrário. Aliás, não tinha que ter investimento nenhum nisso. Tinha que ter
investimento em [combustíveis] não fósseis”, opinou.
Outra questão que
preocupa a ONG é o desmatamento existente no Brasil que, depois de recuar os
índices nos últimos anos, voltou a aumentar na Amazônia, em 2013. “É um sério
problema”. Ferretti defende que o objetivo é que o Brasil caminhe para o
desmatamento zero. “Temos que conservar os ecossistemas, funcionando e
garantindo os serviços ambientais essenciais para a população”.
Na avaliação do
coordenador do OC, o Brasil precisa ser mais ousado e trilhar, em caráter
definitivo, o caminho rumo a uma economia descarbonizada, com investimentos
direcionados a tudo que seja limpo de carbono e possa trazer um diferencial
para o país, em termos de novas oportunidades, novos empregos e negócios. “É o
que o mundo vai precisar nos próximos anos. Se a gente ficar com essa fixação
em pré-sal, a gente vai estar desenvolvendo nosso país nos próximos anos para
uma energia de que o mundo vai precisar abrir mão”, salientou. “Se o Brasil
insistir no petróleo, certamente sofrerá pressão no futuro para não jogar isso
na atmosfera”.
No próximo dia 29 de
abril, o OC levará suas sugestões sobre o Plano Nacional de Adaptação às
Mudanças Climáticas à reunião do grupo executivo da Comissão Interministerial
de Mudanças Climáticas. Em outubro, após o lançamento dos relatórios completos
do IPCC, a ONG pretende divulgar o sistema de estimativas de emissões de gases
de efeito estufa do Brasil, em que analisa as emissões do país no ano anterior.
No ano passado, foram calculadas as emissões de cada setor da economia. “Este
ano, nós vamos revisar isso e, com os dados dos relatórios do IPCC, nós vamos
preparar todo um material para levar ao governo”. (ecodebate)
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