Chama
a atenção o silêncio tumular dos ruralistas diante da crise da água brasileira.
Ela está vinculada ao desmatamento, a erosão da biodiversidade e a compactação
dos solos. O ciclo das águas é uma teia de relações complexas que permite sua
fluência e a existência da vida.
Havia
um Código Florestal que defendia as áreas de florestas necessárias para
preservar o ciclo das águas. Mas, ele não era obedecido. Como a desobediência
dos ruralistas – e imobiliárias – eram crimes, então mudaram o código para que
suas ações não fossem mais motivo de punição.
Hoje
cientistas dizem que grande parte do ciclo das águas brasileiras tem origem na
evapotranspiração da floresta Amazônica (Antônio Nobre), mas que depende do
Cerrado para penetrar no solo e abastecer os aquíferos que sustentam grande
parte da malha hídrica brasileira que se origina no Planalto Central (José
Alves da UNIVASF e Altair Salles da PUC/Goiânia).
Ora,
o setor ruralista está quebrando a dinâmica da floresta Amazônica e compactando
o Cerrado pela força do desmatamento. O Cerrado não tem poder de regeneração.
Kátia
Abreu disse que “desmatamos por uma das agriculturas mais produtivas” (UOL,
15/12/15). Portanto, assume que desmata, portanto, que quebra o ciclo de nossas
águas.
Aqui
no vale do São Francisco há uma guerra surda entre os vários setores da
produção – principalmente irrigação e energia – pelo que resta de água no São
Francisco. Entretanto, o São Francisco é um rio dependente do Cerrado. Sem os
aquíferos do Cerrado, particularmente o Urucuia, não existe São Francisco.
Então,
senadora, a equação não fecha. Sem água não há agricultura, mas sem vegetação
não há água. O equilíbrio entre todos esses fatores que o agronegócio desconhece
ou ignora. Mas, quem no mundo ruralista está disposto a pensar a atividade
agrícola na sua complexidade de fatores e não de forma simplista em favor de
uma economia imediatista?
Não
há agricultura sustentável sem a permanência das florestas, sem a preservação
dos solos e do ciclo das águas.
O
silêncio ruralista sobre a crise da água não é casual. (ecodebate)
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