Governo
paulista reagiu às declarações e afirmou que o gestor federal veio ‘disseminar
pânico em São Paulo’.
O
presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, disse em
21/10/14, que o uso da segunda cota do volume
morto do Sistema Cantareira é uma “pré-tragédia” e, se não voltar a chover
dentro da média, “não haverá alternativa, a não ser ir ao lodo”. O governo
paulista reagiu às declarações, feitas na Assembleia Legislativa. Em nota, o
secretário-chefe da Casa Civil, Saulo de Castro Abreu Filho, afirmou que o
gestor federal veio “disseminar pânico em São Paulo” em “plena campanha
eleitoral”.
Andreu
participou de debate sobre a crise hídrica, organizado pela bancada do PT, que
faz oposição a Geraldo Alckmin (PSDB). “Eles querem retirar, essa é a proposta
da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), o segundo
volume morto, ou seja, a pré-tragédia”, afirmou Andreu sobre o pedido para
captar mais 106 bilhões de litros. O presidente da ANA afirmou também que a
empresa praticamente esgotou 182,5 bilhões de litros da primeira cota. Nesta
terça, a capacidade do Cantareira era de 3,3%.
Sabesp
conta com a segunda cota do volume morto do Cantareira para manter o
abastecimento de água até março de 2015 sem decretar racionamento oficial de
água
Andreu disse que a empresa já usou a segunda reserva
na Represa Atibainha, em Nazaré Paulista, conforme o Estado revelou em
21/10. Para ele, o uso
de uma terceira reserva “tecnicamente será complicado”. “Se a crise se
acentuar, é bom que a população saiba, não haverá alternativa, a não ser ir ao
lodo.”
A
segunda cota garantirá o abastecimento até março de 2015, segundo a Sabesp, sem
que seja preciso decretar racionamento oficial. Na semana passada, conforme
antecipado pelo Estado, a companhia cogitou usar a terceira reserva. “Há ainda
mais 162 bilhões de litros para serem captados, além da segunda reserva”,
informou a Sabesp. Nesta terça, porém, a empresa afirmou que, quando o
presidente da ANA fala em retirar lodo, ele se refere à terceira cota, de onde
a companhia não pretende captar água.
Repercussão
Diante
das críticas, o governo Alckmin atacou a politização da crise. “É lamentável
que o presidente de um órgão federal, financiado com o dinheiro do
contribuinte, venha disseminar pânico em São Paulo. E pior: em horário de
trabalho, participando de um evento patrocinado por um partido em plena
campanha eleitoral”, afirmou o secretário da Casa Civil. “Em vez de se
solidarizar com o esforço do povo de São Paulo, o dirigente da agência tenta
tirar proveito político de uma crise que se enfrenta com critérios técnicos”,
disse Saulo.
O
líder do PSDB na Assembleia, o deputado Cauê Macris, classificou as declarações
de “eleitoreiras”. Ele disse que vai propor uma representação por quebra de
decoro parlamentar contra João Paulo Rillo, líder dos petistas. “Foi uma
reunião partidária e eleitoral do PT. Não podemos admitir o uso de dinheiro
público para fazer horário eleitoral. Isso é um absurdo”, disse Macris.
Rillo,
por sua vez, afirmou que o PT “promoveu uma série de seminários” sobre a crise
hídrica e negou que exista “uma combinação com a campanha (eleitoral)”.
“Estamos buscando informação, esclarecer a população”, disse.
Presidência
As
declarações de Andreu foram feitas um dia depois de o candidato à Presidência
pelo PSDB, Aécio Neves, afirmar que “talvez tenha faltado uma parceria maior do
governo federal” na crise hídrica. No dia anterior, durante o horário
político-eleitoral, a presidente e também candidata Dilma Rousseff (PT)
explorou o caso, dizendo que “é um exemplo do modelo de gestão tucana”.
Andreu
rebateu Aécio. “Eu acho que ele desconhece a relação que a gente tem aqui no
Estado, principalmente com o órgão gestor (Sabesp) e mesmo com o próprio
governador. E desconhece a ANA. Por curiosidade, o relator que me indicou no
Senado foi o próprio vice dele, Aloysio Nunes (Ferreira).”
O
tucano afirmou que “não indicou ninguém”. “Quem tem a prerrogativa de fazer
isso é a Presidência da República. Ela encaminha o nome e o Senado delibera. O
relator simplesmente faz a apresentação de todos os documentos”, explicou.
Andreu foi indicado para comandar a ANA em 2010 pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. (OESP)
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