Um
mar de água doce mexeria com todo o clima da Terra – e com nossa vida também. O
planeta teria mais geleiras, poderia abrigar menos pessoas e nós seríamos mais
deprimidos. A parte boa dessa coisa toda é que não faltaria água para beber e,
talvez, o homem inventasse mais.
As
mudanças seriam tão grandes quanto o volume de sais que existe no mar: hoje, se
os oceanos secassem, o planeta poderia ser coberto por uma camada de sal com
150 metros de espessura! A maior parte é sal de cozinha (cloreto de sódio). O
resto são sais de enxofre, magnésio, cálcio e potássio, entre outros.
O
sal é um dos fatores que determinam a movimentação das correntes marítimas – os
outros são a temperatura e os ventos. A água do mar com menos sal (menos densa)
corre sobre a água com mais sal (mais densa). “Se toda a água fosse doce,
provavelmente haveria menos movimentação nos oceanos”, afirma o oceanógrafo
Belmiro de Castro Filho, da USP.
E
daí? O problema é que o Sol aquece a Terra principalmente pela região do
Equador. São os ventos e as correntes marítimas que distribuem o calor para os
polos – e o frio para o Equador. A corrente do Golfo (quente), por exemplo,
garante que a Inglaterra não seja um bloco de gelo. E a corrente do Peru (fria)
permite a boa pesca no litoral do Chile. Com as correntes mais fracas, as zonas
frias seriam mais frias e as quentes, mais quentes. Haveria também mais
geleiras. “O clima geral da Terra ficaria mais frio e seco”, diz a pesquisadora
Leila de Carvalho, do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP. Isso porque o
gelo reflete diretamente a radiação solar – e a Terra é aquecida pelos raios
absorvidos pelo solo e pela água.
Um
consolo nisso tudo: a ecologista Gisela Shimizu, da USP, acha que o frio, por
obrigar as pessoas a ficar em casa sem ter o que fazer, poderia estimulá-las a
exercitar a criatividade. Quem sabe, vivendo num planeta mais gelado, o homem
pensasse mais.
De volta à Era Glacial
A Terra hoje
Zona Tropical - Entre o trópico de Câncer (norte) e o
de Capricórnio (sul).
Zonas temperadas - Entre os trópicos e os círculos
polares Ártico (norte) e Antártico (sul).
Zonas polares - Além dos círculos polares.
Gelo a perder de vista
A água do mar, salgada, congela a -2°C. Se fosse
doce, congelaria a 0°C. Por isso, haveria mais gelo no mar. O oceano, que hoje
é congelado acima da latitude 70°, passaria a ter geleiras até a latitude 60°.
Com isso, a América, Ásia e Europa estariam unidas por placas de gelo, no Polo
Norte. E a Antártida ficaria mais próxima da América do Sul, da Austrália e da
África.
O mar vai virar sertão
Mais geleiras significam um oceano com nível mais
baixo. Assim, os continentes teriam mais pedaços de terra descobertos, ou seja,
seriam maiores. Algumas ilhas submersas emergiriam e outras seriam ligadas a
continentes – Indonésia e Japão, por exemplo, fariam parte da Ásia continental.
O mar Vermelho secaria completamente.
Marrom da cor do mar
As espécies exclusivamente marinhas não existiriam. Os
corais, por exemplo, necessitam dos minerais presentes nos sais marinhos. E as
espécies mais coloridas, como certos peixes e invertebrados, são assim para se
camuflar nos corais. A vida nos oceanos seria mais parecida com a dos lagos,
onde o chão é lodoso. A cor dominante seria, portanto, o marrom.
Aridez na Amazônia
Quando a Terra tinha mais geleiras, chovia mais no
deserto do Saara, onde viviam até dinossauros. Isso leva a crer que, num mundo
de água doce, o Saara seria mais úmido e teria mais plantas e animais. Por
outro lado, a Amazônia é tão frágil e seu solo, tão pobre que a floresta não
sobreviveria ao aumento da temperatura no Equador, e viraria um deserto.
Menos comida, menos gente
Com clima geral mais frio e seco, a capacidade de
produzir alimentos diminui. O número de pessoas na Terra é limitado pela
quantidade de comida disponível, então seria menor. Provavelmente o homem teria
desenvolvido mais formas de viver em ambientes gelados e um meio de transporte
eficiente na neve, para ir facilmente da Europa à América pelo Polo Norte.
É 8 ou 80 no clima do planeta
Com menos correntes marítimas, a tendência é que
o calor seja menos distribuído. Assim, a região do Equador seria ainda mais
quente e as zonas temperadas, mais frias. No geral, as zonas glaciais
avançariam até 10o de latitude sobre as zonas temperadas, que encolheriam. Da
mesma forma, as zonas tropicais cederiam alguns graus para as regiões
temperadas. (super.abril)
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