Contra fatos não há argumentos. O
que acontece atualmente com relação ao desabastecimento de água em São Paulo se
enquadra na retórica de que uma mentira repetida muitas vezes acaba virando
verdade.
O governo paulista insiste em
negar que se as obras necessárias tivessem sido realizadas poderia ser menos
dramática a atual situação. E insiste ainda em responsabilizar São Pedro pelo
caos evidente. A culpa não é da seca! A seca é parte do problema, pois desde
sempre se soube que ela poderia vir.
Os gestores públicos também negam
que existe racionamento, afirmando que o abastecimento de água está garantido
até março de 2015, apesar de, na prática, o racionamento existir oficialmente
em dezenas de municípios.
Em visita ao interior de São
Paulo, no inicio de agosto, pude constatar uma situação que ainda não tinha me
dado conta. A gravidade da crise hídrica atinge não apenas a região
metropolitana da capital, como a imprensa dá a entender ao enfatizar o colapso
do sistema Cantareira, mas atinge todo o Estado mais rico da União.
Dos 645 municípios paulistas, a
Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo) é responsável por fornecer
água a 364, quem somam um total de 27,7 milhões de pessoas. Nos outros 281
municípios (não abastecidos pela Companhia), o abastecimento de água a 16
milhões de pessoas fica a cargo das próprias prefeituras ou de empresas por
elas contratadas.
Se, por um lado, a companhia
estadual de abastecimento nega haver adotado rodízio de água em qualquer um dos
municípios atendidos por ela, inclusive na capital, tal afirmação é logo
desmentida pelos usuários que relatam interrupções no abastecimento,
principalmente à noite.
Nos municípios não atendidos pela
Sabesp, medidas restritivas estão sendo tomadas por centenas de empresas e
gestores locais devido à crise. Em Guarulhos, na grande São Paulo, o
abastecimento de 1,3 milhões de moradores é atendido por um serviço municipal,
o SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), e seus moradores passam sem água um
em cada dois dias.
Em 18 municípios, cerca de 2,1
milhões de pessoas estão submetidas ao racionamento oficial no estado de São
Paulo, correspondendo a 5% da população total, segundo levantamento do jornal
Folha de São Paulo (11/Ago). Além do racionamento, medidas de incentivo à
economia de água têm sido adotadas, indo desde multas para reprimir o
desperdício a campanhas com rifas de carro e TV para quem poupar e reduzir o
consumo voluntariamente.
O que chama a atenção de todos,
além da dimensão estadual da crise hídrica em São Paulo, é a insistência dos
gestores em negar a existência do racionamento na área de atuação da Sabesp –
mesmo contestados pelos moradores, que sofrem na prática com o rodízio
provocado pela companhia, com cortes crescentes no fornecimento de água.
A contrapartida do poder é a ação
responsável. E o governo paulista tem se mostrado irresponsável com o seu povo,
além de incompetente e medíocre para resolver questões básicas para a sua
população. É hora de assumir a gravidade da situação e dos erros cometidos, e,
naturalmente, fazer as obras urgentes e necessárias para garantir o
fornecimento seguro deste bem fundamental à vida.
Chega de hipocrisia, chega de
culpar São Pedro que não pode se defender. (ecodebate)
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