Os dados mostram que os níveis de degelo do início
de 2019 na Antártida estão batendo todos os recordes históricos.
O
ano de 2019 começa com recorde de degelo nos polos. Depois de cinco anos sucessivos (2014, 2015, 2016, 2017
e 2018) de recordes de temperaturas globais, fato sem precedentes no Holoceno
(últimos 12 mil anos), a deglaciação cresce e tende a aumentar o nível dos
oceanos, além de liberar o dióxido de carbono e o gás metano que estão presos
sob o gelo, retroalimentando o fenômeno do aquecimento global.
A
tendência de perda de gelo é clara ao longo dos últimos 40 anos. As curvas do
gráfico acima tem uma distribuição bimodal, pois o hemisfério Norte tem pico de
gelo entre fevereiro e março, quando o hemisfério Sul está no vale (mínimo de
gelo). O máximo do gelo global acontece entre outubro e novembro. Seguindo as
curvas anuais (todas com este mesmo tipo bimodal de distribuição), nota-se que
elas mostram uma tendência de queda em relação à média de 1981-2010, embora
haja oscilações anuais de curto prazo diferentes da tendência de longo prazo.
Todavia,
chama a atenção que o padrão de queda na extensão de gelo, desde setembro de
2016, não tem paralelo nos últimos 40 anos, quando se começou as medidas por
satélite. A curva de 2016 sofreu uma queda abruta no último trimestre do ano
(outubro a dezembro) e continuou batendo recordes de baixa nos dois primeiros
meses de 2017 e 2018. Embora tenha havido variações mensais, o processo de
degelo voltou a bater recordes no final de 2018 e no começo de 2019.
O
derretimento do gelo marinho vem acontecendo de forma mais abrangente no
Ártico, mas preocupa mais na Antártida que possui grandes plataformas
congeladas sobre o continente. Na média de 1981-2010, na Antártida, a área
congelada foi de 7,19 milhões de km2 no dia 01 de janeiro de cada
ano. Mas no dia 01/01/2019, a área com gelo foi de 5,47 milhões de km2,
uma diferença para menos de 1,73 milhão de km2 (superior a toda a
área da região Nordeste do Brasil de 1,56 milhão de km2). A seguir
essa tendência, parece que o verão do hemisfério sul vai reduzir a quantidade
de gelo marinho para o nível mais baixo do Holoceno. Isto pode ser um presságio
de uma grande catástrofe ambiental a acontecer num futuro não muito distante.
A
região congelada sobre a água do mar protege parcialmente o bloco de gelo
continental da Antártida de entrar em colapso e cair no mar. Por exemplo, o
tempo em que a Plataforma Ross está desprotegida do gelo no mar se ampliou e,
em 2019, aconteceu de maneira mais precoce: no dia de Ano Novo. O gelo marinho
vai continuar diminuindo durante todo o mês de janeiro e fevereiro, podendo
continuar diminuindo até início de março. Isto faz com que a energia das ondas,
à medida que se infiltra no interior continente, cause fraturas e estresse nas
plataformas que estão congeladas por milênios na Antártida.
Iniciado
o processo de faturamento das plataformas, seria apenas uma questão de tempo
até que as enormes geleiras terrestres da Antártida Ocidental, como as geleiras
de Doomsday em Thwaites e Pine Island, colapsem, elevando o nível do mar em até
3 metros e inundando grande parte de todas as cidades costeiras do Planeta.
Também na Antártica Oriental, pesquisadores alertaram que a Geleira Totten, uma
enorme camada de gelo com volume suficiente para elevar o nível do mar em pelo
menos 3,5 metros, parece recuar, graças ao aquecimento das águas oceânicas.
Recentemente se descobriu que um grupo de quatro geleiras a oeste de Totten,
além de um punhado de pequenas geleiras mais ao leste, também está perdendo
gelo.
O
nível do mar já está subindo nas últimas décadas e é cada vez maior as áreas
litorâneas do Brasil afetadas pelo avanço do mar. São inúmeros casos, como os
que ocorreram na Praia da Macumba, na Zona Oeste do Rio, que perdeu parte do
muro de contenção colocado pela prefeitura e grandes trechos da calçada
desabaram com a força das ondas; destruição de várias casas na Baía da Traição,
no litoral de Paraíba; e, no início de 2019, várias casas foram impactadas na
praia Barra de Cunhaú, no município de Canguaretama, a 75 quilômetros de Natal,
onde três mil moradores estão ameaçados de inundação e a prefeitura decretou
situação de emergência.
O
fato inexorável é que o aumento das emissões de gases de efeito estufa (a
queima de combustíveis fósseis, liberação de gás metano na pecuária, etc.)
eleva a temperatura da atmosfera e dos oceanos e aumenta o degelo global,
acelerando a subida do nível dos oceanos. O degelo total dos polos e dos
glaciares poderia provocar a elevação do nível dos oceanos em algo como 70
metros. Mas apenas 5% de degelo já seria suficiente para elevar as águas
marinhas em mais de 3 metros, fenômeno capaz de provocar grandes danos.
Artigo
de Paul Voosen, publicado na revista Science (21/12/2018) mostra que há cerca
de 125 mil anos, durante o último breve e quente período entre as eras
glaciais, a Terra foi inundada, com as águas subindo de 6 a 9 metros em relação
ao padrão atual. As temperaturas durante esse período (Eemiano), eram pouco
maiores do que as temperaturas atuais. A fonte de toda a água que inchou os
oceanos foi o colapso do manto de gelo do oeste da Antártida. Os glaciologistas
se preocupam com a estabilidade atual dessa formidável massa de gelo. Sua base
está abaixo do nível do mar, sob o risco de ser prejudicada pelo aquecimento
das águas oceânicas, sendo que as geleiras em franjas estão recuando
rapidamente.
A
partir de uma amostra extraída de um núcleo de sedimentos, o artigo fornece
evidências de que o manto de gelo desapareceu no passado geológico recente sob
condições climáticas semelhantes às atuais. O período Eemiano não é um análogo
perfeito, já que seus níveis do mar provavelmente foram impulsionados por
pequenas mudanças na órbita da Terra e no eixo de rotação. Mas as evidências
sugerem que o recente degelo na camada de gelo é o começo de um colapso
similar, ao invés de uma variação de curto prazo.
Os
dados do National Snow & Ice Data Center (NSIDC) mostram que os níveis de
degelo do início de 2019 na Antártida estão batendo todos os recordes
históricos. Pelo princípio da precaução a humanidade deveria se preocupar com a
elevação do nível dos oceanos.
Há cerca de dois bilhões de pessoas que vivem a menos de dois metros do nível
do mar no mundo.
Se
a história do Eemiano se repetir, áreas agricultáveis e áreas urbanas
densamente povoadas ficariam debaixo d’água, elevando a probabilidade de
aumento da fome, da pobreza, dos refugiados climáticos e, até mesmo, de um
colapso civilizacional. (ecodebate)
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