Meta de zerar desmatamento até 2030 deveria ser antecipada,
dizem especialistas
A
contribuição brasileira que será levada à 21ª Conferência das Partes da
Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima (COP21), em dezembro, em Paris, foi
considerada em muitos aspectos um avanço por especialistas, que destacaram, no
entanto, que a meta de zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030 deveria
ser antecipada.
A
Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada, conhecida como INDC,
apresentada em 27/09/15 pela presidenta Dilma Rousseff na Cúpula das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, pretende diminuir as emissões de
gases de efeito estufa em 37% até 2025 e em 43% até 2030, tendo 2005 como
ano-base. Para isso, o país prevê, entre outras ações, chegar ao fim do
desmatamento ilegal em 2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares,
recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e integrar 5 milhões
de hectares de lavoura, pastagem e pecuária.
Para
o pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa Ambiental (Ipam), Paulo Moutinho,
a Amazônia já está sofrendo sérias alterações com áreas atingidas por secas
severas. “Não dá para esperar até 2030 para zerar o desmatamento. O governo
sabe que tem condições para uma antecipação bastante considerável dessa meta.
As alterações já ocorrem na Amazônia devido à combinação de desmatamento com a
influência da mudança climática global. É preciso fazer um esforço com a
sociedade de cumprir essa meta muito antes do que está anunciado”.
O
coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do
Observatório do Clima, Tasso Azevedo, disse que a proposta brasileira não
contempla a meta de zerar o desmatamento em outros biomas, como o Cerrado, que
vem sofrendo forte degradação, o que, para ele, é um ponto falho na INDC.
Segundo
o diretor de Departamento de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio
Ambiente, Adriano Santhiago, o governo incluiu apenas a Amazônia na INDC porque
o sistema de monitoramento por imagens de satélite está mais desenvolvido para
o bioma. Ele ressaltou que a meta de zerar o desmatamento pode ser antecipada.
“Fizemos uma proposta ambiciosa, mas que dialogasse com a realidade do país”.
“Ainda
falta desenvolver o sistema de monitoramento nos outros biomas. O Cadastro
Ambiental Rural vai ajudar no monitoramento dos outros biomas, estamos com 70%
das propriedades já cadastradas no sistema”, acrescentou Santhiago.
Tasso
Azevedo destacou que, no contexto internacional, a contribuição brasileira é
muito importante. “É um país em desenvolvimento com metas de redução de
emissões absolutas. O principal problema hoje é mover os países para metas
absolutas, para poder ter um número de emissões. O Brasil está puxando a
discussão para outro patamar porque constrange a China, a Índia e outros países
a ter que pensar sua INDC de outra maneira”.
Os
especialistas participaram na tarde de ontem do seminário COP 21 em Pauta,
promovido pelas organizações Andi e Climate and Land Use Alliance. (ecodebate)
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