Poluição do ar mata mais de 8
milhões de pessoas no mundo, diz OMS
China e Índia são os países
com os piores índices de poluição no mundo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou em
26/05/15, uma resolução que chama a atenção para as graves consequências da
poluição atmosférica para a saúde pública e a economia, especialmente nos
países mais pobres. Os números são alarmantes: cerca de 3,7 milhões de mortes
são atribuídas à contaminação lançada ao ar livre, enquanto 4,3 milhões de
mortes são resultantes de contaminação de ambientes mal ventilados.
A Resolução sobre Poluição do Ar faz uma chamada à
própria OMS para fortalecer sua capacidade e para os países redobrarem seus
esforços de redução dos impactos da poluição do ar. O documento também
reconhece a relação complexa entre a melhoria da qualidade do ar e a redução
das emissões de gases que causam as mudanças climáticas.
No Brasil, um estudo feito por pesquisadores da
Universidade de São Paulo para o Instituto Saúde e Cidadania mostra que a
poluição atmosférica será a causa de 250.000 mortes nos próximos 15 anos, 25%
delas somente na cidade de São Paulo. A concentração de material particulado no
ar é proveniente em 90% de veículos motorizados e vai levar 1 milhão de pessoas
a se hospitalizarem, causando gastos públicos na casa de R$ 1,5 bilhão.
No Rio de Janeiro, os números são igualmente ruins.
A mortalidade atribuída à poluição do ar no período entre 2006 e 2012 ficou em
31.194 mortes. Já as internações alcançaram 65.102 na rede pública de saúde.
Como resultado, houve um gasto público na ordem de R$ 82 milhões em internações
que poderiam ter sido evitadas caso os níveis de poluição não fossem tão altos.
Em outros países em desenvolvimento os números são
ainda piores. Índia e China disputam o título de países com maiores níveis de
poluição atmosférica no mundo. Um estudo da OMS indicou que a Índia sozinha tem
13 das 20 cidades mais poluídas do mundo. Outro estudo, da Universidade de
Chicago, mostrou que os 660 milhões de indianos mais expostos à contaminação
atmosférica poderiam viver três anos mais se o ar que respiram atendesse pelo
menos aos padrões nacionais.
A combustão de diesel e do carvão estão entre as
principais causas da contaminação do ar. O transporte motorizado, por sua vez,
corresponde a cerca de metade das mortes prematuras causadas pela emissão no ar
de material particulado ambiental nos países da OCDE. A energia proveniente da
queima de carvão é uma das principais fontes de dióxido de carbono, o principal
gás de efeito de estufa responsável pelas alterações climáticas.
“A resolução da OMS chega em um momento crucial
para a humanidade e é importante para chamar a atenção do público e dos
governos para a necessidade imperiosa de combater as causas da poluição
atmosférica conjugada com os esforços para evitar as mudanças climáticas",
diz a Dra. Mariana Veras, Pesquisadora do Laboratório de Poluição Atmosférica
Experimental da USP. "Trata-se de salvar milhões de vidas que se perdem
prematuramente por doenças que poderiam ser evitadas facilmente e, ao mesmo
tempo, evitar o enorme impacto econômico que afeta todos os países, mas particularmente
os mais pobres".
O físico e especialista em energia Delcio Rodrigues
explica que vários dos elementos causadores da poluição atmosférica são os
mesmos que provocam as mudanças climáticas, como por exemplo, o CO2
e outros gases de efeito estufa emitidos pelo uso de combustíveis fósseis. Ele
chama a atenção para o fato de que são os mais pobres, tanto nos países
desenvolvidos como naqueles em vias de desenvolvimento, que sofrem mais os
efeitos da poluição.
"Nos países mais pobres, inclusive, as doenças
e mortes causadas pela poluição atmosférica estão já tão difundidas que acabam
afetando a todas as classes sociais", destaca Delcio. "Contribui para
isso o temor de muitos governos de elevar os custos de monitoramento da
qualidade do ar e de implantação de medidas de contenção e a falta de vontade
política de tomar as medidas necessárias para impedir esta catástrofe."
A própria OMS destaca o fato de que são necessárias
medidas integradas em todos os níveis de governo, do local ao nacional, além de
definições e acordos no âmbito internacional. Cortar as emissões do transporte
urbano, por exemplo, vai envolver prefeitos, planejadores locais e políticas
nacionais trabalhando coordenadamente para investir em fontes de energia
renováveis e que ao mesmo tempo tenham baixa emissão de poluentes.
"Está nas mãos dos governos, em seus diversos
níveis, tomar as ações necessárias para salvaguardar a vida de seus cidadãos,
evitando custos hospitalares e mortes desnecessárias que, além de causar
sofrimento, comprometem o futuro dos países e comunidades", diz Delcio
Rodrigues. "A OMS tem padrões claros para a emissão de partículas
causadoras de poluição do ar, que não são seguidas por muitos países e cidades
tanto nos países em desenvolvimento, como nos ricos."
Os países têm neste ano uma oportunidade preciosa
de partir para a ação e proteger a vida e o futuro de seus cidadãos na medida
em que as Nações Unidas finalizam, em setembro, os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável e o mundo se prepara para a Conferência do Clima, em Paris, no fim
do ano. No âmbito nacional esta conjuntura abre também a porta para conversas e
decisões sobre soluções concretas e relevantes para a vida das cidades e
comunidades, como um planejamento urbano mais verde, uso de energia mais limpa,
códigos que estimulem construções mais eficientes e seguras, entre outras
medidas urgentes e necessárias. (biodieselbr)
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