Mudanças
Climáticas – No chamado “Corredor Seco”, que vai do sul do México até o Panamá,
secas que normalmente não excediam 20 dias agora duram mais do dobro; estudo
aponta que jovens de áreas rurais com até 24 anos formam maior parte de
migrantes da região.
ONU News
A
cidade de Katowice, na Polônia, recebe a Conferência das Partes da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP24.
Líderes mundiais trabalham num plano coletivo para colocar em ação os
compromissos assumidos por todos os países do mundo em Paris, em 2015.
Bem
distante do continente europeu, comunidades do chamado “Corredor Seco”, na
América Central, convivem diariamente com os efeitos provocados pelo tema central
da conferência.
Honduras, 24 de maio de 2018.
Esta micro bacia no Corredor Seco de Honduras foi muito menor há alguns anos,
principalmente devido ao desmatamento. O Corredor Seco não é um deserto, mas é
propenso a secas às vezes severas. É por isso que é importante.
Seca
Na
região, que vai do sul do México até o Panamá, as cores predominantes no
cenário são o amarelo e o marrom. A terra é ressecada e nas plantações de milho
é possível ver pequenas espigas murchando sem terem se desenvolvido
completamente.
Para
os moradores da região a mudança climática já é real e segundo o Programa
Mundial dos Alimentos, PMA, a escolha que restou foi a de se adaptar à mudança
do clima ou partir.
Chuva
Na
região, as espigas de milho significam vida para os agricultores. Mas as
plantações, assim como as de outros produtos básicos como o feijão, dependem da
chuva e nos últimos anos, ela não chega com a frequência necessária.
De
acordo com o PMA, com a combinação do El Niño, períodos de seca que normalmente
duravam 20 dias agora chegam a 50 dias. Em 2018, a quantidade de chuva mais
baixa do que as médias para os meses de junho e julho levaram a perdas de 280
mil hectares de feijão e milho, afetando mais de 2 milhões de pessoas de
Guatemala, El Salvador e Honduras.
Plantações
O
monitor de campo do PMA na área, Marco António Mérida, explicou que a “seca
prolongada pode levar a perdas de até 100%” das plantações. Para piorar a
situação, o mês de outubro trouxe enchentes fatais e desabamentos de terras
provocados por tempestades tropicais.
O
PMA aponta que os eventos extremos se tornam mais frequentes e intensos, e em
combinação com os efeitos da degradação da terra e da infestação de pragas,
estão deixando a vida ainda mais difícil nas comunidades rurais do Corredor Seco.
Sem comida suficiente para alimentar as famílias, muitos estão deixando as
terras.
O
agricultor Héctor Ramírez, de 50 anos, perdeu toda a plantação que tinha na
Guatemala e teve que ir procurar trabalho no norte do país. Ele contou que foi
“triste deixar para trás as crianças e a esposa, mas que não teve escolha
porque precisava ganhar o pão de cada dia”.
Uma mulher de Sinaneca se envolve
ativamente na construção da represa que fornecerá água para a comunidade. Ela
guia os burros que carregam materiais de construção, como areia e pedras, até o
canteiro de obras.
Estudos
Um
estudo de 2017, publicado pelo PMA, analisou dados de migrantes de El Salvador,
Guatemala e Honduras que tentavam chegar aos Estados Unidos, mas que foram
forçados a retornar pelas autoridades mexicanas. A pesquisa constatou que 50%
deles trabalhavam no setor agrícola antes de decidirem deixar suas casas.
A
agência da ONU destaca que ao contrário da percepção comum que a migração
nestes países é gerada pela violência e insegurança, 65% dos entrevistados
citaram o desemprego e as dificuldades econômicas entre as razões para
migrarem, e 19% a baixa renda e as más condições de trabalho.
Pacto Global
Outro
estudo apresentado esta semana em Marrocos, durante a conferência que adotou o
Pacto Global para Migração Segura, Ordenada e Regular, destaca que os jovens
com menos de 24 anos de áreas rurais da região formam a maior parte dos
migrantes da América Central.
O
Atlas para Migração no Norte da América Central indica que entre os anos de
2000 e 2012, o número de pessoas dos países da área que passaram a viver num
local diferente de onde eles nasceram aumentou em 59%.
O
documento foi produzido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação, FAO, e pela Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe, Cepal.
Agricultores precisam encontrar
novas formas e maneiras mais eficientes de produzir alimentos.
Migração
A
secretária Executiva do Cepal, Alicia Bárcena, apontou que “hoje a migração é
mais complexa do que nunca na América Central.” A comissão destacou que a
pobreza, o desemprego, os fatores familiares, a violação de direitos, a
violência, o crime e a vulnerabilidade às mudanças climáticas estão entre as
principais causas da migração na América Central.
Bárcena
acrescentou que “em Honduras, o porcentual da população rural que vive na
pobreza é de 82%, na Guatemala 77% e em El Salvador 49%”.
COP24
Para
o PMA, as negociações que ocorrem na COP24 são extremamente importantes para as
comunidades no mundo, que assim como os habitantes do Corredor Seco são
afetadas pela incerteza crescente do tempo que permite com que produzam os
alimentos para sobreviver.
Com
o apoio da União Europeia e a colaboração dos governos de El Salvador,
Guatemala, Honduras e Nicarágua, o PMA tem ajudado as comunidades a se tornarem
mais resilientes à mudança climática. As iniciativas incluem a criação e a
recuperação de recursos, além da diversificação de plantações e fontes de
renda. (ecodebate)
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