Brasil pode
reduzir emissão de gases de efeito estufa, dizem especialistas
O
debate sobre o Plano Decenal de Energia 2014, elaborado pela Empresa de
Pesquisa Energética (EPE) e em fase de consulta pública, deveria ser um momento
estratégico para o país reavaliar sua matriz energética.
“O
Brasil deve investir aproximadamente US$500 milhões em infraestrutura
energética na próxima década. A forma como o país escolher alocar esses
recursos pode prendê-lo a uma infraestrutura de uso intensivo de carbono ou
fazer com que avancemos para uma economia de baixo carbono”, alertou Viviane
Romeiro, coordenadora de Clima do World Resources Institute (WRI) Brasil e
membro do Núcleo de Pesquisa em Políticas e Regulação de Emissões de Carbono
(NUPPREC) do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo
(USP).
O
caminho para uma economia de baixo carbono exige que o Brasil acelere a transição
para fontes renováveis e amplie a eficiência energética, investindo
prioritariamente em fontes renováveis modernas, como energia solar e eólica, e
ampliando a meta de participação da energia renovável de 20% para 30% em 2030.
A recomendação consta do relatório Oportunidades
e desafios para aumentar sinergias entre as políticas climáticas e energéticas
no Brasil, elaborado pelo WRI e pela USP, com propostas de medidas para
políticas voltadas à redução de emissões de gases do efeito estufa pelo país, apresentado
na segunda-feira (21/09), em São Paulo (SP).
De
acordo com o estudo, a porcentagem de energias renováveis na matriz energética
brasileira vem caindo. De 2009 a 2014, a participação diminuiu de 47% para
39,4% – ainda superior à média mundial, de 13%, mas com tendência de continuar
a cair se o investimento majoritário for para os combustíveis fósseis, como é
previsto.
O
relatório do WRI alerta que o Plano Decenal de Energia do governo federal,
referente ao período de 2014 a 2023, prevê a destinação de mais de 70% dos
investimentos no setor para os combustíveis fósseis. Somente 22% dos recursos
iriam para energias renováveis.
Para
que o país caminhe para uma economia de baixo carbono é preciso mudar sua
matriz de energia e ampliar o impacto de políticas relacionadas ao uso de
energia nos principais setores de emissão: transporte, indústria e geração de
energia elétrica. Atualmente, o Brasil é o sétimo maior emissor de gases do
efeito estufa.
Sabemos
onde reduzir as emissões e onde estão os maiores impactos do setor energético:
no consumo de combustíveis fósseis para geração de eletricidade, para os
transportes, para as indústrias e, indiretamente, para o consumo induzido pelas
edificações comerciais e residenciais ao utilizarem energia e gás”, disse Oswaldo
Lucon, membro do IEE e um dos responsáveis pelo relatório.
Entre
as medidas recomendadas estão o aumento da economia de combustíveis e o
investimento na transição para transportes de baixo carbono, a oferta de
incentivos para eficiência industrial, a conciliação das políticas energéticas
e climáticas e o fortalecimento do processo de planejamento com as políticas
nacionais e internacionais.
O
estudo recomenda também que o país priorize fontes modernas de energias
renováveis, especialmente as energias eólica e solar, ao mesmo tempo em que
enfrenta os desafios apresentados pelos projetos hidrelétricos de larga escala.
José
Goldemberg, presidente da FAPESP, destacou que as medidas apresentadas para o
cenário de energia brasileiro contribuem para a definição de alternativas
sustentáveis, permitindo que o país desse um salto de desenvolvimento.
“Inovação e competitividade na indústria exigem ideias novas e há uma
expectativa muito grande sobre o que o Brasil vai fazer a respeito. É preciso
que cada país faça proposições na direção do progresso”, afirmou.
Ele
destacou, na ocasião, o papel que a ciência pode exercer no processo gradativo
de diminuição do impacto desses setores, especialmente nos processos
industriais.
“Entre
os motivos que levam a China, por exemplo, a buscar alternativas está a
necessidade de modernização da indústria, e isso passa pela utilização de
tecnologias que reduzam as emissões. Há uma compreensão de que isso é de
interesse do próprio processo de produtividade e a FAPESP tem condições de
apoiar projetos da indústria que necessitem e exijam desenvolvimentos de
natureza científica ou tecnológica, modernizando suas atividades.” (ecodebate)
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