Sem chuva, água do Sistema Alto Tietê só dura mais dois
meses.
Enquanto os governos federal e paulista discutem a exploração
de mais água do volume morto do Sistema Cantareira, o segundo maior manancial
que abastece a Grande São Paulo caminha para o esgotamento, operando a pleno
vapor e sem ter uma “reserva estratégica” no fundo de suas barragens. O Sistema
Alto Tietê atingiu nesta terça-feira, 21, 8,5% da capacidade e, caso as chuvas
não voltem com força, os reservatórios podem secar completamente em menos de
dois meses, antes da água do Cantareira.
Segundo a Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o Alto Tietê tem capacidade para 521
bilhões de litros, atrás apenas do Cantareira em volume máximo de armazenamento
entre os seis sistemas que abastecem a Grande São Paulo. Isso significa que em
21/10/14 as cinco barragens que formam o manancial localizado entre as cidades
de Salesópolis e Suzano somavam 44,3 bilhões de litros, quantidade que não
chega à metade da segunda cota do volume morto do Cantareira, de 106 bilhões de
litros. Há um ano, o nível do Alto Tietê era de 52,8%.
Biritiba Mirim. Sabesp decidiu
romper um dique para ampliar a vazão de água do sistema
Embora tenha registrado um volume
de chuvas abaixo da média em quase todos os meses deste ano - a exceção foi
setembro -, a crise do Alto Tietê foi agravada pela exploração máxima da capacidade
do manancial em pleno período de estiagem. Isso ocorreu porque, ao lado do
Sistema Guarapiranga, o Alto Tietê tem sido utilizado pela Sabesp desde janeiro
para socorrer bairros da capital antes atendidos pelo Cantareira.
Hoje, segundo a Sabesp, cerca de 1
milhão de pessoas que eram atendidas pelo Cantareira em bairros da zona leste
da capital, como Aricanduva, Cangaíba, Penha, Sapopemba e Tatuapé, recebem água
do Alto Tietê, cuja área de cobertura saltou para mais de 4 milhões de pessoas.
Esse “socorro” ao Cantareira só foi
possível porque, em fevereiro deste ano, o Departamento de Águas e Energia
Elétrica de São Paulo (DAEE), órgão regulador dos mananciais paulistas,
autorizou, em plena crise, o aumento de 10 mil para 15 mil litros por segundo a
vazão máxima para produção de água na estação de tratamento Taiaçupeba, em
Suzano.
Depois disso, a Sabesp tem operado
o manancial próximo da capacidade máxima, enquanto o nível dos reservatórios
vem caindo diariamente.
O Ministério Público Estadual (MPE)
investiga se a crise no Alto Tietê está relacionada a uma suposta
superexploração dos reservatórios do manancial. Em junho, o Estado revelou que
o nível de armazenamento das represas do Alto Tietê caiu em uma velocidade
maior que a do Cantareira.
À época, a Sabesp negou que
houvesse crise no manancial. Em julho, contudo, a empresa divulgou que havia
feito estudos para captar água do volume morto do Alto Tietê. “Caso seja
necessário, o levantamento mostra que a partir de agosto a companhia poderá
acessar 10 bilhões de litros da represa Biritiba-Mirim. E a partir de novembro
poderão ser captados 15 bilhões de litros da Represa Jundiaí”, informou a
Sabesp.
Negativa
No mês passado, contudo, o
secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, negou que
houvesse água abaixo do nível das comportas nas represas do Alto Tietê, como
ocorre no Cantareira. “Não tem volume morto lá para ser utilizado”, disse Arce.
“O que nós fizemos foi alargar a passagem de um reservatório para o outro. Mas
isso está pronto, não tem mais nada além disso”, completou.
A obra descrita pelo secretário foi
o rompimento de um dique para alargar a passagem de água entre as Represas
Biritiba-Mirim e Jundiaí, em Mogi das Cruzes, para que um volume maior de água
chegue à Represa Taiaçupeba, em Suzano, onde fica a estação de tratamento de
água da Sabesp. Além disso, a companhia também contratou uma empresa para
provocar chuva artificial sobre as represas da região, com o bombardeio de
nuvens. A prática também ocorre no Cantareira. (OESP)
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