terça-feira, 5 de maio de 2015

Restauração florestal pode atingir larga escala sem competição

Estudo mostra que restauração florestal pode atingir larga escala sem competir com agricultura.
Em artigo publicado na Frontiers in Ecology and the Environment, pesquisadores mostram que a solução passa pelo aumento da produtividade das pastagens em forma sustentável.
Conciliar a expansão agrícola com a conservação e restauração ambiental é uma meta possível na avaliação dos pesquisadores do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS). Embora essa solução seja internacionalmente reconhecida como um dos maiores, senão o maior, desafio à sustentabilidade ambiental e social global próximas décadas, um artigo científico, publicado neste 1 de maio, na revista americana Frontiers in Ecology and the Environment, de autoria dos pesquisadores Agnieszka Latawiec, diretora de pesquisa do IIS, Bernardo Strassburg, diretor executivo do IIS, Pedro Brancalion e Ricardo Rodrigues, cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e Toby Gardner, do IIS e do Stockholm Environment Centre, na Suécia, comprova que ,com planejamento, é economicamente viável conciliar expansão da floresta e a agricultura.
“Existem hoje cerca de dois bilhões de hectares de terras desmatadas e degradadas em todo o mundo. Precisamos inverter essa tendência. E tem várias pessoas dizendo que a conciliação não é possível. Nós provamos que isso não é verdade”, diz Agnieszka.
De acordo com o artigo, a chave para conciliar desenvolvimento rural e reflorestamento em larga escala está no aumento da produtividade das pastagens em forma sustentável. Para isso, é necessário investir em técnicas de aumento de produção, com objetivo de manter a produtividade local em uma área menor para liberar parte das áreas para os projetos de recuperação. Em paralelo, ao fazer o planejamento, explica Agnieszka, deve-se observar a economia local para a escolha das áreas a serem restauradas, poupando regiões com alto potencial para agricultura e pecuária.
Essa bandeira, agora levada à comunidade internacional, pretende ser a meta do IIS, que tem sede no Horto e ancora cerca de dez projetos de estudos de florestas com apoio de organismos internacionais. No Rio, já estão conversando com várias organizações locais para elaborar um projeto para estudar o reflorestamento do estado com o mínimo de interferência econômica possível.
No artigo, os pesquisadores colocam uma luz sobre a Mata Atlântica brasileira. Segundo eles, se mal executada, a recuperação das áreas neste bioma poderá deslocar a produção de gado, como resultado da escassez de terras e, consequentemente, gerar novos desmatamentos em outras regiões. Um exemplo de que a intervenção em larga escala pode causar deslocamento da agricultura se deu no Vietnã. Naquela região, cerca de 39% do aumento da cobertura florestal entre 1987 e 2006, por exemplo, parece ter sido equilibrado pelo aumento proporcional do desmatamento em países vizinhos (por exemplo, Laos, Camboja e Indonésia).
Seguros de que os riscos de deslocamento na região de Mata Atlântica são elevados, recomendam que a melhor maneira de minimizá-los é combinar técnicas de aumentos de produtividade a priorização de terras agrícolas marginal para a restauração. Sendo a Mata Atlântica um dos biomas mais ricos do planeta, o grupo considera que traçar uma política para os conflitos de terra que surgirão pode ajudar no desenvolvimento de uma base conceitual para promover mais avanços na pesquisa e política em todo o mundo. Agnieszka explica que a Mata Atlântica mantém cerca de 14% de sua cobertura original de sua área total de 150 milhões de hectares. “Trata-se de um dos cinco principais hotspots de biodiversidade mundial. Proporciona um lar para 60% da população brasileira e responde por cerca de 80% do produto interno bruto do país. É preciso planejar essa restauração”, explica.
Como experiência piloto para a tese, o IIS analisou dados regionais do Espirito Santo para uma restauração planejada da área. O programa Reflorestar, do governo capixaba, tem como objetivo restaurar 236 mil hectares de floresta por meio da restauração em larga escala até 2025. Ao mesmo tempo, o plano de desenvolvimento do Estado exige uma expansão 284.000 hectares das áreas dedicadas a culturas agrícolas e uma de 400 000 ha expansão das plantações florestais.
“Nosso estudo uniu as metas de restauração a projeções espaciais da pecuária e agricultura, compreendendo o potencial futuro do estado. O objetivo foi fazer esta avaliação para estabelecer critérios para restauração. As projeções mostram as áreas de crescimento potencial da pecuária, por exemplo, ficando claro que estas deveriam aproveitar esse potencial e continuar com pecuária. Com base nessas premissas, estabelecemos os critérios de restauração nas áreas com menos potencial para agricultura. O projeto é um grande desafio, mas as metas de expansão da agricultura em paralelo à restauração da cobertura florestal nativa são factíveis, e caso bem-sucedidas, colocariam o estado do Espírito Santo como símbolo internacional de um novo paradigma de uso integrado e harmônico do recurso terra”, explica Bernardo Strassburg
Segundo ele, o estudo considera ainda que a restauração pode, em algumas circunstâncias, ser feita de maneira economicamente mais sustentável, incorporando atividades geradoras de renda, tais como a exploração de produtos florestais madeireiros e não-madeireiros, certificação e pagamentos por serviços ecossistêmicos. (ecodebate)

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