Aquecimento global deve
extinguir 30% das espécies do planeta até 2050
Segundo
economista, se a temperatura da Terra subir os dois graus previstos, a fauna e
a flora das áreas naturais de todo o mundo estarão ameaçadas.
A
economia mundial deverá definir, de forma urgente, uma estratégia para proteger
os ambientes naturais de forma a garantir a sobrevivência da população e da
biodiversidade do planeta. O alerta foi feito pelo economista e ecólogo, Sérgio
Bessermann Vianna, durante o VIII Congresso Brasileiro de Unidades de
Conservação (CBUC), evento internacional realizado em setembro, em Curitiba.
“A
natureza não se recompõe na mesma velocidade da utilização dos recursos
naturais necessários para viabilizar o aumento da produção de alimentos e de
bens de consumo que a demanda exige. O meio ambiente está no limite para a
entrega de serviços que garantem o bem-estar e a sobrevivência da humanidade”,
afirmou o economista. Segundo ele, o planeta já ultrapassou três dos nove
limites apresentados no estudo ‘Um espaço operacional seguro para a
humanidade’, coordenado pelo pesquisador Johan Rockstrom, da Universidade de
Estocolmo.
De
acordo com o estudo, ‘limites planetários’ são processos que influenciam a
habilidade do planeta de manter seus ecossistemas e processos naturais em
equilíbrio, o que é indispensável para garantir a sobrevivência e a qualidade
de vida das populações. O estudo mapeou nove elementos que são fundamentais
para a sustentabilidade da Terra: controle das mudanças climáticas; (alteração
na) acidificação dos oceanos; interferência nos ciclos globais de nitrogênio e
de fósforo; uso de água potável; alterações no uso do solo; carga de aerossóis
atmosféricos (partículas sólidas ou líquidas que ficam suspensas no ar como
poeira, fuligem e fumaça); poluição química; e a taxa de perda da
biodiversidade, tanto terrestre como marinha. Dos nove, as atividades humanas
já ultrapassaram os limites adequados para três: mudanças climáticas,
biodiversidade e concentração de nitrogênio na atmosfera.
Vianna
afirmou que o uso de fosfatos nitrogenados, base da agricultura moderna,
cresceu de forma assustadora nos últimos seis anos. As consequências disso,
segundo ele, impactam nos oceanos, onde é percebido o aumento das zonas mortas,
áreas onde os níveis de oxigênio sofrem perdas e as espécies marinhas não podem
sobreviver. “Isso é inaceitável”, ressalta.
Uma
solução, segundo o economista, é que a agricultura adote a combinação de
produção e rotação, associada a novas técnicas agrícolas como a agroecologia,
que estabelece relações harmônicas entre a agricultura e o meio ambiente,
buscando a integração equilibrada da atividade agrícola com ações de
preservação.
Para
Malu Nunes, diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário, a Adaptação com
Base em Ecossistemas (AbE) pode contribuir para um aproveitamento mais adequado
e inteligente dos recursos naturais. Apesar de estabelecer parâmetros para as
comunidades se adaptarem às mudanças climáticas, as estratégias de AbE são bons
exemplos que podem ser aplicados para outros fins. “Mexer na microbiota das
raízes das plantas cultivadas para que elas absorvam mais nitrogênio ao invés
de despejarmos toneladas dele para adubar os solos é um bom exemplo de
aproveitamento inteligente dos recursos naturais” disse.
A
Fundação Grupo Boticário lançou em janeiro deste ano o estudo ‘Adaptação
Baseada em Ecossistemas: oportunidades para políticas públicas em mudanças
climáticas’. O modelo prevê o aproveitamento dos serviços ambientais providos
pelos ecossistemas conservados, bem como da sua biodiversidade, como parte de
uma estratégia de adaptação mais ampla para auxiliar as pessoas e as
comunidades a se adaptarem aos efeitos negativos das mudanças climáticas (como
secas e enchentes) em níveis local, nacional, regional e global.
Unidades
de conservação podem se tornar ineficazes
No
que diz respeito à biodiversidade, Vianna enfatizou que 20% a 30% das espécies
vivas conhecidas podem ser extintas até 2050. Parte dessa perda será provocada
pelas mudanças climáticas. Vianna afirmou que, se confirmados, os dois graus
previstos para o aumento da temperatura da Terra colocarão em risco a fauna e
flora das áreas naturais de todo o mundo. “O risco de perda de espécies até
mesmo em ambientes protegidos é alto diante do cenário climático previsto para
os próximos anos”, disse.
Segundo ele, é necessário que o debate sobre o
aquecimento global se amplie e resulte em ações efetivas de prevenção à
biodiversidade. “Dois graus Celsius mudam tudo e significam que a fauna e flora
não estarão mais protegidas mesmo nos parques nacionais. Com relação às
mudanças climáticas, a única questão previsível é que já entramos no território
do imprevisível”. (ecodebate)
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