Estudo mostra que restauração
florestal pode atingir larga escala sem competir com agricultura.
Em
artigo publicado na Frontiers in Ecology and the Environment, pesquisadores
mostram que a solução passa pelo aumento da produtividade das pastagens em
forma sustentável.
Conciliar
a expansão agrícola com a conservação e restauração ambiental é uma meta
possível na avaliação dos pesquisadores do Instituto Internacional para
Sustentabilidade (IIS). Embora essa solução seja internacionalmente reconhecida
como um dos maiores, senão o maior, desafio à sustentabilidade ambiental e
social global próximas décadas, um artigo científico, publicado neste 1 de
maio, na revista americana Frontiers in Ecology and the Environment, de autoria
dos pesquisadores Agnieszka Latawiec, diretora de pesquisa do IIS, Bernardo
Strassburg, diretor executivo do IIS, Pedro Brancalion e Ricardo Rodrigues,
cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e Toby Gardner, do IIS e do
Stockholm Environment Centre, na Suécia, comprova que ,com planejamento, é
economicamente viável conciliar expansão da floresta e a agricultura.
“Existem
hoje cerca de dois bilhões de hectares de terras desmatadas e degradadas em
todo o mundo. Precisamos inverter essa tendência. E tem várias pessoas dizendo
que a conciliação não é possível. Nós provamos que isso não é verdade”, diz
Agnieszka.
De
acordo com o artigo, a chave para conciliar desenvolvimento rural e
reflorestamento em larga escala está no aumento da produtividade das pastagens
em forma sustentável. Para isso, é necessário investir em técnicas de aumento
de produção, com objetivo de manter a produtividade local em uma área menor
para liberar parte das áreas para os projetos de recuperação. Em paralelo, ao
fazer o planejamento, explica Agnieszka, deve-se observar a economia local para
a escolha das áreas a serem restauradas, poupando regiões com alto potencial
para agricultura e pecuária.
Essa
bandeira, agora levada à comunidade internacional, pretende ser a meta do IIS,
que tem sede no Horto e ancora cerca de dez projetos de estudos de florestas
com apoio de organismos internacionais. No Rio, já estão conversando com várias
organizações locais para elaborar um projeto para estudar o reflorestamento do
estado com o mínimo de interferência econômica possível.
No
artigo, os pesquisadores colocam uma luz sobre a Mata Atlântica brasileira.
Segundo eles, se mal executada, a recuperação das áreas neste bioma poderá
deslocar a produção de gado, como resultado da escassez de terras e,
consequentemente, gerar novos desmatamentos em outras regiões. Um exemplo de
que a intervenção em larga escala pode causar deslocamento da agricultura se
deu no Vietnã. Naquela região, cerca de 39% do aumento da cobertura florestal
entre 1987 e 2006, por exemplo, parece ter sido equilibrado pelo aumento
proporcional do desmatamento em países vizinhos (por exemplo, Laos, Camboja e
Indonésia).
Seguros
de que os riscos de deslocamento na região de Mata Atlântica são elevados,
recomendam que a melhor maneira de minimizá-los é combinar técnicas de aumentos
de produtividade a priorização de terras agrícolas marginal para a restauração.
Sendo a Mata Atlântica um dos biomas mais ricos do planeta, o grupo considera
que traçar uma política para os conflitos de terra que surgirão pode ajudar no
desenvolvimento de uma base conceitual para promover mais avanços na pesquisa e
política em todo o mundo. Agnieszka explica que a Mata Atlântica mantém cerca
de 14% de sua cobertura original de sua área total de 150 milhões de hectares.
“Trata-se de um dos cinco principais hotspots de biodiversidade mundial.
Proporciona um lar para 60% da população brasileira e responde por cerca de 80%
do produto interno bruto do país. É preciso planejar essa restauração”,
explica.
Como
experiência piloto para a tese, o IIS analisou dados regionais do Espirito
Santo para uma restauração planejada da área. O programa Reflorestar, do
governo capixaba, tem como objetivo restaurar 236 mil hectares de floresta por
meio da restauração em larga escala até 2025. Ao mesmo tempo, o plano de
desenvolvimento do Estado exige uma expansão 284.000 hectares das áreas
dedicadas a culturas agrícolas e uma de 400 000 ha expansão das plantações
florestais.
“Nosso
estudo uniu as metas de restauração a projeções espaciais da pecuária e agricultura,
compreendendo o potencial futuro do estado. O objetivo foi fazer esta avaliação
para estabelecer critérios para restauração. As projeções mostram as áreas de
crescimento potencial da pecuária, por exemplo, ficando claro que estas
deveriam aproveitar esse potencial e continuar com pecuária. Com base nessas
premissas, estabelecemos os critérios de restauração nas áreas com menos
potencial para agricultura. O projeto é um grande desafio, mas as metas de
expansão da agricultura em paralelo à restauração da cobertura florestal nativa
são factíveis, e caso bem-sucedidas, colocariam o estado do Espírito Santo como
símbolo internacional de um novo paradigma de uso integrado e harmônico do
recurso terra”, explica Bernardo Strassburg
Segundo
ele, o estudo considera ainda que a restauração pode, em algumas
circunstâncias, ser feita de maneira economicamente mais sustentável,
incorporando atividades geradoras de renda, tais como a exploração de produtos
florestais madeireiros e não-madeireiros, certificação e pagamentos por
serviços ecossistêmicos. (ecodebate)
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